Macualda hereditatem

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O castanho dos olhos de Osamu demonstravam uma simpatia adocicada, como o xarope de mel que Chuuya costumava tomar quando era criança para afastar a dor da garganta. Doce, porém enjoativo, totalmente diferente do chocolate amargo que lhe remetia ao olhar que Dazai expressara minutos atrás. Toda aquela fachada que o dramaturgo encenava era algo que Chuuya ainda não entendia direito. 

 – Já faz um tempo, não é, desde de que você mandou aquele trabalho para o jornal – falou Dazai que se mantinha na frente de Chuuya como se não quisesse que o mesmo saísse de perto ou que ficasse a uma distância adequada. 

 – Isso mesmo! Foi antes da guerra. O que aconteceu com você? Não trabalha mais no jornal pelo que sei. 

 – Resolvi me entregar a arte– disse com um tom humorado– Achei que soubesse já que você me ajudou a sair do jornal. 

Chuuya encarou os dois, confusos diante da escolha de palavras de ambos. Era como se aqueles dois estivessem dialogando numa língua estrangeira. 

 – Sem ressentimentos, por favor– disse com um ar superior e naquele instante Chuuya pode notar o sotaque estrangeiro. 

 Russo

 – Humilhados e ofendidos era apenas mais um trabalho a ser esquecido – Dazai deu de ombros – Não se sinta ressentido com isso. 

Antes que Fyodor pudesse expressar mais um comentário cheio de uma raiva mascarada, Chuuya se adiantou saindo de dentro do camarim dando um leve empurrão no ombro de Dazai. 

 – Espere! Não me diga que você é o escritor de Gente pobre? O tal crítico Eliot Taylor? 

Viu o homem esguio abriu um sorriso pequeno e lhe estender a mão direita. Chuuya lembrava vagamente de ter ouvido falar sobre um crítico e escritor escocês chamado Eliot Taylor, recém renomado, porém, não fazia ideia de que ele era, na verdade, um estrangeiro. Poderia ser um imigrante. 

 – É um de meus pseudônimosb– ele apertou a mão de Chuuya e o ruivo pode sentir a estranha temperatura de seus dedos frios – Você me é familiar – ele estreitou os olhos. 

 – Chuuya Nakahara. 

 – O ator! É uma honra conhecer alguém tão talentoso. 

 – Digo o mesmo. 

Fyodor se virou para Dazai enquanto arrumava o grande casaco sobre os ombros. 

 – Agora entendo de onde vem toda a sua confiança, Dazai, é óbvio que esta pobre criatura sustentará todo o público– ele olhou para Chuuya com olhos vítreos que arrepiavam até os ossos. 

 – Não é exatamente verdade __ Chuuya se afastou dando dois passos para dentro do corredor – O trabalho é bom. 

Seus olhos azuis estavam cheios de atitude. Não admitia ser tratado como um artifício ou que o transformasse em um objeto a ser analisado. 

 – Não é como se você fosse um crítico bom o suficiente para dar são crítica antes do show. 

 – De fato não sou– ele mudou o peso de uma perna para a outra preguiçosamente – Mas diga-me, Dazai, ouvi alguns boatos sobre a sua obra que podem manchar sua imagem. Entretanto, não posso dizer nada, afinal são boatos e ser apontado de plagiar é uma acusação muito séria. 

As palavras de Fyodor foram interrompidas pelo soar de passos rápidos no início do corredor. Um homem com um grande sobretudo e cabelos acinzentados passou pelo trio com passos firmes e ágeis enquanto arrumava seus óculos. Não disse uma palavra, nem mesmo quando esbarrou no ombro de Fyodor e Dazai. 

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