Iluminar

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      As mãos trêmulas de Hanabi rodeavam Karuke, os gritos incessantes do garotinho de poucos anos preenchiam o cômodo, suas mãos pequenas puxavam as bochechas da mãe em súplica.

    - Mamãe! - Karuke berrava, o corpo frágil e cadavérico da mãe pedia lentamente sob o seu, fazendo força para que caísse sobre si derrubando os vasos de flores da escrivaninha próxima. Os cacos de cerâmica adentraram sua pele, fazendo o garotinho soltar grunhidos de dor, acompanhados pela respiração acelerada e pulsação descompassada de seu coração. O rosto de sua mãe jazia em seu tronco magro e pequeno, os cabelos acastanhados no qual possuira tanta afeição estavam entrelaçados em nós espalhados pelo seu corpo, ocultando o rosto de Hanabi.

     A criança levantou a cabeça da mãe, tremia e tentava engolir os nós que se formavam em sua garganta, o sangue pulsava pelo seu corpo e o suor porejava, as mãos foram ao encontro do rosto de sua mãe, levantando a cabeça com delicadeza e afeição, engatando em choro mudo ao deparar - se com o corte profundo na garganta da mesma, engasgou - se com o contraste entre suas emoções mas o choro mudo perdurou por horas. Levantou o rosto pálido e sem vida de sua mãe, recolhendo um dos cacos do objeto de cerâmica recém destruído para arrancar-lhe a cabeça do corpo.

      Sujo de sangue, Karuke levantou-se trêmulo agarrando a cabeça pelas madeixas de cabelo emaranhadas afundando as em água morna. Enquanto lavava os cabelos com dedicação, o choro lhe fazia tremer, prender o ar, tossir e engasgar de maneira dolorosa. Após terminar, abraçou a cabeça alheia e a colocou sobre uma das cadeiras de madeira velha e desgastada, penteou os cabelos da mãe, divagando entre pensamentos distantes, moveu-se para o pequeno buquê fazendo uma pequena coroa de flores para sua mãe, dispondo do arranjo delicadamente sob sua cabeça. Foi para o espaço vago atrás da humilde residência, cavando um buraco irregular para enterrar a cabeça de Hanabi.

      Suspirou de maneira trágica, sentando sob o túmulo recém feito, e dando um beijo terno na terra úmida, enquanto as roliças lágrimas formavam - se, despejando sob o espaço abaixo de si. E então a chuva iniciou - se timidamente, espalhando sua tristeza pelos céus, o garoto deitou - se recebendo o gotejar grosso em seu corpo cadavérico.

     " Espero que possamos nos encontrar mamãe "

    Sorriu docemente encarando as nuvens imponentes que rodeavam o local responsáveis por espalhar sua lamúria, os olhos cansados fecharam - se devagar abraçando o fenecimento de tudo.

      " Obrigada por tudo "

    



     Talvez não fosse o fim.

     Era apenas o início.

         - Que detestável esse fim garotinho. - A mulher disse vagando entre o início e o fim de sua inconsciência. - Eu posso te salvar, mas para isso você têm que estar disposto a fazê- lo.

      Karuke gemeu baixo, resmungando frases desconexas, ao que seus cabelos escuros foram agarrados por longas unhas grosseiras.

    - Você terá tudo o que sempre quis. Confie em mim. - A mulher de chapéu pronunciou sibilando, sua áurea emanava perigo e o garoto contorcia perante a presença agressiva chiando e se debatendo sob o agarre.

   E então tudo se tornou claro.

    Como a luz do dia.

    

A enviada | JiraTsunaOnde histórias criam vida. Descubra agora