Capítulo VIII

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Cerca de uma hora depois fizeram o caminho de volta e entraram no quarto pela varanda. Seguravam o riso para não acordar a casa inteira, mas só de lembrar de Victor tropeçando e caindo dentro de um arbusto queriam explodir em risos. Maia guardou o pacotinho em uma das malas que trouxera e assim como ele, apenas retirara o tênis antes de cair na cama. Estavam exaustos e lânguidos.

A luz entrava com vigor pela varanda do quarto, não era nada sutil já que esqueceram as cortinas abertas

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A luz entrava com vigor pela varanda do quarto, não era nada sutil já que esqueceram as cortinas abertas. A claridade excessiva parecia caminhar até a cama do casal e descascar os corpos ali deitados. Victor fora o primeiro a acordar, dando-se conta de que seus braços e pernas faziam parte de um grande emaranhado de músculos conectados aos de Maia. Ela dormia calmamente, a cabeça encostada no peito dele e o cabelo caindo pelo pescoço e rosto.

Ele esfregou os olhos ainda sonolento e pensou no que faria a seguir, precisava ir ao banheiro o mais rápido possível, seu volume na calça era sinal suficiente dessa necessidade, mas temia acordá-la. Voltou a fitá-la e afastou uma mecha de cabelo para analisá-la melhor, ela possuía pintinhas perto da boca e uma pequena cicatriz na sobrancelha direita. Parecia estar sonhando maravilhas, como um anjo dourado.

Estava tão distraído que percebera tarde demais o piscar dos cílios dela, e em seguida, aquelas grandes bolas esverdeadas o encarando. Ela piscou mais uma vez antes de soltar um sorriso leve.

― Bom dia. ― começou a se afastar, tirando o peso de cima dele. ― Desculpe por isso, apaguei completamente.

― Bom dia, e não tem problema, você não era a única culpada nesse estranho arranjo arquitetônico que formamos aqui. ― ela riu, sua voz saindo um pouco rouca pela garganta seca. ― Se importa se eu for primeiro ao banheiro? Prometo não demorar.

― A casa é sua, Victor... não precisa agir assim comigo, não sou de cristal. Vá esvaziar esse pacote aí nas suas calças, eu estarei bem linda aqui, nessa cama maravilhosa... Me lembre de elogiar sua mãe pela escolha.

Ele assentiu com a cabeça e entrou no banheiro sorrindo.

― Mas que demora! Estávamos esperando vocês para tomarmos café! ― Dona Glória levantou da cadeira, sorrindo de forma maliciosa

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― Mas que demora! Estávamos esperando vocês para tomarmos café! ― Dona Glória levantou da cadeira, sorrindo de forma maliciosa. ― O que fizeram a noite toda para levantarem tão tarde? Espero que netinhos para mim!

― Desculpe por isso, Maia. Minha esposa não se contém! ― disse João encarando a esposa de forma carinhosa.

― Bom dia a todos! ― riu. ― Não me importo com isso, Senhor Araújo.

― Pode me chamar de João, minha jovem. Nada de senhor.

― Certo, João. E Dona Glória, gostaria de elogiar sua bela cama, ― sorriu feliz, enchendo seu prato de comida. Maia estava faminta, mas não pela razão que imaginavam. ― dormi como um bebê e todo o cansaço da viagem foi embora.

― Está com fome, Maia? ― incitou ela.

― Mãe! ― repreendeu Victor, enquanto Danilo gargalhava. Cristine e Caio ficaram em silêncio, um leve sinal de irritação marcando suas faces.

― Continua, Dona Glória! Vamos ver se o Vito atinge um novo tom de vermelho! 50 tons de ver... ― Jaqueline enfiou um pedaço de pão na boca de Danilo para fazê-lo se calar, mas ria com gosto do irmão. Em resposta, ele puxou seu rabo de cavalo, como fazia quando eram crianças.

― Ei, vocês dois... ― chamou o Senhor Araújo. ― Pensei que já estivessem grandinhos.

― Sabe que a maturidade não vem com a idade, painho. ― Yasmim passava manteiga em um pão, mas sua postura estava solene, assim como sua voz. ― E há vezes que um comportamento infantil, não importa com qual idade seja praticado, tem como finalidade mascarar anseios secretos.

A mesa ficou em silêncio, antes de cair num riso uníssono, com exceção de Jaqueline e Maia, que sorriam de forma contida. Danilo encarou sua xícara de café, paralisado, como se no líquido preto fosse encontrar as respostas para dúvidas universais. Maia sabia melhor, ele tentava se recuperar do comentário de Yasmim, voltando a usar uma máscara que escondesse seu segredo.

― Pretende um dia publicar o que escreve, Yasmim? ― perguntou Maia.

― Como sabe que escrevo? ― ela pousou o pão no prato e ajeitou os óculos no rosto.

― Não vou revelar meus truques assim tão facilmente...

― Então arrancarei de você!

― Pode tentar...

― Isso é um desafio?

― Não sei... se você não for capaz de desvendar o mistério claro que poderei contar de bom grado. ― Maia bebericou seu café e semicerrou os olhos em direção à garota. Os demais assistiam àquela cena ora com uma expressão confusa ora como se acompanhasse uma partida de ping pong.

Yasmim sorriu abertamente, arrancando algumas expressões surpresas daquela que sabiam como isso era um acontecimento raro. Diferente dos outros, Maia não a tratara como criança, mas com seriedade. Para a garota de 11 anos, que via em sua idade uma enorme barreira para ganhar o devido respeito pelo que dizia e fazia, ter alguém que não risse dela e a olhasse como a um semelhante era o mesmo que ganhar na loteria. Decidiu ali que gostava de Maia, verdadeiramente, e isso não era algo que pudesse afirmar com frequência.

― Finalmente um desafio à minha altura... ― levou a mão até Maia para que formalizasse o desafio. ― Se prepare para me ver muito nos próximos dias...

― Filha, não vá perturbar a Maia... ― interveio Dona Glória, antes de pigarrear. ― Depois do café poderemos ir para a piscina, quero relaxar e começar a leitura do meu livro novo... ― Maia a encarou e a senhora sorriu, culpada. ― Ah, minha querida, não vou perder a oportunidade de lê-lo com você por aqui, poderei conversar sobre o livro com a autora em pessoa!

― Você não disse para não pertubá-la, mãe? ― questionou Yasmim, cruzando os braços.

― Por que as duas não deixam a minha namorada em paz, hein? ― Victor a enlaçou pelo ombro antes de continuar. ― Daqui a pouco terei que brigar com vocês para ganhar um tempo com Maia.

Ela sorriu e depositou um beijo leve em seus lábios, acariciando o rosto dele com a mão livre.

― Sempre estarei disponível pra você, amor. Mas vou adorar passar um tempo com sua família também.

― Muito bem, Maia. Muito bem... ― assentiu João. ― Já te contei que faço bonecos de barro? Vou adorar mostrar pra você...

Victor arregalou os olhos. Dona Glória e Yasmim cruzaram os braços diante de um novo competidor para o tempo de Maia. Danilo sorriu feliz com toda atenção que a prima recebia. Jaqueline encarava sua fatia de mamão pensativa. Cristine não escondia mais a cara de insatisfação. E Caio... Esse percebeu que não seria o centro das atenções daquela semana em família. E não gostou disso.

 E não gostou disso

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