Para lá e para cá
Tic, tac.
O tédio me possuía.
Meus olhos acompanhavam cada movimento daquele relógio enferrujado feito de madeira, pregado na parede e acima da mesa do cozinheiro mais cobiçado da cidade, vulgo, meu pai. Eu me derretia na poltrona marrom em conjunto ao seu escritório, sentindo minhas costas suadas por tanto tempo ali.
— Me dê cinco motivos para não quebrar esse relógio. — Indaguei.
— Você devia estar vigiando a porta. — Ryan disparou.
O garoto de olhos claros estaria revirando todos os papéis da mesa, além de abrir gavetas enquanto carregava um semblante aflito. Intercalava seu olhar o tempo todo entre a papelada e a porta.
— E você não devia roubar nosso pai.— Debati, erguendo as sobrancelhas.
Ele parou e bateu os cílios. Um ar de deboche saiu de seus lábios como se estivesse fingindo que estaria ofendido.
— Eu tô falando pra você...— Voltou a olhar os papéis. —...Guardei o dinheiro para comprar os quadros, precisava fazer uma réplica. E do nada, sumiu! — Explicou, balançando as mãos grandes e de certa forma, delicadas, como seus desenhos.
— Você acha mesmo que o nosso pais pegou seu dinheiro? — Questionei, tentando me ajeitar na poltrona que já incomodara.
— Você acha mesmo que nosso pai não roubaria nosso dinheiro? Ainda mais para comprar mais relógios antigos, que nem esse aí? — Ele sorriu de lado o que fez mexer sua orelha esquerda repleta de piercings.
Parei para pensar, analisando seu rosto. Meu pai amava relógios antigos.
— Olha dentro do relógio! — Exclamei, como se uma lâmpada de ideias erguesse em minha cabeça.
Ryan me olhou desconfiado, mas logo se virando e alcançando o relógio na parede. Assim que retirou do prego mal feito, virou o objeto dando de cara com a parte de trás. Ele se virou para mim rapidamente, surpreso. Esperei uma resposta, gesticulando minha mão para que falasse logo. Lentamente, virou o relógio e ali estava o dinheiro, grudado com uma fita adesiva.
— Eu falei! Ele sempre faz isso, nem parece que trabalha. — Vitorioso, Ryan retirou o dinheiro e veio na minha direção. — Se o jantar do George não fosse amanhã, eu guardaria o dinheiro, mas preciso de uma roupa, vou de guerreiro como parte do tema.
Comecei a me erguer da poltrona de plástico. Revirando os olhos quando Ryan fez alguns movimentos semelhantes ao de carregar uma espada.
Um idiota.
— Aliás, por que estão fazendo o jantar agora? Eles sempre fazem no meio do ano.
Questionei enquanto nos direcionávamos a porta. Prontos para passar pelo corredor e consequentemente pela cozinha extremamente modelada com um design de taças, dando sentido ao nome do restaurante . Além de escutar o chefe gritar com os funcionários para acelerarem em seus deveres.
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Outro Tipo de Amor
RomanceDedico esse livro a todas as pessoas que se sentem figurantes em sua vida. Bunny Rose é uma jovem estudante do ultimo ano do colegial, que se vê presa em um triângulo amoroso entre seu melhor amigo, Adam Jones, e sua amiga, Violet. Cansada e desconf...