Fragmenta: parte 3

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  [Nota: desculpem o atraso mas como mtos sabem esse é o maior capítulo dessa merda e uma novidade, esse é o capítulo com mais modificações nessa reportagem, enfim. ELE NÃO TEM BRAÇO, ELE NÃO TEM PASSADO NO MANGA, ELE NAO TEM NEM MAIS VIDA, MAS AQUI ELE TERA! SENHORAS, SENHORES E OUTROS, COM VOCES O PASSADO DO RATO FYODOR]   

                            Rússia, 1914

                    O garoto e o diabo. 

 A floresta de pinheiros cercada pela neve recém caída estava sombria naquele horário, provavelmente eram seis da manhã. O impacto da pá contra a terra era o único som que podia ser ouvido. Ivan parecia atordoado, Fyodor tinha pena do pobre homem. O que eles estavam fazendo era um pecado na visão de Ivan, estavam enterrando alguém como um indigente. Fyodor encarou mais uma vez o cadáver do pai deitado sobre a neve e a relva. Estava coberto por panos manchados de vermelho e só a visão daquilo fazia qualquer jovem estremecer, mas Fyodor estava com seus pés firmes enquanto voltava a cavar. O vento gelado fazia seu cabelo cobrir seus olhos.

 Ele era o único que sabia o que havia de fato acontecido. Como havia entrado no banheiro, empunhando uma faca e apunhalou seu próprio pai no meio da madrugada, todos os planos daquela noite estavam correndo como o esperado, seu pai estava planejando fugir e Fyodor decidiu matá-lo. Ainda podia sentir o homem lutando pela vida empurrando e socando o corpo magro de Fyodor enquanto o garoto o esfaqueou no pescoço uma vez, duas vezes, três, quatro, seis vezes. A sensação da lâmina entrando na pele de seu pai ainda fazia os dedos de Fyodor estremecerem. 

Ivan, o homem que os abrigou, não sabia disso, não sabia de nada. Se soubesse o mínimo, talvez já tivesse denunciado Fyodor para a primeira autoridade que visse, mas se soubesse sobre o ovo de Fabergé, uma peça majestosa, linda cravejada por diamantes e rubis, uma relíquia saída de uma casa de um aristocrata, com certeza Ivan iria querer manter Fyodor por perto. Os seres humanos são como corvos que cobiçam tudo que possue um brilho que seja, porém, apenas duas pessoas no mundo sabiam como Fyodor conseguira aquela coisa amaldiçoada e manchada de sangue. Aquele era o momento que estava esperando para iniciar sua própria fuga.

 - Você precisa ir embora. Eu já falei com um garoto que vai te arrumar documentos falsos para você, pegue um trem e vá para Viena, Fedya, sua irmã está lá, ela vai ajudá-lo - O homem tropeçava nas próprias palavras e Fyodor não sabia o que dizer. - Não vão acreditar em nada que você disser.

 Você quem deveria sumir daqui, Fyodor pensou.

 Porém, o jovem não podia discordar. Noites atrás ele estava com o pai em uma taverna e ambos se envolveram em uma briga, Fyodor não esperava que o pai fosse sacar uma faca e cravar no pescoço de alguém, Fyodor foi arrastado para longe da confusão, mas já era tarde demais e seus rostos já estavam marcados. Depois de horas vagando e fugindo, ambos se esconderam na casa de Ivan durante alguns dias. Naquela madrugada, Fyodor acordou o anfitrião quando chegaram no quarto, Ivan e Fyodor encontraram o corpo dele com uma faca cravada na garganta. Um suicídio, foi isso que Fyodor insinuou e apontou, era a suposição mais adequada e óbvia. 

 Não podiam fazer muita coisa além de enterrar o corpo no meio da floresta. Se avisasse as autoridades, os dois seriam detidos.

  - Tem um garoto que vive perto dos prostíbulos que vai ajudá-lo. Eu já tinha falado com ele quando chegaram, ele conseguirá documentos para que possa sair do país. Pegue - ele entregou alguns rublos nas mãos geladas de Fyodor  -, encontre sua irmã. Estou fazendo isso porque considero vocês dois, vocês não mereciam ele. Seu pai enlouqueceu, você sabe disso.

  - Ele estava louco há muito tempo.

  Não demorou muito até Fyodor sair da floresta. Em baixo de seu casaco ele podia sentir o peso da faca. Estava apenas com a roupa do corpo, peças que Ivan lhe dera, tudo coberto pelo grande casaco. Ele puxou o par de luvas cinzas do bolso e caminhou durante a manhã inteira. Ele carregava uma bolsa de pano ao lado do corpo, ali dentro só cabia uma muda de roupas, documentos, um dicionário de inglês, o pingente com a foto de Tatiana e sua mãe e o ovo de Fabergé, ele o colocou em um bolso falso forrado por algodão, mas sabia que precisava achar um lugar melhor para escondê-lo. Seus bolsos cheios de dinheiro eram um lembrete para que ficasse atento até que chegasse no bairro cheio de prostitutas e ladrões. Para onde quer que olhasse via pobreza e miséria. A guerra mal começou e já deixava um rastro de morte. Caminhou pelo bairro sujo e sombrio. Homens caídos de bêbados na calçada, algumas crianças vestidas em trapos ficavam à sombra do que podiam, aquele não era um lugar para crianças. Prostitutas se exibiam para potenciais clientes, algumas direcionavam olhares lascivos para Fyodor que as ignorava como se fossem parte daquele cenário de desesperança. 

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