When the sun has set, no candle can replace it

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Capítulo XIV

Porto Real

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Viu-se no corpo de um jovem de dezesseis anos. Sua armadura e espada sujas com o sangue do Rei que jurou proteger. Arfou horrorizado quando percebeu o momento no qual se encontrava, antes de começar a correr em direção ao berçário real. Todo seu foco estava em Elia, conseguiria salvá-la e os dois viveriam felizes. Teria sua parte dos Sete Paraísos na terra.

Quando adentrou as câmaras do berçário, encontrou os guardas e servos mortos e a porta do quarto de dormir fechada. Um terror envolveu seu corpo, antes que arrombasse a porta. Viu Elia com as vestes rasgadas deitada no chão, ela tinha o olhar vazio e o rosto sujo de sangue. A Montanha tinha os calções abaixados e estava prestes a se atirar sobre Elia. Com um movimento rápido da espada, Jaime cortou o braço de Gregor. A Montanha gritou de surpresa e antes que pudesse contra atacar, a espada de Jaime lhe atravessou a garganta.

Jaime ofereceu-se para ajudá-la a levantar-se, mas Elia recusou e seguiu rapidamente em direção à porta. Ele a segurou pelo braço, temendo que algo lhe acontecesse se estivesse longe. – Você está segura agora, não precisa se assustar.

— Rhaenys! – Elia chorou desesperada. Os olhos cor de âmbar seguiram para o pequeno corpo dilacerado no canto do quarto. Jaime acompanhou o olhar dela horrorizado. – Mandei que ela se escondesse no quarto no andar de cima. Salve-a, Sor Jaime, não posso perder outro filho.

Jaime beijou o rosto de Elia antes de deixar o berçário e seguiu para o andar de cima. As câmaras do Príncipe Rhaegar estavam silenciosas e a quietação não era um bom sinal. Com cuidado e a espada em mãos, vasculhou o aposento em busca da Princesa. Lágrimas inundaram os olhos de Jaime quando vislumbrou o corpo pequeno perfurado diversas vezes no chão. Sor Amory Lorch estava saqueando as joias do Príncipe Rhaegar e alheio à presença de Jaime no quarto.

Com delicadeza, Jaime fechou os olhos violetas da criança. Rhaenys se assemelhava a Elia fisicamente e possuía os olhos valirianos do pai. Não parecia certo envolvê-la com a capa imunda que estava usando, pegou o pequeno corpo e colocou sobre a cama, cobrindo-a com as peles. Parecia que a menina estava dormindo.

— Sor Jaime. – Amory Lorch pareceu envergonhado ao ver o filho de Lorde Tywin, os bolsos cheios de todas as joias que conseguiu encontrar nos pertences do Príncipe. – Levarei o corpo da criança para a sala do Trono de Ferro conforme as ordens de seu pai.

— Não deixará esse quarto com vida, Sor. – Jaime informou-lhe, os olhos atentos à figura de Rhaenys. Acariciou o cabelo escuro como um pai atencioso e então pensou em Joanna, a filha que havia tido com Elia. – Ela poderia ter sido minha filha.

Amory tentou escapar do quarto como um covarde, mas não conseguiu passar por Jaime que o feriu com a espada. A lâmina atravessou o estômago do homem, fazendo-o cuspir uma grande quantidade de sangue. Jaime então limpou o sangue nas vestes de Amory, antes de embainhar a espada. Pegou o corpo de Rhaenys com cuidado e retornou para o berçário.

Ao perceber que Rhaenys estava morta, o som do grito de Elia o assombraria pelo resto da vida. Ela embalou a criança com carinho e durante horas cantou uma música em uma língua que ele desconhecia, em um esforço desesperado de proteger a alma da filha que teve a vida despojada de modo tão violento. No final, Elia adormeceu de exaustão, agarrada ao corpo de Rhaenys.

Três dias após Rhaenys e Aegon serem cremados conforme a tradição valiriana, Jaime estava ajoelhado ao lado do corpo morto de Elia. Chegou a tempo de encontrá-la com vida e falhar em tentar descobrir que substância ela havia ingerido. Segurou o corpo fraco de encontro ao seu enquanto contava sobre seus sentimentos, sobre a vida feliz que poderiam ter tido, à maneira como os filhos que teriam seriam adoráveis. Ela o ouviu com atenção, entrelaçando os dedos frios com os dele e agradecendo. Antes que os olhos quentes cor de âmbar fechassem para sempre, Elia lhe sussurrou: O amor às vezes não é o suficiente, Sor Jaime.

O amor às vezes não é o suficiente, Sor Jaime.

O amor às vezes não é o suficiente,

Sor Jaime.

O corpo dela foi velado durante sete dias no Septo Baelor. Os plebeus quase incendiaram a cidade ao saber da morte da Princesa Elia, eram fortes os rumores de que ela havia sido assassinada. O Alto Septão orou em frente ao Septo durante todos os dias, destacando como os males da guerra forjada pelos homens sempre castigavam mais as mulheres e crianças; nenhum dos apoiadores do Usurpador se atreveu a tentar censurar as palavras do religioso, embora todos concordassem que a morte da Princesa era um inconveniente para o bem estar da cidade e uma possível tentativa de paz com Dorne.

— Acreditei que as coisas seriam melhores, filho. – Joanna murmurou e não se sentiu ferida por Jaime não tê-la reconhecido.

— Vá embora! – Jaime pediu, não queria lidar com essa mulher maldita e então se sentiu mal por ofender a própria mãe, mesmo que em pensamento. Só desejava ficar sozinho e pensar em Elia, em como poderia ter tido tudo e de alguma forma ficou sem nada. – Já fui atormentado o suficiente com toda essa bruxaria, agora estou preso em um corpo infantil, tendo de viver o resto de meus dias com o conhecimento de uma vida miserável.

— Ela era uma menina tão doce. – Joanna murmurou. – Às vezes coisas terríveis acontecem com pessoas extraordinárias.

— Ouvir isso deveria fazer com que me sentisse melhor? – Um misto de raiva e tristeza o dominava. – Não tenho nada. Deve ser bom de algum modo assistir meu sofrimento, do contrário não estaria aqui contra minha vontade.

— De que adianta o amor quando tudo o que lhe é querido é arrancado de você? O amor não é tudo. É um trabalho muito árduo e contínuo, talvez a imaturidade desse corpo o tenha convencido que, após uma declaração simples, Elia teria se jogado em seus braços e agradecido. – Ela riu um pouco, antes de prosseguir. – Haverá mais uma chance, se você desperdiçá-la tudo estará perdido. – Explicou, sentando-se na cama e apontando para o espaço ao seu lado. Jaime a obedeceu e Joanna depositou a cabeça do filho sobre seu colo e acariciou os cachos dourados como quando ele era uma criança. – Você dormirá e então por apenas algum tempo terá as lembranças de tudo o que houve. Precisa fazer as escolhas corretas Jaime, pois então tudo será perdido, se falhar não terá recordações da vida que teve com Elia e talvez isso seja um conforto.

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