Capítulo Treze

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Eles falaram para eu colocar aquele aparelho estranho em algum lugar da minha roupa. Obedeci, colocando na minha cintura. Peguei um daqueles pequenos objetos de colocar no ouvido e me deram dois potes de munição cheios de tinta. O Chefe Sinistro do prédio de Harry — que não faço ideia de qual seja o nome — nos colocou em uma fila de frente para ele.

Ele é muito musculoso, tem uma cara de ser mau-humorado, olhos bem escuros e uma tatuagem que vai do pescoço para baixo, onde a gola de seu uniforme a esconde.

Ele não mantem os olhos focados em nada. Sempre olha para todos, evitando parar seu olhar em alguém ou alguma coisa.

— Bom, para a pessoa que notei estar aqui e não ser do nosso grupo de paintball... — ele diz, parando seus olhos em mim, o que me assusta e atraem outros olhares para mim também. Sinto minhas bochechas corarem aos poucos. — Vou explicar as regras — ele volta a olhar para todos. — Isso não é só um jogo de paintball. Também serve para observamos como um teste. Um tipo de treinamento. O pequeno aparelho colocado nas roupas de vocês serve para a contagem de acertos no uniforme. Os tiros só irão valer se for no uniforme, então não adianta atirar na perna do seu adversário que não irá acontecer nada. E também não temos capacetes, então espero que todos sejam espertos o suficiente para não acertar a cabeça de alguém. Essa tinta pode cegar alguém. Não queremos ninguém cego, certo?

Todos balançam a cabeça automaticamente, mesmo sendo uma pergunta retórica. Eu acho.

— A pessoa que levar mais tiros, ficará três dia sem ir para as ruas como Sinistro. Isso serve para você também, menina do outro prédio.

Assusto-me ao entender que ele está falando de mim. Acho que não será muito difícil. Só não estou muito acostumada com armas rápidas. Ainda prefiro o arco e flecha.

— Distribuímos fones para todos vocês, é onde anunciamos que o jogo acabou ou algo de errado aconteceu. Certifiquem se de que todos estão com seus fones nos ouvidos — levo a mão no ouvido rapidamente. Sinto o pequeno aparelho bem encaixado com o gancho preso atrás da minha orelha. — Se encontrarem uma cerca de madeira significa que estão indo muito longe e por circunstância alguma atravesse a cerca. Se acontecer alguma coisa, chamem pelo fone que distribuímos, é só dizer "microfone, ligar". Vocês têm trinta segundos para se espalharem pelo campo. Vão!

Fico por três segundos parada sem perceber que as pessoas ao meu redor começam a correr. Sem pensar muito bem, eu corro junto. Não sei para onde correr. Os outros parecem já conhecer o lugar. Eles vão para lugares diferentes e parecem saber para onde estar indo.

Enquanto isso, eu estou perdida. Não sei aonde ir, nem o que fazer. Procuro Harry ou alguém que conheço entre as árvores, mas não encontro. Continuo a correr. Sinto a brisa me atingir. Gosto disso. Meus pés agem praticamente sozinhos. Percebo, pelas árvores que passam rapidamente por mim, que estou correndo muito rápido. Acho que nunca alcancei uma velocidade tão rápida antes. Tento fazer-me parar de correr, mas meus pés ganharam vida própria. Se eu parar agora, tenho certeza de que vou cair...

Mas eu tenho que parar... Ok, no três... Um... Dois...

— O jogo começou — diz o aparelho no meu ouvido.

Levo um susto e paro no mesmo instante. Perco totalmente o equilíbrio e rolo no chão. Eu vou rolando até bater numa árvore e parar. Tiro as folhas e a terra que está em cima de mim e começo a rir. Mesmo com a queda doer, eu dou risada. Imagino-me caindo e rio ainda mais.

Paro de rir ao sentir uma dor ardente nas costas da minha mão. Sento-me e solto a arma de paintball para ver o machucado. Um pequeno corte sangra em minha mão. Então, meus olhos vão para algo atrás da minha mão, a deixando em desfoque. O que encaro é uma flor negra e bem bonita — pelo menos parecia ser bonita antes de eu ter a amassado. Nunca tinha a visto antes, nem em livros ou na internet. Ela contém vários espinhos abaixo das pétalas. Deve ter sido algum desses espinhos que causou esse corte em mim.

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