Golden Tears

Every Mother's Son

Capítulo IV

Porto Real

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Jaime acordou quando uma mão delicada tocou seu ombro suavemente. Abriu os olhos devagar, reconhecendo Joanna que acenou para que ele a acompanhasse e deixou o aposento. Ele se levantou devagar, cobrindo Elia, antes de se vestir e seguir por onde a mãe saiu. A caminhada foi feita em silêncio, deixaram a Torre da Mão do Rei e foram até o Bosque Sagrado da Fortaleza Vermelha. Havia visitado poucas vezes o local, observou o acre de olmos amieiros e choupos que pairam sobre um rio de águas escuras. A árvore-coração era um grande carvalho, cujos antigos ramos se tornaram cobertos de trepadeiras de bagas-fumo.

— Então nesse universo o seu desejo se tornou realidade, em partes, se bem me recordo desejava uma aliança dupla com a casa Martell. – Jaime falou alto, sua voz sobrepondo o forte vento noturno. Apertou o grosso casaco que trajava, mesmo que fosse verão, as noites geladas estavam se tornando cada vez mais comuns, anunciando que a mudança de estação estava próxima. – Cersei para Oberyn e Elia para Jaime. – Repetiu as palavras que tinha ouvido a mãe dizer quando era mais novo. Recentemente se recordava dela com mais clareza.

— Não acho que eu esteja aqui para isso. – Joanna sussurrou baixo, como se estivesse dizendo um segredo para apenas os ouvidos de Jaime. – Você deseja me perguntar coisas. Pergunte.

— Esse lugar é real? – Jaime perguntou curiosamente. Desde que acordou ao lado de Elia, estava vivendo a vida do outro Jaime, o verdadeiro, aquele que de fato havia se casado com a Princesa Dornesa e era pai de seus filhos. Todos os dias descobria um fato novo, lembranças desconhecidas apareciam em sua mente e não sabia se elas eram reais ou não. – As lembranças e vislumbres que tenho, são reais?

— São reais para as pessoas daqui. – Joanna responder de maneira misteriosa. – Cada lembrança e vislumbre que você tem, aconteceram na vida do seu outro eu. À medida que você estiver aqui, irá adquirir essas lembranças e se tornar cada vez mais como o Jaime desse universo. Elia é sua esposa e essas crianças são seus filhos. A Rebelião de Robert não aconteceu. – Um sorriso orgulhoso se formou nos lábios de Joanna. – Sua irmã agiu muito rápido durante o Torneio, quando notou o interesse de Rhaegar, desgraçou a menina Stark e até hoje destrói todas as jovens que despertam o interesse do Rei. Robert Baratheon se casou com uma das irmãs de Mace Tyrell. Tyrion é o Alto Septão como você já sabe, vive como se fosse casado com Tysha e tem uma filha, Lanna.

Jaime ouviu a mãe atentamente, impressionado com a quantidade de informações e as mudanças de um mundo para o outro. Estava feliz pela Rebelião não ter ocorrido, por algum motivo sentia grande aversão por Rhaegar, mais do que sentiu por Robert. Uma felicidade o tomou ao saber que Tyrion estava feliz com Tysha, pelo menos o irmão nesse mundo não o odiaria. – Como ele se tornou Alto Septão?

— A Fé é o melhor lugar para uma criança deformada que não possui o amor do pai. – Joanna soou desinteressada. – Sua deformação é uma vergonha para a nossa Casa, mas na Fé ele teve a oportunidade de alcançar a grandeza, devido a sua inteligência. Foi para o melhor. – Voltou-se para Jaime e o olhou de maneira intensa. – Um jovem Septo retorna para o Oeste e junto do irmão mais velho encontra uma menina meio morta de fome sendo abordada por alguns homens suspeitos. Ela é levada sob a proteção do jovem Septo e iniciada por ele na vida religiosa. Tysha é a obra de caridade do Alto Septão.

— Pai não me fez mentir? – Jaime perguntou incrédulo.

— Ele tentou, mas você se recusou. – Joanna explicou sorrindo. – Elia o convenceu a não mentir, enfatizou que seu irmão possuía o direito de ter uma relação verdadeira.

Jaime concordou com a cabeça. O olhar devastado do irmão menor ainda o assombrava, por dias após o ocorrido sonhou com o momento em que Tyrion descobriu que Tysha não era uma prostituta. Havia tristeza, traição e desapontamento no rosto daquele que por muitos anos o admirou e amou. – Arrependo-me... Não sabia que o meu pai faria... Nunca imaginei que ele pudesse fazer algo tão bárbaro.

— Sempre tomando decisões drásticas. Ele sempre temeu que o nome da Casa Lannister fosse manchado. Nada justifica suas ações, mas os tempos eram outros quando seu avô governou o Oeste, nós éramos a piada dos Sete Reinos. Um governante fraco abre espaço para vassalos ambiciosos questionarem sua autoridade e poder.

— Às vezes só queria esquecer a Casa Lannister. – Jaime confessou. – E ser outra pessoa em outro lugar.

— Você não pode, é o herdeiro! – Joanna respondeu secamente. – Seja nessa vida ou na outra, é o seu destino e dever para seus familiares e povo. Um dia terá de governar o Oeste!

— Eu quero saber se vou ficar aqui.

— Eu não sei. Essa não é a sua vida e você não é esse homem, mas à medida que ficar aqui se adaptará. Sei que já notou como seu corpo reage a Elia e a maneira carinhosa com que pensa e trata seus filhos. – Joanna abraçou o filho. – Você ficará aqui, pelo tempo necessário. Não precisa me perguntar quanto tempo, eu não sei, talvez, dias, meses ou anos. – Desvencilhou-se de Jaime e tocou-lhe o rosto com a mão gelada.

— Então mais cedo ou mais tarde retornarei para aquele inferno?

— Retornará um dia para sua verdadeira vida. – Joanna informou com tristeza. – Eu queria não ter morrido, desejei tanto estar ao seu lado, teria feito de tudo para garantir a sua felicidade. Deveríamos ser felizes.

Jaime sentiu vontade de chorar. Sentiu os dedos de sua mãe enxugarem suas lágrimas. – Você tem algum conselho? – Desejou saber.

— Viva como se essa fosse a sua vida. Preste atenção nas lembranças e mudanças. Você conviverá com pessoas que estão mortas na sua outra vida, pessoas que nem mesmo existem na sua vida real. – Joanna suspirou antes de continuar. – Muitas vezes, é possível que os Sete lhe agraciem com uma nova chance de felicidade.

— Você teve essa chance?

— Dei a minha chance a você, filho. Que tipo de mãe eu seria se escolhesse minha felicidade acima da sua? – Ela beijou a testa dele demoradamente.