Carpe noctem.

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 ⚠️TW: Temas sensíveis, uso de entorpecentes]

  Cada peça de mobília parecia ser feita para uma encenação em um palco, Kouyou sabia disso porque todos ali mentiam de alguma maneira, especialmente ela. Sempre que olhava na direção de Lucy ela podia ter um vislumbre do passado, do dia em que fugiu para a Inglaterra, não suportou as mentiras nem o fardo de ser uma cúmplice. Preferia renegar o passado a ser mais uma peça naquele jogo. Quando Lucy foi entregue aos seus cuidados, ela percebeu que aquele era um sinal para recomeçar, porém ainda havia um pouco daquele fardo, um peso que ela carregava sozinha e em segredo. Ter entrado em um casamento de fachada ao lado de Mori Ougai sempre a fazia lembrar disso.

Era assombro como tudo isso só se tornou evidente depois de sua morte. A morte é irrevogável, irreversível e tudo o que está ligado ao passado é cravado nela permanentemente.

 Porém, o fato de Nathaniel estar presente, no mesmo ambiente que Lucy, era como uma afronta. Ele não deveria ter aquele direito. Eles não precisavam de um aviso formal, um simples olhar já exigia uma pequena reunião particular. Parte de Ozaki queria empurrar Nathaniel de seu pedestal, mas outra parte acreditava que deveria agir furtivamente e arrancar o que pudesse dele. Seria melhor para todos e principalmente para Lucy. Aquela jovem não precisa perder tudo por causa dos erros de alguém. 

 Quando o passado vem à tona, pode destruir um futuro.

 Depois do jantar ela caminhou discretamente até a varanda da sala onde todos estavam reunidos no salão conversando animadamente, era o segundo andar e a varanda estava enfeitada por alguns vasos de mármore. Por mais limpo que o céu noturno estivesse, ao longe era possível ver algumas nuvens pesadas se formarem. Ela esperou por alguns minutos até Nathaniel aparecer, o terno sob medida e a taça de espumante destoava seus olhos irritados atrás dos óculos de armação fina. 

 – Você é um canalha miserável, falso – ela disse sem nem ao menos se virar para olhá-lo, seu semelhante calmo também era uma afronta para ele.

Aquela tempestade seria horrível.

 – Por que você está aqui? – ele sibilou. 

 Ela se virou ficando de costas para o parapeito da varanda.

 – Para me certificar de que você não faça nada a ela, Lucy não merece um pai como você.

 – Calada!

 – Ou o que? Vai me bater como fez com a Margareth? Você não pode tocar em mim.

 – Acha mesmo que você é um empecilho na minha vida?

 – Se eu contar para Lucy que você está escondendo sua paternidade e uma boa herança, nós dois sabemos que seu bom nome cristão estará na lama! Imagine só se todos souberem sobre sua filha bastarda. 

 – Você veio aqui apenas para me ameaçar? Você sabe que o Francis entrou em um acordo comigo se eu mantivesse aquela garota viva então suas ameaças não servem de nada.

 – Não estou ameaçando, apenas saiba que, se Lucy descobrir que é sua filha, ela irá reivindicar o que é dela por direito, você sabe, existem provas e testemunhas desde o nascimento dela. 

 Ele a encarou com mais raiva o que foi um pequeno deleite.

 – Espero que queime no inferno.

 – Seremos nós dois, Nate, mas não se preocupe, eu não vou contar nada a ela, seria um desgosto saber que o parente de sangue que ela tanto queria é alguém tão desprezível.

 – Você também não ganharia nada se contasse. 

 – Talvez um pouco de justiça, dar o dinheiro que é por direto dela, além de fazer você encarar os seus próprios pecados , abandonar uma criança, trair sua esposa…

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