Capítulo Cinco

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— Eu acho que já vi isso antes... — diz Demi, quando mostro a carta para ela.

— O quê? — pergunto. — Onde?

— Eu não sei...

Nós estamos subindo as escadas do prédio. Passamos por duas pessoas coladas uma na outra, rindo com animação. Olho para trás para ver quem são e não demoro pra perceber que um deles é Harry. Fiquei tanto tempo o observando de costas que agora já ficou fácil reconhecê-lo. Ele gargalha e abraça uma garota. Sinto um leve aperto no coração com um pouco de raiva.

Então, me sinto idiota por ficar com ciúmes dele. Harry não é nada meu. Nem amigo. Não há motivo algum pra eu ter esse sentimento por ele.

— Quem era aquela? — pergunto.

— Era Harry — responde Demi, dando de ombros.

— Não — digo, balançando a cabeça.— Me referi à garota com ele...

— Era Clarissa — ela explica. — Recentemente eles dois andam grudados. Eu, se fosse você, tomaria mais cuidado com seu namorado.

— Vai se ferrar — reviro os olhos, mas deixo escapar uma risada junto.

Assim que chegamos no nosso andar, começamos a caminhar pelo corredor, indo em direção ao nosso apartamento. Clarissa... tinha que ser. Logo a colega de apartamento de Brenda. Sei que eu não sou ninguém para dar palpites na vida de Harry, mas... não tinha ninguém melhor?

— Me dê esse papel de novo! — diz ela. Eu já até havia esquecido da carta. Foco, Claire. Você precisa parar de pensar nisso. Eu a entrego e ela fica com os olhos grudados apenas no desenho da caveira. — Eu já vi isso! Tenho certeza!

— Onde?! — pergunto, esperançosa.

Um garoto passa esbarrando em meu braço com tudo enquanto corre distraidamente. Viro-me para pedir desculpas, mas ele já está nas escadas. Fico confusa. Pra que tanta pressa?

— Eu não lembro... hum... — Ela para de caminhar e eu paro ao seu lado. — Mas tenho certeza que já vi.

Enquanto nós conversamos, percebo que há diversas pessoas correndo em direção às escadas.

— Você já disse isso umas mil vezes, eu só preciso saber onde viu — digo. — Olha, esse papel pode significar muita coisa...

— Ei! — diz uma garota se aproximando correndo, vindo da direção oposta das escadas. Ela para na nossa frente e, então, eu percebo que é Bia. — Não estão sabendo?

Eu e Demi nos entreolhamos com expressões de confusão.

— O que aconteceu? — pergunto.

— Um zumbi — responde ela.

Assusto-me na hora.

— Aqui no condomínio?! — indaga Demi, surpresa.

— Sim, lá embaixo! — explica Bia. — Estão falando que ele saiu por um bueiro...

— Um bueiro? — digo, chocada. — Agora eles vêm pelo esgoto também?!

— Vamos lá ver isso! — conclui Demi.

Nós voltamos para as escadas e descemos correndo, assim como todos. Quando saímos do prédio, encontramos uma multidão em volta de algo. Não consigo ver com tantas pessoas altas, então vou para frente, me esmagando entre elas. Sinto um cheiro horrível de esgoto e carne podre ao mesmo tempo. Assim que saio de dentro do mar de pessoas, vejo a tampa do bueiro jogada para bem longe do buraco e um corpo ensanguentado cheio de ferimentos ao lado. Um cheiro horrível invade minhas narinas, penetrando no meu cérebro como se fosse se alojar em minhas lembranças para sempre. É uma mistura de esgoto, morte, sangue e carne podre.

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