Capítulo XXIV

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A cabeça de Danilo latejava. Não estaria assim se houvesse dormido na noite passada, mas, ainda encarando o teto, viu o dia amanhecer. Entrou no banho com a dúvida ainda martelando na cabeça: se contaria ou não. Em outra situação, não hesitaria, mas essa era diferente. Temia não estar sendo imparcial, de estar colocando suas emoções em evidência e acabar fazendo uma grande besteira. Estava confuso e indeciso.

Precisava de Maia.

Mas não a encontrou quando chegou à mesa para o café-da-manhã. Nem ela nem Victor apareceram, e ele passou toda a refeição com o estômago embrulhado, vez ou outra lançando olhares para Jaqueline, Caio e Cristine. Não fazia ideia do que aconteceria se decidisse por contar o que viu.

Mas era o certo a fazer, não era?, pensou ele. Eu e Jaque somos amigos há anos, não há nada o que temer. Certo?

Na ausência de Maia, tomou sua decisão: conversaria com Jaqueline. Assim que terminaram o café-da-manhã e ajudaram a cuidar da louça, Danilo a chamou. Ela aceitou acompanhá-lo para um lugar distante da praia com uma expressão confusa no rosto. Não fazia ideia do que estava acontecendo, mas pelo tom de voz de Danilo e seu olhar preocupado, sentia que era algo sério.

— O que foi, Danilo? me assustando.

Ele observou o local, encontrando dificuldade em encará-la nos olhos.

— Danilo!!

— Oi? — voltou-se rapidamente para ela, assustado.

— Em que planeta você está? Você me chamou aqui e não disse nada! O que acontecendo?

— Bem... eu não sabia se deveria te contar isso ou não, mas...

— Droga, homem, conte logo! Sabe o quanto fico agoniada com esse tipo de coisa!

— Certo. Está bem. — pigarreou. — Ontem, quando voltei com Victor para casa... eu vi algo.

— O que?! — ela arqueou as sobrancelhas impaciente, não era do feitio de Danilo ficar de rodeios.

— Eu vi alguém, na verdade. O Caio.

Ele a encarou inseguro, esperando que essa sentença fosse suficiente para ela entender.

— Certo, Danilo. Eu também vi o Caio depois que voltei com Maia, ele está hospedado conosco, lembra? — soltou um sorriso condescendente. — O que tem demais nisso?

— Eu o vi saindo do quarto da Cristine. — soltou de uma vez.

— Você o viu saindo do quarto da Cristine. — ela repetiu, tentando tornar toda aquela conversa mais clara.

— Isso. Foi isso o que vi.

Ela suspirou e deu uma rápida olhada para as ondas que se formavam e quase os alcançava antes de voltar-se para ele novamente.

— O que você está tentando dizer?

— Eu não sei, Jaque! Mas não acha estranho? Uma hora daquelas, ele sair do quarto dela, quando você o procurou por toda parte e não o encontrou?

— Está dizendo que ele me traiu? — soltou, finalmente, num fio de voz.

— Não posso confirmar isso... não vi nada além disso.

— E o Victor viu também?

— Não... não, ele já tinha voltado pro quarto dele... — ela bufou. — Não acredita em mim?

— Danilo, você bebeu e fumou maconha. Todos nós fizemos isso. Você pode ter se confundido...

— Eu sei o que vi, Jaque! Não posso afirmar que eles estavam te traindo, mas...

— Exatamente. Você não pode provar isso. — ela desviou o olhar do dele e encarou o chão, remexendo o pé na areia. — Ele é meu noivo, Danilo. Vou me casar com ele.

— Jaque! — ele a chamou quando ela começou a se afastar.

— Por que está fazendo isso comigo, Danilo?! — ela deu meia volta, o vento incapaz de cobrir o tom alto de sua voz. — Por que agora?

— O que? Do que está falando, Jaque?

Danilo se aproximou dela e tentou pegar sua mão, mas ela o afastou.

— Depois de todo esse tempo... agora que finalmente tomei coragem de seguir com minha vida... você faz isso. — seu olhar carregou-se de uma emoção pesada e antiga, fazendo Danilo a observar confuso e surpreso.

— Não... Não, Jaque...

— Não arruíne as coisas pra mim... Você pode ter feito parte da minha família e da minha vida desde que posso me lembrar, mas isso não te dá o direito de fazer isso comigo. — ela fungou, tentando segurar as lágrimas. — Não desse jeito. Não agora.

— Jaque, por favor... você não entendeu... — ela o ignorou e tomou seu caminho de volta, para longe dele. Mas antes que estivesse longe demais para ouvir, ele soltou, alto o bastante para que o vento não levasse suas palavras embora: — Por que você acha que Maia terminou com ele?!

Jaqueline parou no lugar, ainda de costas, por apenas alguns segundos, antes de acelerar o passo e deixar a praia. Deixar Danilo.

Danilo continuou no mesmo lugar, sem forças para se mover por um longo tempo, apenas observando o bater das ondas na praia

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Danilo continuou no mesmo lugar, sem forças para se mover por um longo tempo, apenas observando o bater das ondas na praia. Quando suas pernas instintivamente começaram a se mover, vagou sem rumo por um bom tempo. Apesar de não estar arrependido, se sentia mal, porque ela ficara mal. E talvez, por coisas que não diziam respeito ao Caio, mas a ele. As palavras de Jaqueline martelavam em sua cabeça, numa dança sem fim e fora de ritmo, tocando em coisas que ele havia decidido não pensar a respeito. Que decidira guardar para si num baú que fingia desconhecer a localização da chave.

Ele vivia sua própria farsa.

A Grande FarsaOnde histórias criam vida. Descubra agora