Pantomime

Devotus amor

[Nota: vocês devem me odiar muito né kskskskssksksk leiam os capítulos anteriores pq faz um tempinho que vocês não vêem essa fic skskkskdks boa leitura pra vocês e saúde pra mim]

   Fyodor poderia ter vomitado quando teve a chance, era uma reação normal, qualquer um que visse o cadáver de alguém amado poderia perder as estribeiras e partir rumo a hostilidade e violência ou vomitar. Ele não fez nada, sentiu sua garganta fechar enquanto o legista falava, falava e falava. Ele apenas olhava para o que em outro momento foi Nikolai. Sua garganta estava tão seca que ele pediu um momento do lado de fora. Sigma estava fazendo seu melhor para responder o legista. Ele era útil, muito mais que Fyodor poderia ser naquele lugar, qualquer um poderia fazer aquilo e Sigma sabia o porquê de ele ainda estar lá.

 — Quero ir à igreja — Fyodor disse, quando Sigma se juntou a ele do lado de fora. Ele começou a tagarelar sobre o que o legista dissera. 

 — Tudo bem, mas acho que vai levar um tempo para que o velório…

 — Não é isso. Eu quero fazer minha contrição.

 Sigma o olhou de uma maneira que ele fez apenas uma única vez na vida, antes de partir. Ele o encarou com tristeza, e com preocupação.

 — Eu entendo o porquê está fazendo tudo isso, eu também queria proteger você de certa maneira, assim como você tentou fazer por ele e não conseguiu.

 — Do que está falando?

 — Não seja assim. Só estamos aqui porque você não sabe como deixá-lo, você poderia terminar essa bagunça com um movimento de mãos, mas você não consegue aceitar que ele se foi por isso faz todo esse processo; ver o corpo, ouvir sobre cada detalhe na morte dele, ir a igreja pedir perdão como se você tivesse matado ele, tudo isso é só uma maneira de atrasar o que já aconteceu, uma forma de manter ele de alguma forma presente e não encarar a realidade.

 Ele queria retrucar, queria encarar aquelas palavras com hostilidade, mas talvez ele estivesse certo, talvez Fyodor estivesse agarrado ao desejo inerente de que aquilo não fosse ter que ser definitivo, como se se fizesse tudo devagar, logo ele acordaria de um pesadelo. Sigma voltou a falar:

 — Digo, eu só estou fazendo isso tudo com você, porque não faz sentido deixar você sozinho, você ainda é meu amigo.

 — Você sumiu por cinco anos.

 — Eu sei, e isso me impede de ficar com você num momento ruim?

 Aquilo o deixou mais triste, talvez culpado pela maneira como ele pensou mal de Sigma por tantos anos. A igreja diante deles parecia ser maior do que deveria, em algum momento ela poderia ter sido um lugar para orações desesperadas de pessoas que tinham um ente querido no hospital, agora ela parecia grande demais.

 — Mas, talvez você tenha razão — disse Sigma —, talvez seja tudo uma coisa protocolar que todos fazem para se sentir melhor.

 — Eu não sei.

 — Não tem que se sentir mal por tentar lidar com seus sentimentos, eu ainda acho que você tem coração.

 Eles pararam na entrada do lugar.

 — Não vai entrar? — Fyodor perguntou.

 — Ando com alguns problemas com o todo poderoso, acho que ele não gosta tanto assim de mim.

 — Eu devo ser muito insistente nesse relacionamento, então. Ele parece me odiar também.

 Mesmo com o tom de ironia ele caminhou a passos firmes atravessando os umbrais da igreja fazendo um rápido sinal da cruz encarando a estátua de um Cristo crucificado acima do altar. Enquanto caminhava até o púlpito ele indagou o motivo de representarem muito mais a imagem de um Jesus crucificado, talvez fosse só mais uma maneira de controle. Ele morreu pelos pecados e nós estamos destinados a queimar se pecarmos, ele pensou. A imagem sangrenta e violenta era um sinal do sofrimento benevolente. Não lhe trazia paz alguma, apenas medo e inferioridade. Foi até o confessionário fechando o cubículo e ficando de joelhos, uma pequena parte de si queria que o padre demorasse, mas aparentemente o homem de batina estava aberto a ouvir confissões pelo resto do dia. Não demorou muito para que Fyodor notasse sua presença do outro lado.