Capítulo 4

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"Uma inquietação enorme fazia-me estremecer os gestos mínimos. Tive receio de endoidecer, não de loucura, mas de ali mesmo. O meu corpo era um grito latente. O meu coração batia como se falasse." - Fernando Pessoa em "O livro do Desassossego"


P.O.V Alicia

Estava a tomar banho quando a Lilian bateu à porta do quarto e eu dei licença de entrada. Assim que saí da casa de banho, encontrei-a deitada na minha cama a encarar o teto completamente alheia ao que se passava em redor.

-Que se passa, Lili? - Ela não respondeu.

Vesti o meu pijama e deitei-me ao lado da minha irmã que permanecia encurralada na sua própria mente.

-Lili? Lili!! - Abanei as mãos à frente dos olhos dela, despertando-a do transe em que se encontrava. - Que se passa?

-Desculpa, estava distráida.

-Eu reparei nisso. Vá, conta aqui à tua maninha o que tens.

-Lembraste daquele meu colega da SeadeLux com quem fui tomar café? - Procurei na minha mente essa memória.

-O rapaz do departamento financeiro?

-Sim, o Adam. Bem, hoje fomos almoçar juntos... -Deitei-me de lado para poder olha-la.

-E então?

-Então? Ele é simpático e pronto... é isso.

-Ah por favor, Lilian! Estás interessada nele!

-Eu? Estás doida Ali? - Ela corou

-Lili, tu coraste! Aw a minha mana mais velha está apaixonada! - A Lilian sorriu, revirando os olhos.

-O amor não funciona assim Alicia. O amor não é como nos livros. Ele não aparece depois de um café ou de um simples almoço. O verdadeiro amor constrói-se, tijolo por tijolo.

O amor não é como nos livros? Então, como é?

Eu sempre vi o amor como um sentimento arrebatador. Algo que nos tira a respiração, que nos faz sentir borboletas no estômago. Para mim, o amor sempre foi o sentimento que movia o mundo que vencia guerras. Amar era dar tudo o que tínhamos e ainda querer dar mais. Era ficar feliz com o sorriso do outro, acordar a pensar em alguém e dormir a sonhar com a mesma pessoa. Amar era muito melhor que um livro de John Green ou uma caneca de chocolate quente num dia de inverno. E caramba é realmente difícil encontrar algo melhor que isto. Contudo, parece que estava enganada.

Afinal o amor não acontece, constrói-se. Talvez seja por isso que nunca o senti, apesar de ter sonhado com ele ao longo de todos estes anos. Talvez nunca tenha encontrado devido ao meu medo de estar presa ou então, porque eu não sou boa a construir coisas, mas sim a destruir. Eu caio de escadas, despejo chocolate quente em cima de rapazes com cara de anjo. Como poderia eu construir algo tão bonito como o amor?

-Queres dormir comigo? - A Lili sorriu e assentiu com a cabeça.

Peguei nos cobertores e tapei os nossos corpos. Aos poucos os meus olhos ficaram pesados até que, por fim, fecharam por completo.


[...]


De manhã, a Lilian já não estava deitada ao meu lado. Ainda de pijama, desci as escadas e encontrei a minha mãe já vestida e maquilhada. Era incrível. Eu, sinceramente, sempre achei que ela tinha um armário mágico no qual ela entrava despenteada e desmaquilhada e saía, segundos depois, tão arranjada como as modelos dos anúncios televisivos. Talvez eu devesse dar uma espreitadela no armário dela...

Once in a LifetimeWhere stories live. Discover now