capítulo treze

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A brisa fresca da noite batiam em seus rostos. Clarisse não sentia fome ou sono, mas sentia a mãe natureza tocar a sua pele assim como Lucas conseguia sentir o toque de um fantasma. O garoto sentia seu corpo arrepiar ao andar descalço na grama da beira do lago, era quase todos os dias que ficavam andando em volta das águas conversando apenas para passar o tempo. Geralmente voltavam cedo para casa, mas hoje não teria problema em ficar até madrugada. Muitos achariam estranho ficar tanto tempo em um lugar que julgariam "sem graça" para Lucas era uma desculpa tão boa para ficar acordado conversando com a garota morta. Clarisse sempre tinha assuntos para conversar, a palavra silêncio para a menina não existia e isso agradava muito Lucas que perante a todos é um cara de poucas palavras, mas perante Clarisse era um humano mal ouvido que tem um ótimo senso de humor e ótimos assuntos, era surreal como os dois se entendiam com olhares e gestos, sempre gesticulavam com a maior empolgação ao contar as coisas.

— Por que não entramos na água? –o garoto sugere.

— Você tem um parafuso a menos? –perguntou inconformada com a sugestão meio absurda. –São quase duas horas da manhã, é madrugada, está ventando e se tiver bichos? –ela poderia fazer uma lista de motivos para não entrar.

— E? –Lucas havia começado a ter umas idéias bem loucas e fazia todas elas, talvez quisesse aproveitar o tempo que restava de Clarisse fazendo todas as coisas surreais que o mundo tinha a oferecer ao lado da fantasma ou talvez despertou seu lado que queria viver fazendo todas as coisas que vinham em mente, apenas sendo feliz. –Fantasma nem sente frio, e você é literalmente uma assombração e está com medo de uns bichinhos.

O garoto só tira a camisa que estava usando e foi para o lago correndo e a assombração fica o olhando entrar na água como se fosse a coisa mais comum do mundo, entrar naquele lago escuro e de madrugada certamente não era muito aconselhável.

— Você é um doido. –disse alto para Lucas escutar enquanto mergulhava.

A água não estava tão gelada, mas o ambiente estava um pouco escuro, já que a única luz era a da lua que nem estava tão brilhosa quanto da primeira vez estiveram ali. Sentir a água encharca todo seu corpo enquanto escuta uma voz doce dizer que você havia perdido a sanidade era muito melhor do que as madrugadas olhando pro teto do quarto se preocupando e sofrendo com coisas que ainda não aconteceram, com coisas do passado ou tendo que lidar com aquele vazio dentro de si. Parecia que fazia tanto tempo que essa escuridão não invadia o cérebro de Lucas, se pensar em números, umas três semanas era o tempo que ele não tinha crises de pânico ou crises existenciais que pareciam engolir seu ser, faziam apenas três semanas que Clarisse havia entrado em sua vida com tanta importância e intensidade. Nem em suas mais loucas fantasias ele poderia imaginar que se sentiria tão vivo ao lado de um ser que estava morto diante de todos os outros olhares.

— Lucas?! –gritou ao perceber que o garoto vivo havia mergulhado e não voltou a superfície. —Lucas?! –ela chega mais perto da água em uma tentativa de enxergar melhor o corpo do garoto no escuro, molhando completamente sua roupa ela pula no lago.

— Resolveu entrar? –pergunta ao voltar a superfície da água bem a frente da fantasma.

— Idiota. –diz com muita intonação raivosa, e Lucas não entende muito bem do por que daquela raiva toda. –Você me assustou. –jogou água em seus olhos.

— Que? Por quê? –pergunta, o garoto não havia escutado Clarisse o chamar, estava mergulhando e nadando mais longe da beira do lago.

— Eu achei que você tivesse se afogado! –sem tirar a pose de brava ela diz. –Já pensou se você tivesse morrido afogado?! –faz uma pergunta retórica.

— Não seria tão ruim, eu ficaria com você. –ele dá um meio sorriso.

"Ficar comigo?"

Seria essa uma brincadeira com um fundo de verdade? Clarisse não deixou de estar surpresa com tal resposta. Será que ele desejava a morte por ela?

Lucas nunca teve pensamentos suicidas, quer dizer, ele nunca pensou em tirar a própria vida. Ele tinha Luan para proteger e Daiana para cuidar, não era como ele quisesse viver também, principalmente durante os dias escuros que eram frequentes. Ele não se importaria se morresse, mas não faria isso sabendo que sua família estaria na terra desprotegidos.

Clarisse no tempo que despertou o lado vívido do garoto também despertou uma forte conexão em suas almas, almas que logo estariam separadas por séculos. Uma alma de um garoto vivo que tinha necessidade de oxigênio e uma alma de uma garota morta que era o oxigênio.

Para Lucas ser ele mesmo estava se tornando tão simples, isso não significava que todos os problemas dele haviam desaparecidos magicamente. O rancor de seu pai, aquela voz que insistia permanecer em sua mente sempre dava um jeito de estragar tudo mais desta vez Lucas iria lutar com todas as forças para que a voz se calasse, estava disposto a fazer de tudo para livrar Clarisse dessa realidade.

Depois de algum tempo na água a pele do garoto vivo começou a enverrugar era normal para um ser que tem sangue correndo em seu corpo já a fantasma não sentia nada além da água, morrer certamente anula algumas reações do sistema nervoso, isso não fazia tanta diferença ela continuava a sentir os toques na pele e conseguia vivenciar os sentimentos de uma maneira humana. Ainda estava cercada de milhares de dúvidas sobre seu atual corpo e sobre todo resto, ficar vagando como espírito por aí não era normal já que não se via outros fantasma. Ela seria um erro no sistema do céu?

Ao sair da água o vento assopra forte fazendo Lucas estremecer, o corpo gelado com o vento fresco causaria um resfriado com toda certeza. Ele se veste da camisa que antes estava jogada na grama, porém isso não o esquenta o suficiente.

— Bem feito. –diz com o nariz empinado. –Agora fica aí se tremendo todo. –o garoto abaixa os braços que antes estavam cruzados na tentativa de mostrar que o frio não ó afeta, claramente ele estava brincando pois continuava a tremer feito um gatinho abandonado no inverno.

— Eu tô super bem... –dizia o garoto, ele é surpreendido por Clarisse o abraçando forte. Lucas acreditava que era para amenizar o frio mais na verdade Clarisse estava muito preocupada com o estado do garoto, ela acreditava que logo o perderia, se sentia impotente.

"E se ele estivesse realmente se afogado, o que eu faria? Eu estou morta."

A preocupação invade o abraço mas junto com a preocupação vem o afeto que tinham um pelo outro e isso anulava totalmente quaisquer sentimentos considerados ruins.

O garoto assim como a fantasma não sabia muito bem como agir, não podia trazê-la de volta mais não podia deixá-la partir, egoísmo? Talvez seria se Clarisse quisesse ir para longe, a fantasma não sabia o que esperar ou se havia algo para esperar, começou a se questionar se alí junto dele seria o céu dela já que se sentia tão bem.

Lucas podia sentir a fantasma, mas ela não estava alí, pelo menos não diante os outros. Podia tocá-la sentindo a pele quente mas não podia tê-la, falava com ela e criava memórias incríveis, porém nunca poderá compartilhar essas histórias com ninguém, ela estava diante dele estava nos braços dele, mas Lucas não a tinha. Como ela poderia estar tão perto mas ao mesmo tempo tão distante?

O garoto estaria começando a enlouquecer por saber que eles nunca poderiam estar juntos de verdade, a sua sanidade estava por um fiz. Ele faria qualquer coisa para vê-la livre mais também faria qualquer coisa para que ela nunca ó deixasse sozinho novamente.

Separados Pelo Acaso Unidos Pelo DestinoOnde histórias criam vida. Descubra agora