capítulo vinte e seis

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Contém gatilho!
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20:37, quinta feira, na parte da manhã fez sol depois do meio dia choveu muito isso fez o tempo ficar abafado. Beatriz esqueceu de fechar as janelas do quarto dos pais dela que permaneciam abertas desde que Miguel partiu novamente. O tapete caro molhou e a garota jogou ele na secadora importada, ela arrumou o quarto e lavou os cabelos pela última vez, o shampoo assim como o perfume preferido dela o com cheiro de túlipa já haviam acabado. Uma última vez ela comeu macarrão com queijo quer dizer queijo com macarrão e então deixou as louças limpas. Ela foleou todas as fotos impressas que tinha pela casa e também chorou ao ler aquelas cartinhas infantis que ela e Clarisse trocavam quando crianças.

Se perguntava do por que essa era a única solução pra tudo parar de doer e se assustava quando se respondia que era melhor para todos os outros ao redor. Como ficava rodeada por pessoas tão boas sendo como é? Tendo a personalidade assim?

Beatriz estava deitada em sua cama olhando pro teto onde brilhavam algumas estrelas escutando o tic tac que era o único som que a casa fazia. Ela estava esperando Clarisse aparecer para tirá-la dessa confusão mas depois de alguns minutos ela soube que nada mudaria sua decisão. Dormir por toda a eternidade parecia menos doloroso que permanecer no mundo estragando a vida das outras pessoas.

Na mesa de jantar uma pequena carta escrita com caneta preta e uma letra incrivelmente bela.

Me perdoem eu não consigo mais. Não foi culpa de vocês eu juro é só que minhas pernas estavam cansadas de mais para continuar. Eu amo vocês espero que um dia possam me perdoar por ter tirado a vida que vocês demoraram tanto pra criar.

20:53, Beatriz estava caminhando para o banheiro com duas cartelas de comprimidos brancos, eles eram achatados e redondos tendo um formato bem comum.

20:55, a garota sente descer o primeiro comprimido pela garganta. 20:57, já era seu sexto. A visão de Beatriz começou a distorcer, tudo parecia estar enfumaçado não sabia dizer se eram os comprimidos que já havia engolido ou se eram as lágrimas embaçando a sua visão. 20:59, ela se olhava no espelho após engolir o décimo primeiro, não conseguia enxergar muito bem suas pernas estavam tremendo e sua pele suava frio.

"Você é tão fraca, não consegue sobreviver sem se apoiar em alguém."

A imagem no espelho começava a mudar.

"O que está acontecendo?"

Beatriz encarava o vidro tentando focar e foi naquele momento que ela enxergou aquele par de olhos que sempre acompanhou ela desde o prezinho. Era Clarisse alí, refletida no espelho, ela estava com lágrimas nos olhos e mexia a boca como se quisesse dizer algo a amiga.

- Me desculpa. -Beatriz falava para a suposta alucinação no vidro.

"Eu queria que tivesse sido eu naquele telhado. Eu nem faria tanta falta. Por que ela e não eu? Por que tinha que ser justo ela?"

21:03, Beatriz Álvares se deita no chão do banheiro de azulejos verdes e brancos e fecha os olhos após colocar em seu organismo um total de dezenove comprimidos brancos.

A vida não se passa diante de seus olhos quando a morte está te sugando é mais para um preto sem sentido. Aquelas falas de filme 'não vá para a luz' eram realmente só falas de filmes por que era tudo escuro.

87, 86, 85, 84... Sentia os batimentos ficarem menos frenéticos e respirava com dificuldade. 21:06 seus músculos relaxaram completamente e ela ficou inconsciente.

                                       ...

A pipoca já havia acabado e o filme só estava pela metade. Luan estava deitado com a cabeça apoiada no colo de seu irmão, Daiana estava na poltrona e a fantasma estava sentada com perninhas de índio no tapete da sala era um tapete simples que Daiana havia ganhado de sua avó a muito tempo atrás.

A visão de Clarisse começou a ficar embaçada como se ela estivesse chorando. De repente ela não estava mais na sala de estar junto ao Lucas e sua família.

"O banheiro da casa da Beatriz?"

Lágrimas começaram a escapar de seus olhos. Aquela que estava vendo parecia ser sua amiga mas por que dela estar se destruindo assim.

- Beatriz! Para por favor. -implorava mas a garota suicida não parecia se importar.

Beatriz colocava dois comprimidos em mesmo momento enquanto sua melhor amiga assistia tudo.

Aquele coração que já não batia mais estava apertado e a dor em seu interior era algo de outro mundo, a fantasma sentia uma dor inigualável a de qualquer ser humano vivo. Ver a pessoa que você considera irmã tirar seu próprio ar era tenebroso de mais nem uma assombração que já não tem órgãos aguentaria isso. Aquela pessoa que você amou, cuidou e que daria tudo para proteger estava se auto destruindo. Como salvar alguém de si mesmo?

A fantasma fecha os olhos lentamente sentido as gotas salgadas deslizarem sua bochecha e quando abre consegue ver o clímax daquele filme onde tem animais falantes.

- Lucas! -se levanta desesperada do chão. -A Beatriz, ela precisa de ajuda. -falava chorando derrubando aquele tsunami de medo e pavor de perder quem se ama.

- Eu preciso ir, volto mais tarde. -fala deixando sua mãe e seu irmão confusos.

Ele pega a bicicleta que desde o acidente da Clarisse se manteve parada sem uso. Lucas pedalava com todas as forças que tinha implorando para que Beatriz esteja bem.

21:19, Lucas abre a porta principal da casa que estava destrancada entrando sem nem avisar. 21:20 ele sobe até o quarto de Beatriz que estava totalmente organizado.

- No banheiro! -dizia chorosa.

21:21, Lucas encontra Beatriz desacordada no chão do banheiro com azulejos brancos e verdes.

Separados Pelo Acaso Unidos Pelo DestinoOnde histórias criam vida. Descubra agora