Das trinta e oito mulheres
que passaram pela roleta
do ônibus,
me apeguei a quase todas
aquele lugar estratégico
bem ao lado da roleta
sentado e olhando para todas
e sendo olhado por algumas
que mantinham o olhar por
dois ou três segundos
pensando que tipo de pervertido
eu era, bom, sou como qualquer
um, não como qualquer pervertido
só que dessa vez não era nada discreto.
Eu te vi de cima a baixo,
pele clara, aliás, como você consegue
se manter tão clara com esse
sol todos os dias?
Você já pensou que se tivesse falado
comigo eu provavelmente
iria gaguejar e não saber como tirar
meus olhos dos seus lábios
pintados de vermelho?
Enquanto você se mantinha ali de pé
com os olhos em minhas tatuagens
pensando que tipo de guri eu poderia
ser na sua vida
ou pensando nas compras de natal
que a mãe está fazendo no caos
que está o Centro da cidade
Ainda prefiro pensar que imaginava que tipo
de guri eu era, ali, olhando as vezes para seu rosto
fingindo olhar a rua do
outro lado
mas com você ali a rua
continuava sendo o mesmo
lugar de sempre.
Olhava para seu rosto
- e também para seu corpo-
e para os seus malditos
lábios cor de vinho
que tipo de pessoa
acha que é para sair pela
rua fazendo qualquer um
imaginar coisas que não levam a lugar
algum?
E mesmo sem se tocar que
algum dia ficou na cabeça
de alguem você imagina
que não me lembro
nem dos teus olhos cor
de...
Depois de estar em minha
casa entre as paredes e
os olhos que tento
criar na minha
solidão, eu penso que
poderia te ver no feriado
que vem.
Mas isso nunca
vai
acontecer.
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O que fazer dessa Saudade?
PoetryContos e Poesias de amor, drogas, noites insalubres, e um ser atormentado pela Saudade. Escrito por João Paulo Sousa. Texto e poemas de 2013, 2014, 2015. Ficção, qualquer conhecidencia com a realidade é pouca. Mais histórias no instagram @autofagia_