Capítulo Vinte e Quatro

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Entro na enfermaria. Vai ser a primeira vez em dois dias que vejo Demi. Esses dois dias foram longos. Não encontramos muitos suprimentos lá fora, mas eu encontrei uma caixa cheia de comida em uma casa. Ontem, eu e Harry passamos quase o dia todo dentro daquela sala de treinamento. Eu estou quase aprendendo a atirar facas, mas ainda falta muito para ele no arco. Jogar facas é totalmente ao contrário de atirar flechas. Nas facas, você precisa ser rápido, não pensar muito. No arco, você precisa de concentração, precisão boa e pensar bem.

Indo para a cama de Demi, vejo o garoto que atravessou o parabrisa do carro após ser atingido pelo punho do monstro. Ele sorri para mim e me manda um oi. Parece estar bem, tirando o gesso no braço e os cortes no rosto. Sorrio de volta para ele.

Paro em frente à cama de Demi. Ela está horrível. Sua perna está cheia de gaze e curativos. Seu rosto está inchado, cheio de machucados e com uma faixa branca amarrada em volta de sua cabeça. Ela está dormindo. Meu coração aperta ao vê-la assim.

Vou ao seu lado e aperto uma de suas mãos.

— Você vai ficar bem, Demi — digo. — Não vou deixar que nada aconteça com você.

Ouço passos se aproximando. Olho para o lado e vejo um médico me observar. Ele sorri para mim. Não consigo retribuir. De alguma forma, a imagem de Demi assim mudou meu humor.

O médico usa um óculos redondo, um avental branco aberto e uma calça branca também. Está vestindo igual os médicos antigamente. Quando existiam hospitais funcionando.

— Quando a vi pela primeira, vez pensei que não ia ter jeito de salvá-la — diz ele, olhando para Demi. — Sou Marcus.

— Sou Claire — digo.

Pego a mão de Demi, com as duas mãos. Queria estar aqui sozinha com ela, mas também não tenho coragem de expulsar o médico.

— Eu sei — diz ele. — Você é a garota desesperada que carregou a amiga pesada até aqui. Você tem muita coragem.

Continuo sem sorrir, mesmo com o elogio.

— Não foi coragem. — Digo. — Foi instinto.

— Para mim, sair no meio da rua infestada de zumbis com a amiga nos braços é ter muita coragem. — Diz ele. — Não apenas instinto.

— Não vim sozinha. Dylan e Harry me ajudaram.

Ele dá de ombros.

— Continua sendo um ato de coragem para mim.

Resolvo não discutir com ele. Não me acho corajosa. As pessoas corajosas enfrentam seus medos. Eu normalmente, me escondo deles.

— Claire... — continua ele. — Ela vai ficar bem.

Finalmente, sorrio para ele. Ela vai ficar bem. Eu sei que vai.

De repente, sinto a mão dela apertar a minha. Olho para ela e vejo seus olhos abertos. Ela sorri e faz uma cara de dor depois. Sorrio para ela.

— Como está? — pergunto.

— Como se uma faca tivesse entrado na minha perna... — diz ela com dificuldade.

***

Demi disse que toda a parte do corpo dela dói e que acredita que os Sinistros podem ir até o hospital pegar o remédio. Foi bom ter uma conversa com ela após dois dias sem nem a vê-la.

Quando estou voltando para o meu apartamento, sou parada por Harry.

— Preciso te mostrar uma coisa — diz ele.

— Eu preciso dar comida para a Andy... — começo, mas sou interrompida.

— É uma coisa séria. E rápida. — Ele diz sério.

Minha curiosidade desperta. Tenho tantas perguntas na minha cabeça e a única coisa que Harry faz é colocar mais.

Nós descemos as escadas até o térreo, depois ele me leva até o prédio dele. Nós vamos até a porta das escadas para o estacionamento. Normalmente, tem um Guarda na frente. Não podemos entrar no estacionamento sem a permissão de um Guarda. A garagem é cheia de Maléficos. Não sei o motivo. Claro que alguns Maléficos para impedirem as pessoas de roubar carros e fugirem do condomínio é normal. Mas a quantidade que eles tem é demais. No dia que eu saí de carro com os outros, surpreendi-me com a quantidade deles.

Mas... Se tem tantos Maléficos assim, não tem só carros nessa garagem. Eles devem estar escondendo alguma coisa. É por isso que Harry me trouxe aqui. Ele descobriu alguma coisa.

Nós descemos até a garagem. Paramos em frente à porta dela, mas Harry não abre. Ele faz um sinal para pedir que eu faça silêncio e se agacha. Percebo que há um duto perto do chão. Eu o vejo tirar a tampa do duto de ventilação facilmente. Ele já deve ter desparafusado antes. Então, ele faz um sinal para eu entrar.

Agacho-me e entro no duto. Ele não é tão pequeno, dá para ficar agachada. Harry fecha a tampa do duto e anda atrás de mim. Nós andamos agachados pelo único caminho que tem por aqui. Então, paramos em uma interseção. Harry pede para seguir na direita e eu obedeço. Vamos até o final do duto e eu tiro a tampa.

Nós saímos do duto e entramos em uma sala pequena. Tem vários armários, uma mesa encostada na parede do outro lado e um mapa-mundi pendurado na parede. Mas há algo errado com o mapa. Aproximo-me mais.

Tem um circulo desenhado em volta da América do Sul inteira. Uma seta está apontando para o circulo com a letra C na outra ponta. No centro do circulo há uma palavra escrita em letras escuras.

Um calafrio percorre minha espinha quando eu leio a palavra.

Infecção

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