Esse sol está tão difícil que o caminho para comprar um cigarro se tornou uma tortura e o calor que sai da brasa não é tão quente quanto o asfalto que quase derrete a sola de meu sapato, o mais triste é lembrar que hoje a chuva vai surgir a noite e fará marcas no chão de terra, isso não é triste, mas soa como algo melancólico, e de acordo com meus cálculos meu dinheiro livre não passa de dois reais, talvez quatro cigarros, ou seis palheiros, e dois cigarros ou palheiros no centro da cidade, e um terço de cachaça, se bem que a velha do bar não vende um terço de cachaça, e a dose não é um e cinquenta, com um pouco de sorte posso beber sem gastar um único centavo, e com um pouco menos de sorte posso fumar um baseado gastando somente uma de minhas sedas de enrolar, se bem que com Anthony tenho uma quantidade "boa" de maconha, porém isso é para uma viagem de amanhã, com um pouco de azar posso ir pra rua e ouvir somente canções tocadas por Carl, não que sejam ruins essas músicas, é que se eu vou pra rua e acabo do mesmo jeito que ficaria na cama, é melhor continuar na rua, no entanto essa punhetação acaba com qualquer um, caso eu for para o Centro hoje, vou olhar a mesma guria que anda com os caras que acho que ela não deveria andar, afinal, com eles a noite não passa de latas de cerveja, comigo as vezes não chega a isso, o caso é que sempre fico a beira da morte mesmo sem risco de levar um tiro, e sobre as escadas posso ficar a noite toda sem dizer uma única palavra e também posso mentir sobre o amor com uma mulher ou homem, o pior de tudo é escutar Ann falando, mesmo que quase sempre falo com ela, mas, li em algum lugar que todos carregam uma pessoa que acaba com seus dias e mesmo assim não da pra afastar dela, acho que Ann é essa pessoa de muitas outras pessoas e em especial de Carl, e também penso que vou acabar gritando aos ventos o quanto quero sair do mesmo lugar, acho que já me encontrei e não gostei nem um pouco do que vi e escutei, quero me perder e nunca mais me encontrar, essa coisa de " onde você quer chegar com essa loucura inútil e incompreensível? " não atravessa os ouvidos há muito tempo, a culpa deve ser do som do Chevy de Anthony que ao som de Money silencia a cidade e tudo o que sobra, um outro dia me escreveram milhões de palavras em agradecimento pela divulgação de literatura que faço na internet, não soube escolher bem meia dúzia de palavras, e mesmo assim respondi de qualquer maneira, devo estar perdendo aos poucos o contato com essas inúmeras almas, se viemos realmente de um único ponto acho que apareceram reticências demais com o correr dos anos, e o tempo que existe é algo insignificante, o Chevy de Anthony passou por mais coisas que qualquer um dos meus amigos, e mesmo assim somos capazes de atormentar os carros 1.0 de quatro ou sei lá quantos anos atrás.
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O que fazer dessa Saudade?
PoetryContos e Poesias de amor, drogas, noites insalubres, e um ser atormentado pela Saudade. Escrito por João Paulo Sousa. Texto e poemas de 2013, 2014, 2015. Ficção, qualquer conhecidencia com a realidade é pouca. Mais histórias no instagram @autofagia_