13. Onde vive o destino

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Despertei com o raiar da alvorada pincelando timidamente o meio do céu e despontando em um laranja suave sobre as nuvens ao redor. Mais acima do meu campo de visão, tons rosáceos espantavam as sombras purpúreas, declarando outro fim de horas escuras.

Em harmonia, os pontos luminosos, que eu julgava serem estrelas, dançavam na névoa. Por um ínfimo momento, o pavor de altura me abandonou. Só existia uma estranha beleza até onde a minha vista alcançava.

Eu já não estava presa por garras, mas repousando sobre o enorme dorso ornado de plumas de Tondra, o pássaro-trovão. Minhas roupas haviam secado, apesar da tempestade causada pelo meu alebrije.

— Tondra, já estamos chegando? — Toquei-o com as pontas dos dedos, ainda entorpecida pelo sono.

Não falta muito. Descanse um pouco mais, Eva.

Fechei os olhos novamente, mas não adormeci. Pensei nos eventos da noite passada. Tondra havia me dito que era o meu alebrije.

Ele me explicou que todas as almas possuíam um guia espiritual que as acompanhava sempre em vida e na morte, como uma espécie de anjo da guarda. Quando desapareci sem deixar rastros, Tondra saiu em busca do meu paradeiro, e em sua procura por mim, conheceu um poderoso guardião que o alertou sobre os perigos de minha jornada e onde poderia me encontrar. Perguntei o nome de quem lhe contou, mas ele não soube dizer, apenas afirmou que era um senhor com um banjo.

Eu lhe implorei para que voltássemos, eu queria ajudar Montoya e Paco. Tondra relutou, afirmando que eles ficariam bem. Só desisti de convencê-lo após saber de sua revelação.

Eva, não há tempo a perder. Se não voltar ao Mundo de Los Vivos antes do próximo Día de Los Muertos, jamais conseguirá deixar esse lugar.

— M-mas o Día de Los Muertos ocorreu há três dias, acha que eu não vou conseguir as respostas para sair daqui em menos de um ano? — indaguei, contando nos dedos os dias que eu supus terem decorrido.

Jovem Eva, o tempo aqui corre em um ritmo diferente do tempo da Terra. Desde que partiu, já se passaram dois meses no Mundo de Los Vivos.

— Dois meses? — Meu estômago revirou naquela hora e senti a ansiedade asfixiar o meu peito. A primeira coisa que passou pela minha mente foi Joaquin. O que será que havia acontecido com ele em minha ausência? Ele deveria pensar que eu o havia abandonado. — E o meu irmão? E-ele está bem?

Sua situação na Terra foi considerada como desaparecida, mas não tema por Joaquin, ele está sob proteção provisória de uma família adotiva. Sua doença tem regredido um pouco a cada dia e está sendo bem cuidado.

Suspirei, sentindo o rosto molhado pelas lágrimas recém-chegadas. Eu não poderia me perdoar se algo ruim tivesse acontecido ao meu irmão, só esperava que estivessem mesmo cuidando bem dele.

Precisava voltar o mais rápido possível.

— Obrigada, Tondra. Obrigada — agradeci várias vezes, cedendo ao choro.

E não tema por Montoya e Paco, acredito que vossos caminhos voltarão a se cruzar em breve.

..

Em algum momento, parei de chorar. Assim que fiquei mais calma, permaneci pensando em Montoya e Paco durante o voo. Gostaria de ter tido tempo de descobrir o que o príncipe estava escondendo. Esperava que Tondra estivesse correto.

— Ei, Tondra, para onde estamos indo? — A essa altura, o pássaro-trovão já havia me permitido descansar em seu torso, ainda que eu não sentisse completa segurança, dada a altura que voava.

O Guardião dos MortosOnde histórias criam vida. Descubra agora