Não tenho ficado muito
em casa
não venho permanecendo em
lugar algum
as vezes me encontro num
desencontro entre eu e você
ou você e você mesma
quase nunca estou no meio
das estrelas ou entre
o chão e o céu.
Venho caminhando pelas ruas
com os braços cruzados e
alguns sonhos embaixo
dos sapatos
seguindo rastros que não foram
deixados
olhando o céu e sentindo
o corpo se inundar das chuvas
repentinas.
Num quarto na parte imunda
da cidade
onde os corações se inundam
em visões e ácidos
hoje gastei algumas horas e algumas
moedas na esperança de
ter paciência até a chuva
transbordar o copo de
café fraco e molhar as páginas
com alguma cor além
de nós - ou eu mesmo e um
pouco de você no dia
de ontem.
Obtenho alguns fáceis desvios
rotas e placas de "pare"
cartas e abusos em papel - você crê?
planos planos em um
espaço plano que por razões
metafísicas sobem e
descem.
Ontem eu estava jovem
hoje estou mais ainda
escuto as inúmeras risadas saídas
da televisão do quarto ao
lado
e um copo com uísque ou
conhaque se chocar contra a
fina parede de madeira que separa
meu amor do amor
ao lado.
A mulher não para de gritar
e chorar e jogar coisas
contra a parede
o homem com quem ela
estava algumas horas atrás
me pediu um cigarro e eu
pedi o isqueiro.
Não sou tão diferente
do que ele é.
Será que a mulher que acabou
de cortar as mãos nos cacos
da garrafa de uísque ou
conhaque e sentada próximo
de minha porta
é tão diferente da mulher
que preenche o copo
que nunca transborda?
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O que fazer dessa Saudade?
PoetryContos e Poesias de amor, drogas, noites insalubres, e um ser atormentado pela Saudade. Escrito por João Paulo Sousa. Texto e poemas de 2013, 2014, 2015. Ficção, qualquer conhecidencia com a realidade é pouca. Mais histórias no instagram @autofagia_