Capítulo XXVII

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Maia caminhava alegre pelo caminho de madeira, finalmente sentindo seu corpo se acalmar depois da pressão que Dona Glória incutiu mais cedo. Respiraria aliviada, pelo menos por um tempo, ao lado de Danilo, tomando uma cerveja. Mas o universo tinha outros planos, aparentemente.

— Esperava te encontrar aqui.

Era Jaqueline. Foi mais rápido do que imaginei, pensou Maia.

— E em que posso te ajudar?

Maia sabia, mas deixar que Jaqueline guiasse a conversa seria a melhor opção. Ela sabia que aceitar a proposta de Danilo para ser a namorada de mentira de Victor ia gerar uma confusão, e aceitou mesmo assim – veio à mente de Maia que talvez ela estivesse entediada com sua vida, em busca de problemas para se meter, e quase riu –, mas não imaginava que acabaria no meio de outro problema, um que envolvia seu ex-namorado, para completar.

— Queria conversar com você, pode ser?

Ela assentiu e se acomodou no chão, encostada em um dos cercados de madeira. Mas Jaqueline se manteve em silêncio. Maia suspirou e apontou para o lugar oposto ao seu, sugerindo que se sentasse.

— Pode falar, Jaque. Não precisa pisar em ovos comigo...

— Por que você e Caio terminaram? — Jaqueline a interrompeu, abruptamente.

Maia desviou o olhar rapidamente, antes de voltar a encarar Jaqueline com intensidade.

— Nossa relação não era perfeita. Acho que nunca combinamos. Mas... a razão pela qual decidi terminar de uma vez... ele me traiu, mais de uma vez.

— Entendo...

— E como descobriu? — Maia a observou atentamente, mas Jaqueline interpretou a demora para começar a responder erroneamente. — Se não quiser comentar sobre...

— Não, não é isso. Já disse que não tenho problema algum para falar sobre qualquer coisa, ainda mais algo que já deixei para trás e não me fere mais. Não se preocupe. — ela assentiu e Maia continuou: — A primeira vez foi quando ele havia voltado de uma viagem de trabalho, alguma sessão de fotos, se não me engano. Estava no banho e o celular dele tocou, achei que poderia ser algo importante relacionado ao trabalho e atendi... era uma mulher, aparentemente o Caio havia esquecido alguma coisa na casa dela. Quando ela percebeu que não era com ele que estava falando, disse que era engano e desligou.

— O que você fez? — seu corpo se lançou para frente, ansioso.

— O questionei. — Maia riu, sem um pingo de humor. — Ele negou tudo e eu deixei passar. Sabe, Jaque, uma das coisas que mais prezo numa relação é a honestidade – Maia tentou não pensar na ironia da situação – Não poderia ficar com alguém em que não pudesse confiar ou, como nesse caso, aceitar a palavra dele até que houvesse prova do contrário. Às vezes eu me torno pragmática demais...

— E houve...?

— Um mês depois. O evento literário que eu participaria naquele dia havia sido cancelado porque um dos organizadores veio a falecer, então voltei para casa mais cedo, para encontrá-lo na cama com outra mulher. E não era a mesma da ligação. — Maia sorriu, com leve pesar. — O resto é história... mas em resumo: ele nunca deixou de se envolver com outras pessoas e não via problema em fazer isso pelas minhas costas. O que mais me feriu, Jaque, não foi a traição em si, ou melhor, traições, foi o fato de que ele não teve a decência de admitir quando o questionei, como se eu não merecesse o mínimo de honestidade da parte dele. Ele deixou meu apartamento naquele mesmo dia.

— Hmm... acha que ele continuaria a fazer isso? Mesmo estando noivo? Mesmo depois de casado?

Maia suspirou cansada. Apesar de não sentir mais nada por Caio, reviver a situação era desgastante, pois a lembrava do estresse ao qual foi submetida naquela época, a cereja do bolo de uma relação que já não era nem mesmo satisfatória. E agora, essa pergunta. Maia já sabia da resposta e temia se afundar ainda mais numa situação que não queria fazer parte, mas seria sincera.

— Jaque... quando tudo isso ocorreu eu passei por um momento difícil, de questionar se a culpa era minha, de achar que era um resultado esperado diante de uma relação que não era profunda ou menos significativa do que eu pensei inicialmente, de me sentir insegura diante do fato de que um modelo não se contentaria comigo, de cogitar a hipótese de que ele não faria novamente... tudo isso passou pela minha cabeça. Mas eu parei e refleti. A culpa não foi minha. Não havia razão para me comparar. O fato dele viver no meio de modelos de beleza padrão e estimada não justificava as ações dele. As ações dele. Ele poderia parar? Talvez. Mas eu não acreditei nisso. Não quando ele sentia ciúmes e questionava minhas amizades, enquanto achava válido transar com quem bem entendesse, como se ele pudesse e tivesse o direito... mas eu deveria me manter fiel, porque era o que ele merecia, era o que nossa "relação monogâmica" determinava. — Maia passou a mão pelos cabelos e suspirou novamente, estava se tornando um hábito naquela última hora. — Então, pela minha experiência, a resposta é "sim". Acredito que ele continuaria, porque não confio nele, acreditar no contrário seria ir de encontro ao que vivi naquela relação.

— Entendo...

— Mas você está com ele agora, e apesar de ser importante que considere o que te contei, a relação é sua. Não espero que baseie suas decisões em mim, precisa pensar em você e no que está sentindo. E realmente desejo que as decisões que venha a tomar sejam melhores que as minhas...

— Do que está falando? Que decisão você acha que estou prestes a tomar? — Maia observou Jaqueline com uma expressão confusa, enquanto ela se sobressaltava e se punha de pé. — Só queria conversar sobre sua relação com o Caio... é normal que eu fique curiosa... por que parece que você acredita que ele já tenha me traído?

— Jaque... — Maia também se levantou e tentou se aproximar dela, mas Danilo escolhera bem aquele momento para chegar com as cervejas, fazendo Jaqueline afastar a mão de Maia.

— Mas é claro... seu primo já deve ter te contado o que ele acha que viu durante a noite.

— Eu vi, Jaque. — Danilo soltou, incisivo.

— Não significa nada...

— Acredito que Maia tenha contado os prazeres da relação dela com aquele monte de lixo... depois de saber o que ela passou realmente acha que não significa nada? Admita... você não teria procurado Maia se não desconfiasse também...

— Eu só queria entender...

— Por que está se fazendo de cega?!!

Ao perceber a alteração no tom de voz do primo, se aproximou e o segurou pelo braço, pedindo para que não piorasse a situação. Jaqueline bufou e começou a se afastar, mas interrompeu seus passos e voltou a encarar Danilo.

— Devo ter aprendido com você.

Danilo tentou responder, mas nada deixou seus lábios. Maia o puxou e o fez sentar, encostando-se ao seu lado. Abriu o mini cooler e tirou duas cervejas.

— Vamos brindar.

— À que? — Danilo a olhou, surpreso.

— À merda na qual estamos afundando...

— Como diz tia Marcela, "estamos no cu do urubu".

Danilo soltou um sorriso desanimado e aceitou a cerveja que Maia ofereceu.

— Então... um brinde a ele!

 um brinde a ele!

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