O rosto de Shizune foi tomado por mãos grosseiras, que levaram sua face de encontro com a parede repetidas vezes, enquanto a morena apenas se mantia calada, sentindo as lágrimas contornando suas bochechas.
A pobre mulher era apenas uma humilde camponesa que não tinha onde cair morta, vivia de migalhas, e por morar no norte do país do fogo, sofria com os rígidos invernos que acabavam com os mantimentos, assolando a pobre população da pequena aldeia de Akamura.
Shizune criava gado leiteiro, mas quando as épocas mudaram, as criações não prosperaram e ela se viu obrigada a roubar para sobreviver.
Vivia se cobrindo com cangalhos, se abastecendo com a água corrente dos rios, e comendo migalhas, provenientes tanto de esmolas como pequenos furtos.
Vendeu sua fazenda pouco valorizada para desembolsar uma pequena quantia que lhe manteve por poucos meses em algumas pensões.
As verduras estavam caras demais, a carne só sobrava para as família pouco melhores de vida, o povo temia que aquele seria o fim da aldeia.
Até que foi pega em seus furtos e espancada até sua quase morte, quando Hiruzen, padre de Konohagakure lhe recrutou para treiná - lá como cordeiro dos templos.
Ela já não se via com outras saídas e decidiu optar pela vida de submissão. Embora preferisse viver sob tutela de Danzou vivendo no templo, a vida lá não era fácil, as pessoas lhe olhavam com olhares impiedosos pelos seus pecados, questionando o porquê de ser absolvida e salva, além dos constantes abusos de poder provenientes das outras irmãs e de Hiruzen, principalmente. Vivia esfregando os chãos, sendo espancada, cozinhando para as outras freiras, repondo mantimentos, e sendo desrespeitada.
Até que um dia pôde conhecer sua luz no fim do túnel. Uma bela mulher loira intitulada de Tsunade, com suas belas madeixas claras que viviam presas, seus olhos portadores de um castanho claro e delicado, que transmitia compaixão e compreensão.
Desde a chegada de Tsunade, Shizune se via cada vez mais encantada e absorta na loira. Shizune nunca esteve tão tentada a se aproximada de alguém, sentia que seu coração batia descompassado quando dividia poucos momentos com a mesma, e se perguntava se as borboletas no seu estômago significavam amor.
Tentou se declarar, mas a loira a "repeliu" gentilmente. Disse que não correspondia aos seus sentimentos.
E foi desta forma que Shizune se entregou ao desespero, tentando sugar, mesmo que pequenas, as migalhas de atenção da loira, insistindo em algo inviável.
Depois, a morena se questionou da própria existência patética, vivendo sempre das migalhas das pessoas acima de si, sem nunca merecer algo que fosse só seu. Desde os dias de vitórias até as suas perdas, que nunca foram só suas, nunca significaram nada para si, tudo sempre representou algo para outras pessoas.
Ela já havia se acostumado a viver deste modo trágico, mas pelo menos uma vez, uma mulher tão sem esperanças, sonhou com uma vida que não lhe pertencia, a vida de Tsunade, ela queria ser como ela, viver como ela.
Aos poucos, o amor virou obsessão, Shizune já não se contentava mais em apenas respirar do mesmo ar de Tsunade, ou dividir sua companhia nos mesmos ambientes, ela havia começado a roubar seus pertences e fazer um acervo em homenagem a loira.
Shizune tentava incorporar a Tsunade, agir como ela, rir como ela. Mas não era o suficiente, depois, ela percebeu que "ser a Tsunade" não era o que ela queria, ela queria sentí - la.
E durante a noite, cega pela sua obsessão por Tsunade, tentou alisá- la. Mas a loira, conseguiu perceber a presença da morena, antes de ser tarde demais.
Shizune foi condenada a se isolar no templo sagrado, permanecendo no porão por semanas, sem alimentação decente ou água, vivendo na miséria como em Akamura, reclusa de seu mundo, reclusa de sua Tsunade.
Quando retornou ao espaço comum do templo, as freiras estavam piores, vivendo a lhe humilhar, espancar cada vez mais, abusar de sua submissão de sempre, ao passo que Hiruzen lhe tratava mais friamente, lhe dando ordens como um ditador tirano.
Tsunade já não conseguia mais se manter no mesmo espaço que a morena, sempre lhe evitando ou contornando suas tentativas de se aproximar.
O acervo de objetos de Tsunade, fora confiscado, e Shizune já não conseguia mais viver daquele modo.
Estava no inferno
O inferno sem a Tsunade
Sem a sua Tsunade
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A enviada | JiraTsuna
FanfictionTsunade sabia que não estava lá para superar perdas ou ser perdoada, ela só sabia que não tinha aonde pertencer, passava noites se sentindo vazia, frustrada, cansada, apenas para se render a igreja e a ideais considerados corretos que a sociedade ju...