Casamentos costumam ser eventos cheios de alegria, malícia e desavenças, aparentemente a cerimônia de Isabel exalava um pouco de cada coisa.
A começar pelo local — o castelo de Thirlestane, uma residência de monarcas — era enorme e pomposo, não entendia por que tinham usado um imóvel tão grande apenas para um casamento. Talvez o casamento não fosse o único evento. De qualquer forma, o pátio da frente e o pasto grande ao lado eram bonitos, havia alguns cavalos do outro lado da cerca. Chuuya não era monarquista nem britânico, mas gostou do ambiente. Ou pelo menos o pouco que pode ver da janela do carro.
- Você gostou, não é? - falou Isabel descendo do carro - Acho melhor levar você para conhecer os arredores, é melhor do que ficar lidando com decoração, drama ou qualquer coisa.
Chuuya concordou. Ao longe eles ouviram alguém chamar pelo nome de Isabel, a voz vinha do pasto. Era um rapaz de boa aparência, montava um Clydesdale que Chuuya reconheceu de imediato, não lembrava que entendia um pouco de cavalos. O jovem segurou os freios de forma desajeitada, o animal parecia agitado por mais dócil que fosse sua natureza, mas Nakahara se deu ao trabalho de pular a cerca e segurar as cordas.
- Precisa segurar mais devagar - ele disse enquanto o animal bateu o casco no chão coberto por neve e terra.
- Ele é teimoso - retrucou o rapaz, ele parecia ser mais novo que Chuuya, os cabelos louros e os olhos verdes tinham um ar de espontaneidade.
- Não é não, só está nervoso.
- Albatroz, você nunca foi muito bom em treinar esses animais - disse Isabel se apoiando na cerca - Deixe esse trabalho para o seu pai.
- Porque Deus sabe como ele é controlador - Albatroz retrucou.
- Me parafraseando, que maduro.
- Apenas não invente mentiras sobre mim, Isabel, não manche meu bom nome - disse ele descendo do cavalo - Você é o famoso Chuuya Nakahara, conheço um pouco do seu trabalho e fico feliz que não seja mais um daqueles artistas que tem medo de sujar as mãos, eu odeio gente assim, mas eu sei que você não é esse tipo de pessoa, qualquer um que tenha o respeito de Isabel não é nem um pouco esnobe. Pelo menos do meu ponto de vista. Eu vi algumas críticas sobre seu trabalho em Paris, mas não cheguei a ver nada, não me leve a mal.
Ele falava sem parar, em um tom cortês ele apertou a mão de Chuuya que procurava uma brecha no discurso incessante dele.
- Alexandre já chegou? - perguntou Isabel no intuito de silenciá-lo por um instante.
- O que?
- Seu pai. Ele se atrasou.
- Ele telefonou da estação, por que está tão preocupada? Está tendo uma daquelas crises de noiva? Acha que ele vai ter aquela reunião com o Orwell justo hoje?
- Eu não queria isso, mas tenho alguns negócios para tratar com ele antes da cerimônia - ela enfiou as mãos no bolsos - É típico eles fazerem isso.
- Meu pai?
- Não, o Orwell.
- Ele não é mafioso? - Chuuya indagou suspreso.
- É sim, quer entrar no ramo.
Isabel o censurou com o olhar.
- Ele não participou de um conflito, um tiroteio ou sei lá a alguns anos? Parece algo para se tomar cuidado.
- Ah, Chuuya, isso acontece o tempo todo, todos temos um ao outro para se apoiar não é como se três famílias amigas fossem brigar justo hoje — ele se sentou na cerca — E afinal para que se importar?
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Pantomime
RomansaO final da primeira grande guerra afastou o público. Dazai Osamu, um misterioso dramaturgo, está preso à sua própria obsessão em levar um trabalho recentemente concluído para os palcos mas logo se vê em meio de conflitos internos que envolvem Chuuya...