16- Equinox

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P.O.V. Narradora

Setembro já havia chegado e o fim do verão se aproximava em Nova Iorque. Quase um mês havia se passado desde o lançamento do Bloody Kisses e tudo ia consideravelmente bem, o número de contratações havia aumentado, a banda tinha pelo menos um local pra tocar toda semana e, se as coisas continuassem assim, a gravadora poderia até cogitar uma turnê. Apesar do retorno positivo, Peter andava um tanto amargurado com a vida, tanto pelo excesso de trabalho, já que continuava com seu emprego no sistema de parques nova iorquinos mesmo com os shows frequentes da banda, quanto pelo que havia ocorrido entre ele e Maeve após a festa de lançamento do álbum, resumidamente, nada. Parecia que, depois de beijá-la, tudo havia ficado mais misterioso, o que era o contrário do que Steele estava esperando. Ele se arrependia de ter beijado a moça aquela noite, não porque havia desgostado, mas sim porque pensava que teria sido mais apropriado esperar um momento mais oportuno, como depois de convidá-la para um jantar ou algo do tipo, talvez um pouco mais de formalidade uma vez que a moça parecia ser sempre tão alinhada, mas a realidade é que Maeve parecia irresistível naquela noite. Peter tentou se comportar, porém já fazia algum tempo que o mesmo pensava na moça um pouco mais do que deveria, imaginando seu corpo e sonhando com suas curvas que pareciam ser tão macias; não era nada demais, não era como se ele não pensasse isso sobre outras mulheres por aí, mas algo o agradava em Maeve especificamente e não era apenas o beijo quente da jovem ou seu humor sagaz.  Peter tentava afastar esses pensamentos, não queria começar a fantasiar coisas ao chegar na gravadora e ver a moça apenas fazendo seu trabalho, isso seria ridículo e desrespeitoso, ele precisava manter a postura.

Já Maeve vivia a vida aparentando estar tranquila, cumprimentava Steele e a banda como se nada tivesse acontecido naquela noite, mas evitava contato visual com o rapaz, afinal tudo isso não passava de uma performance; por dentro ela lutava contra um turbilhão de pensamentos e dúvidas frutos da solidão que havia escolhido para sua vida.
Era assim que ela desejava permanecer: desconhecida e distante; havia se afastado de quase tudo que fora antes para poder viver a vida de seus sonhos, ou construí-la, já que estava longe de estar vivendo o que realmente queria. Maeve sonhava com o isolamento, queria ter uma casa entre as árvores pintadas com as cores do outono, um bosque fechado como quintal, um local aconchegante com uma lareira, uma cozinha onde pudesse secar suas ervas e um quarto de paredes escuras. Ela se perguntava quando poderia voltar para a Irlanda, onde vivia tranquilamente com seus estudos e seus credos, onde tinha contato com a natureza. Viver numa cidade grande como Nova Iorque era quase uma tortura para a moça, seus pés só tocavam o asfalto, o cheiro presente no ar vinha dos carburadores dos carros, não havia espaço para tranquilidade ou paz entre aqueles prédios gigantes e aquelas pessoas apressadas consumidas pelo capital.

Em mais uma noite solitária em seu apartamento, Maeve lia uma revista de artigos acadêmicos de música enquanto tomava uma taça de vinho. Era quinta-feira, o fim da semana estava próximo e isso a deixava um tanto contente, mesmo que não planejasse sair para lugar algum.

O telefone tocou, tirando a atenção de Maeve da revista. A jovem levantou e foi até o local em que o telefone fixo estava posicionado, levando sua taça e colocando-a na mesma mesa em que ficava o aparelho, que tocava sem parar. Maeve tirou o telefone do gancho e sentou-se no sofá.

- Alô?

- Alô. Ah, oi Martha, nunca consigo falar com você! Como você está?

Maeve obviamente reconhecia a voz, era sua mãe.

- Oi mãe, estou bem. Você tentou me ligar à tarde?

- Sim, no final da tarde, já tinha tentado várias vezes, achei até que você tinha trocado de número sem me avisar para não me atender mais.

A moça se conteve para não revirar os olhos com a fala de sua mãe.

Be My DruidessOnde histórias criam vida. Descubra agora