Quando Maia e Victor finalmente saíram do quarto sentiram que a atmosfera da casa havia mudado, havia menos barulho e animação, mesmo que já estivessem prontos para o almoço – um dos momentos de maior descontração, quando todos estavam juntos à mesa. Maia entendeu imediatamente a razão quando observou as expressões dos presentes, que comiam quase em completo silêncio: algo acontecera com Danilo e Jaqueline.
Mesmo convivendo a pouco tempo no meio daquela família, conhecia o primo desde sempre, bem como havia começado a compreender bem a personalidade de cada um deles. Danilo e Jaqueline eram como o regulador de humor daquele grupo, pois eram os mais extrovertidos e enérgicos, sem fazer muito conseguiam guiar o rumo da energia que os rodeavam. E agora, essa energia parecia bem morta.
— O que aconteceu? — Victor sussurrou em seu ouvido, Maia apenas o encarou e se manteve calada, levando uma garfada de risoto à boca.
Victor, que estava desenvolvendo o hábito de não esconder sua curiosidade em relação a qualquer coisa, alternava o olhar entre cada um dos presentes de forma nada sutil. Yasmim percebeu e fez uma careta diante das expressões do irmão.
— Está tentando ficar mais estranho do que já é, Vito? — perguntou ela, fazendo uma careta.
— O que?
— Todo mundo já percebeu que o clima não está bom, não precisa ficar escaneando a mesa como se fosse um leitor de preços.
Maia engasgou com a comida, enquanto uma vontade absurda de rir lhe atingiu ao ouvir o comentário de Yasmim e ficou ainda pior quando percebera que Victor arregalara os olhos e atingira um tom de vermelho tomate. Apenas se recompôs quando Danilo largou os talheres, pediu licença e deixou a mesa. Victor fez menção de se levantar, mas Maia o segurou pelo braço e tomou a frente.
Maia se acomodou na areia, sentando ao lado de Danilo, que observa em silêncio as ondas do mar. Ela apenas ficou ali, esperando que ele dissesse algo. O conhecia o suficiente para saber que não adiantaria pressioná-lo, precisava que ele decidisse se abrir por conta própria. Apesar de ser extremamente falante e sempre ter algum conselho para oferecer para aqueles que se importava, não expunha seus próprios sentimentos com facilidade. E apesar de desejar que ele fosse diferente, Maia entendia. E esperaria.
— As coisas estão uma bagunça, Maia. — soltou ele, depois de um tempo longo demais.
— E agora você está no centro? — Danilo virou-se em sua direção, com um olhar pesaroso.
— Está óbvio demais, não é? — suspirou. — Estou confuso.
— Sou ótima em organizar ideias, você sabe.
— É, mesmo. — ele sorriu. — A Jaque tá puta comigo e acho que por mais razões do que eu esperava.
— O que aconteceu?
— Eu vi o Caio saindo do quarto da Cristine quando voltamos à noite, Maia, e contei a ela.
— Aquele canalha... E ela não acreditou em você? — ele negou. — Infelizmente, as pessoas acreditam no que querem. E se ela não o conhece como nós o conhecemos, não me surpreendo com a reação dela. Nunca é fácil intervir no relacionamento alheio e, no final das contas, com traição ou sem traição, a escolha de se manter com ele é dela.
— Você poderia contar a ela sobre vocês dois...
— Não farei isso, Danilo, ao menos que ela venha até mim e pergunte. Como você mesmo disse, é uma grande bagunça, e apesar de eu e Victor estarmos nos relacionando de verdade agora, começamos isso mentindo. Tem ideia de como poderei ser mal interpretada por Jaque se me intrometer na relação dela nessas circunstâncias?
— Mas ela não sabe disso ainda...
— E você acha que essa farsa vai se manter até quando? Cedo ou tarde, as cortinas caem. A verdade não se mantém escondida por muito tempo. E isso vale não só pra mim, Victor, Caio e Cristine, mas pra você também.
— O que quer dizer?
— Se fazer de desentendido não combina com você, Danilo.
— É engraçado... Antes de começarmos tudo isso, Victor comentou que nos reunirmos aqui poderia levar alguém a reconhecer sentimentos e admiti-los. Claro que ele se referia a Cristine, — Danilo encarou Maia com pesar pelo deslize, mas ela descartou rapidamente a questão. — mas nunca pensei que quem acabaria nessa situação seria eu. — riu sem humor. — Só não quero perdê-la, Maia.
Maia enlaçou o braço ao dele e encostou a cabeça em seu ombro, fechando rapidamente os olhos. Amava demais o primo e o que mais queria era vê-lo feliz de verdade, que ele começasse a acreditar que merecia ser e que não se culpasse por fazer o possível em busca disso.
— Talvez, as coisas não sejam tão complicadas, sabe? — sorriu, contemplando o mar. — O pior que pode acontecer quando você disser que a ama é ela retribuir e ter que te suportar pelo resto da vida.
Danilo empurrou Maia na areia, enquanto ela ria alto, antes de se levantar e começar a correr, com ele em seu encalço.
— Trate de me respeitar, carrapicho!
— Como foi mesmo que você disse no outro dia sobre sermos o estepe um do outro...? — Maia continuava correndo, virando-se uma última vez para encará-lo antes de soltar: — Ah, sim, "ainda bem que você tem a Jaque e me livrei desse infortúnio"!
Apesar de gritar furioso enquanto tentava pegá-la, Danilo ria.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Grande Farsa
Genç Kız EdebiyatıVictor Araújo cresceu assistindo o casamento de seus pais se tornar o melhor exemplo de amor duradouro que poderia ter e acreditava que tinha encontrado sua alma gêmea na melhor amiga da sua irmã, sua primeira e única namorada, a bela Cristine. Quan...