Capítulo II

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— Não vou fazer isso.

— Vamos lá, Maia, o que custa?

— Minha dignidade? — retorquiu.

— Ninguém mais tem dignidade hoje em dia...

— Danilo, você pode ser meu primo favorito, apesar de único. — sorriu. —Mas não acha que isso é demais, não?

— Acho não, meu xuxuzinho.

— Não me chama assim!

— Você gostava quando aquele idiota que namorou no ensino médio te chamava. — acusou ele.

— Eu odiava, mas naquela época eu achava que era uma coisa boa fingir para agradar macho. O Pokémon aqui evoluiu.

— Eu soube que não era só isso que você fingia ser bom nele...

— O beijo era péssimo! Não gosto nem de lembrar...

— Tá vendo? Você é boa em fingir. Você é praticamente uma atriz!

— Não tire sarro com a minha cara, seu amendoim azedo!

— Que doce de pessoa você é... — riu. — E as peças de teatro que fazia no Colégio?

— Duravam meia hora, valiam nota e eram com personagens amargurados da literatura nacional! —  pontuou o óbvio. — Você não está me pedindo para interpretar "Macabéa", quer que eu finja por uma semana estar apaixonada por um cara que nunca vi na vida em frente à família dele!! Não tem nada para dar errado, né, bocó?

— Maia... — fez voz de bebê, acompanhado de um biquinho. —Preciso de uma mulher incrível para levantar a bola do meu brother.

— Há várias por aí...

— Ninguém é tão incrível quanto você, sabe o quanto te amo e te admiro. — sem brincadeira na voz, Danilo foi o mais verdadeiro possível, ele realmente se sentia assim e ela sabia.

— Não me bajule... Danilo, isso tem tudo para dar errado. — insistiu ela.

— Ou talvez termine melhor do que você pensa... — antes que ela o questionasse sobre esse comentário, continuou: — Maia, você sabe o quanto o Victor e a família dele são importantes pra mim, e ele anda meio perdido, preciso ajudá-lo e não confio em ninguém mais pra isso.

— Eles são sua família também, eu sei. — ela sorriu triste, apesar de sempre ter ficado feliz pelo amor que o primo recebera da família Araújo, desejou ter recebido algo assim na infância. Mas não foi de todo mal, ela tinha o Danilo. E apesar de parecer o contrário, faria qualquer coisa por ele.  — Tudo bem. Sei que vou me arrepender, mas tudo bem.

— Isso! — ele urrou feliz e beijou a tela do notebook, em que fazia a chamada de Skype. — Quando volta de Portugal?

— Em alguns dias.

— Ótimo. Vai dar certo. Te mandarei um e-mail com as informações básicas sobre cada um.

— Preciso estudar meu papel... — riu cansada. — Que tipo de pessoa quer que eu seja?

— Ninguém além de você, Maia. — sorriu orgulhoso. — Você já é fantástica.

Dias depois Danilo encontra Victor prestes a ter um ataque de pânico enquanto arrumava a mala para a viagem de carro

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Dias depois Danilo encontra Victor prestes a ter um ataque de pânico enquanto arrumava a mala para a viagem de carro. Nada parecia agradá-lo.

— Tá separando roupa pra doação? Dona Glória finalmente conseguiu te fazer lembrar disso? — sorriu irônico.

— Não, não sei de onde tirou isso...

— Seu guarda-roupa todo tá jogado na cama, cara. Me diz, por favor, que tem uma razão filantropa por trás disso!!

Danilo tentava segurar o riso. Não fazia piada com as ações humanitárias, ele mesmo se dedicava a isso no seu dia-a-dia, mas enchia o saco do seu amigo que as vezes parecia viver no mundo da Lua.

— Danilo, já pedi desculpas por ter faltado à feira de doações no mês passado.

— Nunca vou te perdoar! — fingiu raiva e ergueu o dedo em riste, estava testando suas habilidades artísticas.

— Não foi por mal.

— Não, foi em "nome do mal", também chamado Cristine. — gargalhou.

— Ela foi com o namorado! — se defendeu.

— Você tem 13 anos, Vitor? Depois dizem que eu sou o imaturo. — revirou os olhos. — Eles pelo menos foram fingir que se importam com os pobres e levaram um jornal para tirar fotos deles fazendo caridade, trouxe visibilidade pro programa. Mas você...

— Não fiquei feliz em perder o evento, mano. Você sabe.

— Você gosta de participar, vejo que te faz bem. Isso que é pior, bundão...

— O que quer dizer com isso? — questionou, analisando duas camisas de estampa florida.

— Descubra sozinho, não ganho pra ser seu guru. E arruma logo essa mala, você está indo pra casa da sua família, pelo amor de Deus! — jogou as mãos pro alto, exasperado, e saiu do quarto.

— Já vai atacar minhas cervejas?

— Isso mesmo, Mãe Dináh.

— Ei! — gritou Victor, para que fosse ouvido da cozinha. — Cadê minha suposta namorada? Ela não deveria ir com a gente?

— Relaxa, cara. Ela sabe se virar. —gritou de volta.

— Não sei, Danilo, isso não parece uma boa ideia. Não acho que vá funcionar. Tem certeza que ela vai?

— Vito... — disse, voltando com uma garrafa de cerveja na mão e se apoiando no batente da porta. Sua fresca camisa branca de linho enrugou nas mangas quando cruzou os braços em deboche. — Se prepare para presenciar o espetáculo do ano. Será de cair o queixo. Confie em mim.

Deixou o amigo sozinho de novo e foi esperar na sala, saboreando sua cerveja, um sorriso esperançoso estampava seu rosto.

Deixou o amigo sozinho de novo e foi esperar na sala, saboreando sua cerveja, um sorriso esperançoso estampava seu rosto

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Notas:

Macabéa: Protagonista da obra "A Hora da Estrela", de Clarice Lispector.

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