Capítulo Quatro

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Assim que entro em casa, minha mãe surge parecendo assustada e, claramente, desesperada.

Onde você estava? pergunta ela, demonstrando toda sua irritação na sua voz.

Fui dar uma volta digo, andando em direção às escadas.

Nessas horas?! 

Bufo e continuo subindo as escadas, a ignorando.

Para! — ela exclama, me fazendo parar no meio do caminho.

Respiro fundo e me viro para ela. Penso em continuar ignorando, mas agora já é tarde demais:

Por que, mãe? — indago, perdendo a paciência. Pra você me dar uma bronca por ter saído? Você nunca está em casa! NUNCA! Não tem o direito de ficar brava comigo só porque eu saí.

Por um momento, o silêncio paira entre nós. A falta de sons ao redor faz uma onda invisível de tensão cair sobre nossa casa.

Filha... — ela fala com sua voz baixa, parecendo entrar na defensiva. Seus olhos já estão cheios de lágrimas.

Corro para o meu quarto. Jogo-me na cama. Não choro, mas afundo minha cara no travesseiro. Minha irmã está no quarto dela, não deve ter saído de lá e nem deve ter desconfiado que eu saí, como também não deve ter escutado a discussão na escada.

A porta se abre. Minha mãe entra no quarto e coloca a mão em minha perna. Seu toque me transmite um pouco de calma.

Filha... — fala ela. Eu me viro para encará-la. Você sabe que eu não tenho tempo por causa do meu emprego. Já estou procurando outro, mas vai demorar muito para encontrar...

Eu sei, mãe... respondo, abaixando a cabeça.

Talvez tenha sido injusto eu ter gritado daquela forma com ela. Eu sei que não é culpa dela, mas... mesmo assim... há momentos em que eu não consigo me controlar. Eu, simplesmente, explodo...

Por enquanto vamos continuar assim... — ela fala. Mas isso irá mudar... Eu prometo...

Ok, mãe... digo. Me desculpa... Eu só...

Tudo bem... — ela me interrompe.

Levanto o olhar para encará-la, mas ainda mantenho a cabeça baixa.

— Eu te amo.

Eu te amo mais.

— ACORDA! — grita Demi, me fazendo dar um pulo. — Vamos, segundo dia! Temos que fazer isso todos os dias, vai, vai, vai!

Sento-me na cama, me lembrando do sonho... De minha lembrança, quero dizer. Nunca tinha sonhado com uma lembrança. Meus sonhos estão ficando cada vez mais confusos... Isso me fez lembrar dos tempos em que a indústria conservadora tirava o tempo da minha mãe. Nem no fim de semana ela estava livre. Queria ter conseguido passar mais tempo com ela antes disso tudo... Eu deveria ter sido uma filha melhor. Não deveria ter gastado meu tempo com ela fazendo besteiras como essa. 

Agora é tarde pra se lamentar, Claire...

***

Todos os Sinistros param na frente de Louis, que está com um fuzil enorme na mão. Lembro-me de Dylan falando que os Sinistros preferiam usar armas brancas primeiro e me pergunto por que Louis não está usando uma arma branca ou com silenciador. Isso pode ser perigoso para nós.

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