Fragmenta: part 2

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                                 1917

Os estrondos haviam cessado e recomeçaram de forma aleatória. Dazai já havia desistido de tentar encontrar um padrão para cada bomba que atiravam neles, a companhia estava um caos. O tiroteio cessou novamente e imediatamente um grupo de enfermeiros correram para ajudar Dazai e Oda que chegavam com feridos no abrigo antibombas. De fato, o antigo hospital católico próximo ao front não passava disso.

- Preciso de um torniquete! - gritou uma enfermeira, a única mulher do lado de fora do hospital, os fios castanhos e ondulados caiam sobre sua testa, ela já havia perdido sua touca e estava suja de sangue. Ela pressionava o local onde a perna de um soldado havia sido decepada. O nome da enfermeira era Alma e foi estranho para Dazai ter lembrado do nome dela, já não se importava com mais nada naquele front além de sobreviver e ir embora com Oda Sakunosuke o quanto antes. Tudo havia se tornado apenas uma questão de sobrevivência.

Dazai correu para ajudar Alma, o soldado diante dele gritava e se contorcia em agonia, Dazai queria que ele morresse. Os gritos eram horríveis para Osamu. Queria que o sofrimento dele acabasse para que o de Dazai acabasse também. O soldado gritava em plenos pulmões, chamando por Deus. Osamu cerrou os dentes enquanto apertava o tornequete e mais o soldado gritava, Dazai não ousava olhar para o rosto dele. Alma enrolava ataduras brancas onde a perna tinha sido arrancada, o homem provavelmente não tinha mais tanta força já que não gritava tanto quando Dazai e Alma o passaram para uma maca.

- Leve-o para a ala médica e volte o mais rápido possível - instruiu Alma — Temos que coloca-lo numa ambulância com os outros.

Dazai não a encarou ou disse uma palavra, apenas se pôs em uma ponta da maca e Oda se aproximou ficando na outra ponta. Ambos correram até a ala médica e deixaram o soldado aos cuidados dos médicos, estes saíram mandados para um hospital próximo assim que o conflito das linhas de frente passassem por tempo suficiente para levá-los. Já Dazai e Oda tinham que voltar para as trincheiras imediatamente, porém as pernas e braços de Dazai queimavam em cansaço. Eles estavam só a alguns quilômetros da linha de frente. Depois de um tempo tudo voltou ao silêncio. Os homens continuaram quietos e alguns se abaixaram protegendo suas cabeças.

Naquele buraco não era possível ter certeza de nada. O único som eram os da respiração dos soldados, cada um atento à espera de uma nova bomba ou do baque de uma granada sobre o chão. O pensamento fez Dazai tremer finalmente notando que havia perdido Odasaku de vista. Alguns longos minutos se passaram até o tenente anunciar que o inimigo havia recuado. Alguns homens respiraram aliviados, porém Dazai só podia pensar que em algumas horas chegariam uma leva de soldados feridos. Provavelmente não haveria mortos, não era viável trazer cadáveres naquela situação.

- Acho que iremos para o hospital do abrigo antibombas, quase não tem médicos por lá - Oda falou baixo quando voltaram para o abrigo , os homens que estavam ali feridos iriam para casa, Dazai não disse nada. Osamu podia ouvir claramente a voz de Kunikida o censurando por ter ido para a linha de frente. A voz calma de Poe dizendo que ele não precisava fazer aquilo. E a voz de Fyodor, fria como gelo:

- Pessoas evitam ao máximo chegar tão perto da morte, você parece procurá-la em cada esquina, a abraça como se não fosse nada.

Aquele olhar sombrio não era fácil de esquecer. Queria estar em casa, tudo o que tinha naquele momento era medo.

O que ele queria provar indo para a guerra?

Demorou quase a manhã inteira para os feridos do front chegarem. Todos se puseram a ajudar e dar os devidos cuidados, médicos, soldados como Dazai e Oda e até mesmo o tenente da companhia foi verificar a situação.

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