3- "Certainly Less Important" - Parte II

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P.O.V. Maeve

O som agressivo ecoava pela sala de ensaio, eu não esperava que aquela banda tocasse Hardcore ou algo do tipo, mas Sal estava provando o contrário. O baterista, que eu acabara de conhecer e parecia ser tão tranquilo quanto Josh, mostrava ter talento tocando com pedal duplo, fazendo com que o andamento da música ficasse super rápido e violento enquanto aqueles homens gritavam que odiavam todo mundo.

"We hate everyone
We don't care what you think"

A música falava de "esquerdistas nazistas" e "direitistas comunistas'', parecia uma daquelas conspirações americanas que conservadores texanos usavam para falar merda no jantar em família. Se aquilo era uma piada, me parecia ser de extremo mal gosto, realmente eu não fazia mais ideia do que esperar dali pra frente no ensaio, afinal eu nem havia perguntado que estilo eles tocavam.
Depois da metade da música o ritmo começou a diminuir, até não ser mais uma música de Hardcore, aquilo soava mais como Doom Metal, com um vocal diferente, mais grave e obscuro. E foi assim que as músicas a seguir continuaram a soar, riffs mais pesados saiam do baixo e da guitarra, explicitando o caráter musical do grupo e me fazendo entender o motivo de Jack querer me apresentar a banda. Doom Metal era meu estilo favorito de metal e talvez por isso Jack sabia que eu me interessaria, porém eles eram diferentes, os arranjos, principalmente do teclado e da guitarra, faziam com que eles soassem diferentes, mas definitivamente o que me chamou mais atenção foi a temática sarcástica e até mesmo amarga das músicas. Algumas das músicas eram extremamente cínicas e explícitas, como Christian Woman, na qual eles faziam questão de, ironicamente, soar o mais "pecador" possível, preenchendo a letra com heresias.

Não vou mentir, tive que conter meus risos enquanto Peter cantava tantas besteiras com uma voz tão séria e profunda, eu estava gostando de toda aquela afronta às convenções e conveniências morais e sociais, não era como algumas bandas com as quais já lidei que simplesmente xingavam todo o tipo de merda, achando que espalhar violência gratuita os fazia muito fodas e "politicamente incorretos", sem crítica alguma.

Na segunda parte do ensaio Jack precisou se ausentar para ir tratar sobre um contrato com outra banda, me deixando "sozinha" no ensaio. Entre algumas músicas, os integrantes conversavam entre si sobre ideias de arranjos ou efeitos sonoros a serem adicionados nas músicas e Josh anotava tudo em um caderno que mantinha em cima do teclado, onde deveriam estar as partituras.

Algumas vezes, quando a música realmente me agradava e eu era levada a apreciá-la mais profundamente, eu me perdia em pensamentos, encarando um único ponto por vários segundos - ou minutos -, o que não era exatamente uma boa ideia, uma vez que sem querer eu acabava encarando um integrante ou outro e, sei lá, eles deviam estar me achando esquisita ou, talvez, muito crítica? Não faço ideia, afinal nenhuma dessas opções faziam parte da minha intenção e eu devia ficar mais atenta, não queria aparentar algo ruim no meu primeiro dia de trabalho, seria um péssimo jeito de começar, e não demorou muito para eu receber um "balde de água fria". Em meio a um de meus devaneios, comecei a encarar o vocalista, estava entretida vendo-o tocar baixo enquanto cantava, não apenas por cantar, mas sim interpretando a canção, parecia ser um personagem dentro daquelas histórias amargas e sensuais contadas em suas músicas.

- Ele é talentoso - pensei, subindo meu olhar para sua face - Eu nunca conseguiria tocar um instrumento e cantar tão bem ao mesmo tempo.

Aquele cara definitivamente sabia cantar e isso me impressionava, eu refletia enquanto encarava seus lábios proferindo palavras de paixão e angústia, porém, assim que decidi mover meu olhar para o resto de seu rosto, me deparei com um par de olhos me encarando. Não era um olhar qualquer, aquele conjunto de olhos surpreendentemente verdes com sobrancelhas grossas moldavam um olhar penetrante, mas tão difícil de interpretar. Perceber que Peter estava a me encarar por trás das mechas escuras de seu cabelo fez com que meu corpo gelasse, claramente ele percebeu minha cara de susto, que mal consegui disfarçar, e parece ter achado graça da situação, uma vez que o vi abrir um pequeno sorriso, meio zombeteiro, eu poderia dizer.

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