Capítulo 35

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"Sozinhos somos capazes de tão pouco, mas juntos fazemos tanto." – Helen Keller.

P.O.V Alicia

Às nove horas e trinta minutos já estávamos em Manchester e, cinco minutos depois, o táxi deixava-nos numa zona suburbana nos arredores da cidade.

Saí do automóvel e olhei ao meu redor. Facilmente encontrei uma série de semelhanças a Holmes Chapel, desde a arquitetura das casas à pacatez das ruas. Sem dúvida o oposto de Nova Iorque.

Eu e o Harry começamos a caminhar lado a lado pelos passeios largos, enquanto procurávamos por uma velha moradia com um ar principesco que, segundo a minha mãe, ficava no final da rua onde estávamos.

-Só pode ser aquela. – Comentei com os olhos numa casa ladeada por um pequeno jardim com uma trepadeira a subir-lhe pelas paredes. Era velha, precisava de ser restaurada, mas de certa forma tinha um ar mágico que nos fazia lembrar da Branca de Neve.

Dei a mão ao Harry e comecei a puxa-lo a passos largos pelo resto da rua até que nos parei diante do pequeno portão de metal. Ao lado uma placa enferrujada exibia o número 396.

-É mesmo esta.

Procurei por uma campainha, mas não havia nenhuma.

-Entramos? – Perguntou o Harry, deitando a mão ao portão.

-É melhor chamarmos primeiro. – Ele assentiu. – Está alguém em casa? Senhora Williams?

Como não obtivemos nenhuma resposta, eu pensei desistir e tentar mais tarde, mas o Harry abriu o portão e entrou, indo em direção à porta principal da casa. Eu segui-o e permaneci ao lado dele, quando ele fechou a mão e bateu repetidamente na porta de madeira desgastada.

Mais uma vez, não houve qualquer sinal de que alguém estivesse dentro da casa. O Harry voltou a bater e eu olhei para as janelas acima de nós, procurando alguém por entre as cortinas rendadas.

-Vamos, Harry. É melhor voltarmos mais tarde.

Um pouco desanimados, viramos costas e preparamo-nos para sair, no entanto o som grave da porta a ser aberta chamou-nos a atenção. À nossa frente apareceu uma mulher baixinha e de idade avançada. Tinha os cabelos brancos pequenos e encaracolados, estava coberta de rugas e trazia um vestido às flores antiquado, mas amoroso.

-Em que posso ajudá-los?

-Olá, bom dia. Eu chamo-me Alicia e este é o Harry. Estamos à procura de uma senhora chamada Daisy Williams.

-Sou eu. – A pequena mulher olhou-nos desconfiada. – Que precisam de mim? Eu penso que não vos conheço.

-Não, a senhora não nos conhece, mas sei que conhece a minha mãe. Marcie Evans? Ou talvez pelo nome de solteira, Marcie Young.

Seguiu-se um breve momento de silêncio em que a Senhora Daisy me olhou de cima abaixo várias vezes, não de uma forma crítica, mas procurando semelhanças com a minha mãe. Por fim, ela sorriu e pediu que a seguíssemos.

A casa por dentro era ainda mais bonita. Toda a mobília era antiga, assim como os vários quadros pendurados nas paredes. Percorremos o largo corredor até que no fim entramos numa grande divisão que servia simultaneamente de sala de estar e de jantar. Também aqui a decoração relembrava a época vitoriana. Em cima de um móvel do lado direito estava um gramofone que preenchia a sala com melodias do século XIX. Todo o ambiente parecia fora da nossa realidade, mas por esse mesmo motivo fazia-me gostar bastante.

-Disseste que és filha da Marcie? – Perguntou-nos a Daisy, enquanto nos servia uma chávena de chá a cada um.

Tipicamente inglês.

Once in a LifetimeWhere stories live. Discover now