Ferox

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  A inquietação continuou quase como se o caminho até o apartamento tivesse sido feito sob um efeito de hipnose, que só foi cessado quando Ryuunosuke teve a visão dos cabelos negros, agora presos em uma trança apertada, de Gin. Ao que a irmã abriu a porta Akutagawa nada disse apenas beijou levemente a testa da mais nova. 

– Está tudo bem? 

O mais velho não teve tempo de responder pois sua atenção foi direcionada até a sala de estar, apenas para encarar os olhos amendoados de Ozaki Kouyou. A mulher estava sentada de forma elegante na poltrona da sala, mas parecia totalmente relaxada. Vestia um vestido longo e avermelhado, provavelmente de uma seda importada.

– Não me diga que está aqui só para me pedir outro favor. 

Havia uma leve pincelada de crueldade em seu semblante sério quando Ozaki respondeu. 

– Eu não peço favores, Ryuu, eu dou oportunidade que também me trarão benefícios. Existe uma grande diferença– ela respondeu num tom relapso. 

Akutagawa comprimiu os lábios para a afirmação da mulher. 

– Gin já deu a resposta dela! Ela não quer voltar – apesar de manter as palavras firmes o timbre do rapaz era calmo. 

Kouyou olhou para Gin por cima do ombro do moreno, a irmã de Ryuunosuke se mantinha em um silêncio sufocante, tanto para ela própria quanto para com os presentes.

– Gin – ele chamou–a quando se levantava para encará–la. 

– Achei que poderia tentar uma última vez. 

Akutagawa se sentiu como um cruel inquisidor. Principalmente quando tudo ia em direção a Gin. 

– Você jurou quando o Mori morreu que iria parar de dançar. Não é possível que você mudou de ideia só porque ela... 

– Antes que você me acuse de algo — Kouyou o interrompeu – quero que saiba que em nenhum momento eu tentei convencê–la a voltar – ela cruzou as pernas de modo elegante e sua voz mostrava uma completa negligência ao conflito que se passava entre os irmãos. 

– Eu nunca jurei! Jamais prometeria algo assim. O Mori não tinha nada haver com aquilo. Éramos crianças praticamente, deveríamos por as coisas nos eixos.

A verdade era que Ougai havia financiado desde a viagem para Londres até os estudos de ambos, Akutagawa jamais contara tais coisas para a irmã. Na percepção da mais nova, eles haviam conseguido tudo o que tinham por meio de economias e alguma herança deixada pelos pais e que Mori Ougai era apenas um adulto responsável por eles durante a infância dela e a adolescência de Akutagawa mas a verdade era uma só: a única herança que o pai das crianças deixara na época foi uma casa para ser leiloada e uma pilha de dívidas. Sempre que se lembrava de Mori, Akutagawa era obrigado a retornar para a última vez que vira o próprio pai. Deixando duas crianças pequenas para trás. Entretanto, Ryuunosuke jamais vira Mori Ougai como um benfeitor que sempre esteve interessado somente no bem comum. Algo que havia aprendido desde cedo era que os homem tem uma ambição e que virtude era apenas algo criado para ser fantasiado e almejado pelos que procuram a salvação divina.

– É apenas uma única vez, Ryuunosuke– Ozaki pareceu tentar finalmente amenizar a tensão ali presente – se ela quer então deixe. 

– Você não sabe o quanto foi difícil para ela deixar o balé... 

Gin o cortou.

Você saberia – retrucou a mais nova  — Você nunca perguntou, eu não posso cometer erros, não tenho direito a uma segunda chance, você tem, eu quero ter uma escolha. 

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