O apartamento de Dazai era totalmente diferente do que Chuuya imaginava, era bem decorado, havia prateleiras com livros para todo o lado e era grande demais para alguém solteiro, algumas paredes eram pintadas com um bege desbotado pelo tempo e outras de branco, o divã vermelho se destacava na sala de estar assim que entrava e era uma das poucas coisas que davam cor a aquele lugar. Eles penduraram os casacos e tiraram as luvas, havia um grande espaço vazio mas tudo parecia estranhamente sufocante e silencioso.
- Você contratou uma empregada ou algo assim?
- É tão óbvio assim? - Dazai riu - Ela só vem uma vez por semana! Ora, eu precisava arrumar tudo, eu disse a ela que teria uma visita especial.
- Poe vai achar engraçado.
- É quem está brincando? Acha que eu me referia a ele? - ele gargalhou vendo a expressão confusa de Chuuya - Ela acha que eu estou cortejando alguém.
- Pobrezinha.
- Ela apostou em Louisa?
- Do jornal?! Eu vou vomitar!
- Não conte para ela.
- Ela não merece saber!
Talvez Dazai devesse mudar alguns móveis de lugar ou simplesmente abrir uma janela ou trocar as flores murchas dos vasos - se perguntou o porquê delas estarem ali considerando que ele contratou alguém para limpar a casa - porém era como se mesmo se ele fizesse isso tudo, a atmosfera daquele lugar seria a mesma.
- Vamos fazer a reunião no escritório, isso vai irritar Poe e ele vai querer ir embora de uma vez.
Claro, pensou, ele tinha um escritório naquele apartamento excessivamente grande para um solteirão solitário e rude.
- Achei que fosse Akutagawa quem faria a entrevista, na verdade.
- Isso é só na segunda, hoje vamos cuidar de um protocolo de conduta, para que nada inapropriado seja publicado e ninguém saia prejudicado. Poe é muito ansioso e presa para que cada palavra seja bem posta, para não sujar a imagem do jornal.
- E você sozinho poderia fazer isso.
- Sozinho? Considerando que lotamos o teatro juntos é óbvio que você seria meu comparsa.
Eles caminharam até o escritório.
- Os jornais britânicos são tão burocráticos assim? - Chuuya indagou enquanto mexia em uma das máquinas de escrever e Dazai estava se abaixando enquanto remexia em uma gaveta e tirava alguns papéis de uma gaveta.
- Foi um pedido meu, eu sabia que você se importaria com esse tipo de coisa por causa do problema com Rimbaud.
- Esqueça isso, esse assunto é cansativo.
- Só fiz isso para que não brigássemos de novo.
Chuuya não quis responder, não queria retrucar mesmo que pudesse. Ele desviou os olhos de Dazai até uma mesa ao lado de uma poltrona, sentiu o peito apertar e a respiração falhar, um soluço se formou em sua garganta e ele caminhou até ali sem olhar para o que estivesse à sua frente, seu corpo estava trêmulo quando ele segurou o porta retrato. Ele segurou o choro, mas sabia que se falasse algo iria chorar, ele mordeu o lábio e encarou o rosto na foto novamente, era como se quisesse ter certeza de que aquele, na foto entre alguns homens fardados, estava Paul Verlaine. Ao lado dele estava um Dazai enfaixado e apoiado em uma muleta.
Sua reação soturna e repentina chamou a atenção de Dazai, ele havia derrubado alguns pesos de papel, Osamu ficou irritado por um segundo depois ficou confuso. Chuuya segurava uma foto com tanto afinco e seus olhos estavam assustados e seu rosto pálido como se tivesse visto um fantasma. Ele caminhou até o ator e pensou em segurar seu ombro, mas se conteve, Chuuya encarava aquela foto com um emaranhado de emoções em seus olhos, havia medo, tristeza, nostalgia e culpa.
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Pantomime
RomanceO final da primeira grande guerra afastou o público. Dazai Osamu, um misterioso dramaturgo, está preso à sua própria obsessão em levar um trabalho recentemente concluído para os palcos mas logo se vê em meio de conflitos internos que envolvem Chuuya...