Initium

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O trabalho de um jornalista começava cedo e as notícias não tinham hora para acontecer, devido a isso, Louisa sempre precisava correr. Na noite um pouco antes de se despedir de Chuuya Nakahara e deixá-lo no caminho de casa, Louisa não foi direto ao seu apartamento, ela correu e pediu um táxi até Watford, uma região próxima à uma zona residencial de luxo, era um lugar cercado por árvores e as mansões ficaram relativamente longe uma das outras e entre elas ficavam algumas áreas verdes e Louisa esperava encontrar um cadáver em um desses pequenos espaços.

A verdade era que antes de sair do jornal, a jovem havia pego algumas notas e informações de que naquele lugar, havia recém acontecido um assassinato de uma jovem, pelas vestes citadas nos arquivos ela era uma empregada de uma das mansões. A moça assassinada era francesa e a descrição dela batia com um desaparecimento recente, as peças já estavam bem postas na mesa mas ainda precisavam se encaixar. A queixa de desaparecimento em Londres de uma moça francesa seguido por um assassinato.

Edgar provavelmente já estava lá ao lado Edogawa Ranpo, mas ela não se importava. Ao redor da área estava cercada poucos curiosos, pelo horário noturno já era de se esperar que não houvesse muitas pessoas. Havia alguns policiais e Poe estava como de praxe anotando tudo. Louisa sempre foi alguém que não chamava muito a atenção das pessoas, tanto em sua aparência quanto em suas ações, ela entrou na cena do crime a passos discretos, Edgar estava falando algo com Ranpo e os outros policiais pareciam distraídos demais para notar sua presença silenciosa.

Era estranho a maneira como estavam ignorando o elefante na sala, por mais sério que fosse, era como se aquele corpo fosse apenas mais uma das árvores ou um galho no chão. Talvez Ranpo e Poe estivessem dando a devida atenção ao caso, mas os outros pareciam quase alheios como se quisessem que aquela inconveniência acabasse logo.

Se aproximou do corpo coberto por um pano e o puxou, sentiu o sangue gelar, o tiro na cabeça era nítido porém, normalmente um tiro à queima roupa deixaria um estrago muito maior. Louisa já havia tido contato com muitos corpos, ela trabalhava no jornal a três anos e a convivência com casos de assassinatos violentos não era nenhum choque, tinha apenas vinte anos mas já vira fotos de cadáveres já em estado de decomposição e certas vezes já os vira diante de si.

Entretanto a garota morta a sua frente havia morrido algumas horas antes e seu sangue ainda sujava o chão coberto de folhas e terra úmida, as árvores ao redor daquele cenário macabro atrapalharam a entrada de luz mas Louisa já havia notado o suficiente, aquela moça não estava no lugar errado na hora errada, ela não foi assassinada por acaso.

- Alcott!

Ela se virou em direção a Poe, o cenho dele estava franzido e ele parecia nervoso, não era para menos já que aquele era o terceiro assassinato em duas semanas.

- Eu não estou mais no meu horário de trabalho - disse Louisa com um sutil tom de sarcasmo.

- Eu sei disso! Mas essa é a segunda vez nessa semana que você se mete em alguma cena de crime! Sabe o que isso pode causar para sua carreira.

- Você me disse para tentar o quanto pudesse.

Poe mordeu o lábio, seus cabelos escuros caíam sobre seus olhos cinzas, mas por um segundo ela pode ver a expressão dele se amenizar. Ambos se conheciam desde a infância e Edgar foi o maior responsável por conseguir um emprego para Louisa no jornal e em todas as vezes que ela tentava conseguir alguma história interessante era censurada por seu gênero e por tabela Poe acabou sofrendo algumas consequências por causa disso mesmo depois que se tornou editor chefe.

Ele costumava incentivar Louisa a tentar a carreira nos Estados Unidos ou em Paris, mas ambos sabiam que não seria tão fácil. Edgar prezava muito por ela, quase como um irmão mais velho, sabia que toda a ousadia e confiança que ela tinha guardada dentro de si era exposta apenas para ele e em seus escritos, poucas vezes ela mostrava essa versão multifacetada cheia de coragem para pessoas mais próximas.

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