capítulo quarenta e três

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Lucas acordou sentindo o frio em seu quarto, olhou para janela e a mesma permanecia fechada. O garoto virou para o outro lado do quarto achando a cadeira vazia, a mesma cadeira que Clarisse deveria estar sentada esperando o acordar. Rapidamente se senta na cama observando toda a extensão do cômodo com desespero.

"Ela não está aqui!"

Levantou correndo e procurou pela casa inteira. A assombração não estava, ela desapareceu.

O garoto com lágrimas presas nós olhos sai a procura da fantasma, seus pés pedalavão rápido e a adrenalina em seu corpo não deixava a dor muscular o impedir. Lucas não sabia por onde começar a procurar, afinal aquela era a primeira vez que se distanciaram tanto. As rodas da bicicleta o guiava para a residência Torres, algo em seu sexto sentido humano o dizia para começar a busca por lá.

Ao chegar em frente a casa percebe uma pequena movimentação no telhado, naquela merda de telhado. O adolescente deixa sua bicicleta encostada na árvore e segue caminho para a escada lateral da casa.

A grama ainda tinha papéis dourados e o vento soprava forte, era uma noite gelada com pouca iluminação, a lua brilhava pela metade.

Lucas termina de subir a escada enfim chegando ao topo, encara a fantasma que estava de pé sentindo a brisa fresca em seu rosto. 

- Irônico não é? Acabar onde tudo começou. -disse sem olha-lo.

- Você não irá me deixar agora né? -perguntou apreensivo mais no fundo já sabia a resposta que iria receber.

- Gostaria de dizer que não. -encarou os fundos dos olhos do adolescente que chorava feito criança. -Não chore, não gosto de te ver triste. -se aproximou.

- Ainda está muito cedo pra vc ir embora. Fique, só por mais alguns dias... Horas... Ou minutos só fique comigo mais algum tempo eu preciso de mais tempo. -abaixou a cabeça.

- Eu não posso escolher, me desculpa. -levantou o rosto do garoto fazendo-o encarar sua bela face fantasmagórica. -Se eu pudesse escolher estaria aqui ao seu lado para sempre. -falou tranquila enquanto sua visão ficava embaçada.

- Eu não vou poder viver sem você, fique ao meu lado por favor. -implorava.

- Vai sim. Você viverá uma longa e boa vida.

- Como vc me provará que tudo vai ser bom? -perguntou com a voz falha.

- Você tem como provar que tudo vai ser ruim? Pare de chorar você está fazendo eu ficar triste. -deu um meio sorriso. -Sabe, eu nunca te contei porque era apenas uma teoria doida de uma fantasma, mas tudo que você sente de alguma forma eu consigo sentir também. -o garoto olhava confuso. -Lembra quando você me disse que sentia que certos sentimentos não te pertenciam? -afirmou com a cabeça. -Tenho a teoria de que me pertenciam. Acho que podemos validar essa hipótese porque eu agora estou com medo de me perder, acho que isso é seu. -acariciou os ombros de Lucas.

- Desculpa pelas crises de pânico.

- Tudo bem, além delas teve outras muito melhores. Quando o Luan te abraça ou quando você ganha no uno, quando comeu o bolo da minha mãe e até mesmo quando pisou na praia, essas sensações que você me transmitia são inesquecíveis até mesmo para minha memória de fantasma.

- Acho que consigo entender agora do porque ando com nervoso de borboletas. -a fantasmas sorriu com o comentário.

- Escute bem, você não pode desistir de ser artista entendeu?! Você tem que seguir o seu sonho e isso é uma ordem. -falou rígida. -Não se afaste nem de Gabriel e nem de Beatriz. Cuide da minha mãe e do meu pai, agora você terá mais uma responsabilidade que é mostrar o mundo para meu irmão mais novo. Não deixe de demonstrar afeto a sua mãe e apresente outras opções de café da manhã pra Luan, ele vai acabar com o estoque de cereal do mundo. -brincou. -Quer me dizer alguma coisa?

"Pense bem em suas palavras pois serão as últimas ditas a mim."

- Eu preciso falar tanta coisa e eu nem sei por onde começar... -respirou fundo e depositou a mão esquerda no rosto de Clarisse. -Obrigado por tudo. -se aproximou colando suas testas, a proximidade era tanta que a fantasma sentia a respiração desregular de Lucas.

- Viva bem, viva por mim e não me esqueça. -fechou os olhos sentindo o carinho que o adolescente fazia em seu rosto com o polegar.

- Eu te amo. -falaram em uníssono.

Lucas assim como a alma fechou os olhos e quando voltou a abri-los não a viu. O garoto ajoelhou no telhado e começou a chorar ainda mais, ela havia partido e levou consigo parte dele também. Ela havia ido embora e agora seu pulmão parecia arder em chamas, não importava mais quanto oxigênio inalasse as cinzas já haviam se instalado junto com a saudade.

No fim a fantasma não era para assombrar.

Era uma vez um garoto cansado de viver, vivendo no mesmo ano em que uma fantasma apareceu, o nome dela era Clarisse e ela o salvou. Salvou de todas as formas possíveis que um ser humano pode ser salvo.






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