Wild At Heart

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Capítulo XI

Rochedo Casterly

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Jaime dormiu poucas horas na noite que antecederam o início das festividades em honra aos filhos mais novos. As velas perfumadas que emanavam o cheiro de frutas cítricas e a lareira eram a única iluminação do aposento, visto que as noites escuras sem a luz da lua e das estrelas estavam se tornando cada vez mais comuns. Os meistres, através de missivas espalhadas por todo o reino, declararam o verão como finalizado e anunciaram a ascensão da nova estação. O outono, o período conhecido como a época de transição entre o verão e inverno, estava sendo um ciclo tormentoso e extremamente rigoroso. A falta de iluminação e quedas de temperaturas eram esperadas, mas não do modo como estava acontecendo.

As noites cada vez mais longas e os dias cada vez mais curtos. As manhãs com nevoeiros densos que fazia com que não valesse a pena aventurarem-se ao pátio de treinamento até que o fraco sol se atrevesse a aparecer entre as nuvens cinzentas que preenchiam o céu. Um suspiro escapou dos lábios de Jaime enquanto assistia Elia dormir, a cada dia descobria uma peculiaridade sobre ela. Elia odiava acordar cedo, gostava de dormir de bruços e de banhos de leite com mel para deixar a pele macia; amava chocolates dorneses e ficou imensamente satisfeita quando o cacau começou a ser plantado nas terras do Oeste; colecionava velas perfumadas e trajes feitos com os tecidos mais nobres existentes.

Tocou o rosto dela com ternura e então pensou na lembrança que teve durante o sono:

Sob o sol ardente de Dorne, Jaime caminhava pelos corredores dos Jardins de Águas. O pôr do sol era o mais belo dos Sete Reinos, palavras de Elia, mas, via-se obrigado a concordar com a noiva enquanto observava a maneira que ocidente era transformado em uma tapeçaria de ouro e púrpura e as nuvens brilhavam em tons de carmesim. Encontraria Elia nos aposentos dela, para que tivessem um jantar privado.

O guarda que estava às portas das câmaras de Elia o saudou e abriu a porta devagar para que Jaime pudesse vislumbrar o aposento. Um arrepio percorreu seu corpo quando avistou o príncipe Rhaegar junto de Sor Oswell Whent na companhia de Elia e as damas de companhia. Pensou em adentrar o aposento sem ser anunciado, mas ponderou, olhando para os três guardas Lannister que sempre o acompanhavam.

— Solicitaria para que conversássemos em privado, mas não seria correto estarmos sem companhia adequada. – Rhaegar estava sentado em um sofá em frente a Elia, tendo uma pequena mesa com chás, frutas e biscoitos amanteigados entre eles. Aceitou o chá oferecido por Elia e bebeu um pouco, degustando o sabor adocicado do mel com limão. – Posso entender o impulso que a fez escolhê-lo em vez de aceitar a minha proposta de casamento, mas estou aqui para tentar convencê-la a pensar com cuidado e escolher a união que seria mais benéfica para seu país, Casa e você.

Elia manteve-se em silêncio, aguardando que Rhaegar falasse tudo o que pretendia, antes de respondê-lo.

— Sei que não fui um pretendente que se preocupou com sua opinião, estive mais preocupado em conseguir a benção de sua mãe, pois, sei que é uma boa filha e teria honrado qualquer decisão da Princesa Loreza. – Depositou a xícara de chá de sobre a mesa e estralou os dedos. – Talvez, se tivesse lhe honrado, me preocupado com suas preferências e mostrado quem eu realmente sou, poderia ter me escolhido. A arrogância me levou a acreditar que meu status de herdeiro do Trono de Ferro seria o suficiente para cativá-la. – Observou a princesa depositar a própria xícara sobre a mesa e viu isso como uma oportunidade segurar a mão dela, mas Elia rapidamente desvencilhou-se de seu toque e uniu as mãos sobre a saia do vestido. – Os sangues de Nymeria e da Antiga Valíria correm em nossas veias, Elia. Preciso de você. Preciso de você para ter os filhos perfeitos. E nosso sangue unido será semeado por gerações e garantirá a preservação de todos os reinos.

— Alteza. – Elia pronunciou devagar, podia notar que o príncipe tentava honrá-la com tais revelações, mas só conseguiu causar-lhe um grande desconforto e uma sensação desagradável. – Você fala como se estivéssemos predestinados.

— E nós estamos. – Rhaegar respondeu. – Há coisas que você não compreende e desconhece. Que são maiores do que nós, que tudo o que existe e que podem ser destruídas se não agirmos como necessário.

— Você diz muito e não diz nada. – Elia disse. – Você se sentou, divagou sobre temas confusos e não explicou nada.

— Eu não preciso me explicar. – Rhaegar diz simplesmente. – Você deve acreditar nas palavras do seu Príncipe. Deve acreditas nas palavras do seu futuro Rei e agir conforme é esperado.

— É sua escolha não explicar, Alteza. – Elia respondeu friamente. – Deve se lembrar de que não é o único Príncipe dentro desse aposento.

Rhaegar pareceu notar como suas palavras soaram ofensivas para a Elia. Refletiu, por um momento, observando as feições bonitas da princesa que estavam endurecidas. – Você não tem fé em mim?

— Fé não é sinônimo de obediência cega. – Elia explicou. – Tenho fé em diversas pessoas, mas isso não me faz segui-las sem questionar e sem ter um conhecimento prévio de suas intenções. Sinto muito, mas não posso, não vou e não quero me lançar ao desconhecido ao seu lado. – Finalizou, levantando-se do sofá e vendo Rhaegar imitar o gesto, a expressão do príncipe não era de alguém que estava satisfeito.

Jaime estava fascinado com a maneira que Elia conduziu a conversa com o príncipe. Não temia que ela rompesse o noivado, pois a futura esposa era alguém leal e muito comprometida com sua palavra. O guarda Martell bateu ligeiramente na porta, antes de anunciar sua presença.

— Jaime Lannister. – Rhaegar pronunciou o nome como se estivesse dizendo uma maldição.

— Vossa Alteza. – Jaime cumprimentou, fazendo uma reverência educada. – Se juntará a Elia e eu para o jantar?

— Não, Sor, troquei as palavras necessárias com a Princesa Elia e ela deixou clara sua decisão. – Rhaegar respondeu, não tirando os olhos de Elia. – É uma pena, sem dúvida. Nascida para ser uma Rainha e contentando-se em ser a consorte de um simples vassalo.

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