Tomuki

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  Os pés ensopados tremiam quase em sintonia com o corpo fraco e magro, os cabelos despenteados e sujos recolhiam as grosseiras gotas de chuva, as roupas desgastadas pendiam para os lados e as profundas olheiras se faziam presentes.

Estava fadada, a morte era inevitável, o vazio lhe contaminava de maneira tão perene que beirava o cômico, o trágico.

Ela se agarrou em um fio de esperança, o fio de voz, o berro gutural, o fim da tênue linha entre a vida e a morte.

Esse era o seu fim, futuro fadado ao enfermo corpo largado ao chão, a chuva escoando pelas olheiras cadavéricas, havia abraçado a ideia, se modificado para com suas obrigações e abraçado a morte. Entretanto, estava feliz, feliz por dar fim ao início, feliz por justapor seus motivos insignificantes, feliz por se vangloriar da vitória, vitória esta, que só significava para si, enquanto os outros gosavam de sua prepotência facultativa. Miserável era ela, aquela que se confundiu nos próprios ideais e acabou morta pelos mesmos, aquela que aderiu a ideia á carne e solidificou a alma, aquela que abriu mão de seu cerne para se mostrar capaz.

- Pobre Tomuki..

A garota sorriu enquanto segurava seu comprido chapéu, as gotas deslizavam por sobre seu guarda - chuva escuro, os óculos negros tomavam generosa porção de sua face e os saltos negros adornados por pequenas pedras brilhantes tilintavam enquanto o som ecoava pela mente da criança, que aos poucos sentia seu corpo fenecer.

Goteja
Goteja
Goteja
Goteja
Corta
Corta

A mulher de pé estirou seu pequeno relógio de bolso, as orbes brilhantes fitaram com aparente desgosto, enquanto as luvas de cetim escuras escorregavam pelas suas mãos.

- Parece que o tempo acabou. - Ela entonou de maneira suave, enquanto seu entorno parecia escurecer, ela cantarolou antes de retirar suas luvas delicadas e prender os fios castanhos de cabelo para trás.

- Tente de novo, talvez tenha mais sorte. - Ela deu uma risada macabra antes de puxar os fios da garotinha, que se debateu fracamente, fazendo seu corpo pequeno se mover para frente. A mulher sorriu brevemente e forçou o agarro, levando o crânio da garota de encontro com o chão.

A dor era lancinante.

As lágrimas que contornavam seus olhos eram o cálido refúgio da sua alma, o reconforto de seu âmago.

Goteja
Goteja
Goteja
Goteja
Corta
Corta

Talvez aquela não tenha sido a primeira vez..

O sangue escorria gotejando de sua testa, as orbes vagavam lentas pelo céu.

- Tsu..












- Você voltará, tente de novo.

A enviada | JiraTsunaOnde histórias criam vida. Descubra agora