Nawaki

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    E então Tsunade acordou. O ambiente era calmo e claro, as paredes brancas uniam-se no infinito enquanto as flores brancas estavam dispostas cobrindo todo o chão, a loira agarrou o peito, sentindo uma branda presença se aproximar. Os passos lentos e curtos juntamente com a respiração calma e a áurea angelical fizera Tsunade arquear as sobrancelhas descrente, o semblante conturbado perdendo a tão costumeira impassibilidade.

      Nawaki ergueu o pequeno buquê de flores brancas, ajustando o pequeno laço carmesim. Um sorriso se fez presente em seus lábios e ele rodopiou em seu kimono azul turquesa. Tsunade sentiu -se confusa, sentia seu pequeno irmão naquele garoto, porém, eram pessoas totalmente destoantes. Nawaki tinha cabelos curtos, olhos castanhos e tez parda, enquanto o garoto em sua presença possuía cabelos negros longos como a noite, ondulados, e suas orbes eram donas de um azul calmo e cristalino, como as águas límpidas de um lago.

    - Mahina. - O garoto balançou as flores ao ar enquanto, de maneira imperativa, os cílios curtos umideceram por alguns instantes antes do garoto cobrir os mesmos com seu antebraço.

   - Precisamos ir, já que você voltou para casa. - Ele suspirou, tentando perpassar um cansaço simbólico, Tsunade riu distraidamente, enquanto uma das mãos tomaram um de seus olhos fazendo as pálpebras pesarem.

Casa, a quanto tempo não ouvia esse termo.

   Será que ela tinha, de fato, uma casa?

    O moreno pegou uma de suas mãos entrelaçando calidamente enquanto guiava uma caminhada apressada para o longínquo horizonte, distante das flores alvas.

   Podia senti-lo, seu toque era memorável como o oceano, e os cabelos escuros soltos bailavam contra o vento, lhe dando um aspecto juvenil.

   - Espere Karuke. - O nome lhe saiu escorregando por dentre os lábios, dotado de espontaneidade desconhecida pela própria loira até o atual momento.

   - Eu preciso avisar que você voltou. - Karuke rodopiava apertando o passo, ao qual ele pulava de maneira destra em alguns tocos brancos, semelhantes a escadas de degraus esféricos, que camuflavam-se por possuírem tons esbranquiçados.

   E então um vulto alvo espesso cobriu-lhe como uma redoma escura, que tremulziu cintilando em padrão conhecido.

  Goteja
  Goteja
  Goteja
  Goteja
  Corta
  Corta

   Os cristais vermelhos variaram-se em cores distintas formando nuances de padrões diferentes, até formar uma frase que diminuía em intensidade devido à limitada iluminação do véu escuro.

    "Encontre o objeto que marca o fim, os ponteiros que movem o jogo celeste"

   As mãos delicadas percorreram a superfície iluminada, sua imaginação a levou entre os pensamentos e sentidos possíveis para o que se apresentava a sua frente. O rosto formigou e manteve-se ereta quando a redoma escura se sobrepôs a sua carne lhe cobrindo a superfície de água.

     Ouvia o gotejar das lágrimas suaves, que como um bálsamo, caminhavam sua tez, que recolhia o líquido salgado, as pálpebras lhe pesaram lhe dando um impulso fraco para forçar com que os feixes de luz adentrassem  seu campo de visão. O corpo de Asami mantia-se debruçado sob o pilar de gesso que jazia próximo dali, uma austera presença, de áurea mais impositiva do que se recordara estava lhe agraciado, como se as gotas úmidas funcionassem como anestesiantes para toda a dor que sua alma portava.

    De maneira fantasmagórica, Asami sorriu, um sorriso que transcreveu muito mais do que sua existência terrena de pesar e sofrimento, um sorriso que denotou terno estado, seus olhos estavam vazios com espaços fundos e obscuros, porém a cena assombrosa não tornou o toque menos acolhedor ou saudoso.

     As mãos percorreram as madeixas loiras enquanto erguiam a cabeça da loira, colando as testas como uma última despedida. Os sussurros desceram ao pé de seu ouvido enquanto sua mãe desaparecia como se fragmentasse a brisa suave, que se tornou violenta, formando pequenos vórtices e quebrando-se de maneira quase que instantânea aos passos do garoto.

     Tsunade suspirou fundo sorrindo, enquanto as lágrimas tomavam forma, cobrindo seu rosto com o líquido quente, que escorria em detrimento da saudade acumulada.

      - Vamos Mahina, a caverna das almas pode ser o local mais precioso de Natsuhiboshi, porém você deve chegar ao poço antes dela voltar.

      - Natsuhiboshi? - Tsunade observou o garoto por sobre os cílios longos, em um olhar indagativo. O garoto parou a caminhada, rodopiando para lhe dar a devida atenção, o kimono cintilou em sintonia com as pedras gravadas nas extremidades pelas quais passavam os feixes de luz. E agora mirava o topo do local, a luz incidia na superfícies de uma grande rocha que refletia feixes coloridos por partes diferentes da caverna, que possuía um aspecto disrregular, logo abaixo, sentia seu calcanhar sendo regado por uma pequena fonte de água cintilante, no qual refletiam outros pequenos fachos de luz e a superfície de pedregulho liso e limpo, sem sinal de qualquer musgo se acumulando. Como em um susto, a loira oscilou escorregando entre as lisas pedras suspendendo o hábito entre as pernas abertas em um triângulo.

     O moreno virou -se rodando travesso, enquanto pulava sob o curso de água de vazão pequena de maneira destra enquanto equilibrava seu peso entre os braços curtos estendidos. Tsunade bufou.

      - Parece que perdeu o costume Mahina. - Karuke disse entrecortado por uma risada, ao que seus pés deslizaram pela superfície rochosa fazendo seu corpo aterrissar de maneira desastrosa sobre o corpo de água.

     - Parece que você também Karuke. - As palavras se tornaram fluidas e ela pôde segurar uma risada com o antebraço, prevendo as sobrancelhas escuras curvadas e a boca fechada em descontentamento, porém sua expressão suavizou de maneira cálida, fazendo o semblante da loira torcer - se em indagação.

  - Fico feliz que tenha voltado.

    

A enviada | JiraTsunaOnde histórias criam vida. Descubra agora