TW: Idealização suicida]Durante a guerra, o chão e a terra se tornaram companheiros fiéis. Sempre que o som das explosões se aproximavam era necessário se jogar no chão e ser abraçado pela terra. Alguns soldados rezavam enquanto outros ficavam em silêncio em meio ao caos. Dazai costumava ficar em silêncio protegendo a cabeça e esperando. Aguardando que o silêncio absoluto tomasse conta da terra e ele pudesse respirar.
Como ele ainda conseguia lembrar das palavras que Odasaku havia lhe dito quando ambos estavam tentando ir de uma trincheira a outra? Em meio aos bombardeios e o cheiro de morte, a voz de Sakunosuke era sempre tão clara que o trazia de volta à razão.
- Respire, você ainda está aqui, você está vivo.
Eles estavam sempre enterrados, fugindo da morte ao mesmo tempo que corriam até ela. Por deus, em nome de quê? Deus não estava lá, não estava na guerra e não estava com ele naquele momento. Quando estava diante da morte, só havia sangue e terra. E por fim havia morte.
Caia. Apenas caia e conte com a sorte.
C
AI
A
Despenque no chão. Uma hora o pesadelo acabará e você está morto ou pronto para outro. Simples. Como cair de um precipício.
No campo de batalha, esses momentos em que a terra era sua única companhia, Dazai fechava os olhos com força e sentia tudo ficar em branco. Se tudo aquilo acabasse logo estaria tudo bem, ele repetia enquanto esperava. Ao abrir os olhos em meio ao silêncio ele estava sempre cercado por corpos mutilados, morte e lama. Acabou, ele pensava, acabou mesmo que viesse a acontecer de novo, mas por um segundo ele teria paz. Tudo pode acabar e então ele poderia ter paz.
Era como ver uma avalanche. Um mar branco desmoronando - branco porque tudo o que aquilo representava perdia o significado e desmoronava - porque aquele sentimento já havia estado no topo e agora despencou contra si e o sufocava.
Ele corria, mas sua mente estava presa nas palavras de Chuuya. Ele saiu do camarim sem nem ao menos dar uma chance para que Osamu pudesse falar algo, ele apenas ficou paralisado esperando por algo que tirasse o peso que sentia no peito. O amargor nas palavras de Chuuya fizeram Dazai querer estar morto novamente, morto como quando sua visão se limitava a terminar a peça e seu semblante era vazio. Como ele ousava mentir daquela forma.
Ele sentia como se tudo o que tivesse conseguido, a motivação, o amor e aquele resquício de felicidade estivessem escorrendo por seus dedos.
Depois que ele saiu do camarim algumas pessoas lhe perguntaram se estava tudo bem. Para o inferno, ele queria que todos morressem, inclusive ele mesmo, porém ele queria todas aquelas pessoas ao seu redor para que ele pudesse lembrar que aquilo era real, de que ele não estava dentro de nenhum de seus pesadelos recorrentes.
Perguntaram sobre Chuuya e ele respondeu que não sabia de nada, lhe perguntaram se estava tudo bem e ele deu uma única resposta que mentirosa que lhe soou conveniente, lhe chamaram para beber e ele foi.
Inconsciência.
Primeiro em um bar depois outro e mais um, então estava em um Pub de mal gosto e depois estava vomitando em um beco. Um whisky e depois um gin. Nada de vinhos ou cerveja, esse tipo de bebida não serve para esse tipo de pessoa, o whisky era melhor porque queimava a garganta e entorpece a mente com mais facilidade. Ele nem sabia mais onde estava seu grupo, as pessoas que o arrastaram para aqueles bares e que ele mal recordava os rostos.
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Pantomime
RomanceO final da primeira grande guerra afastou o público. Dazai Osamu, um misterioso dramaturgo, está preso à sua própria obsessão em levar um trabalho recentemente concluído para os palcos mas logo se vê em meio de conflitos internos que envolvem Chuuya...