Quando sua família está desmoronando, o máximo que se pode fazer é erguer a cabeça e tentar ao máximo fazer com que tudo pareça estar normal.
E nessa missão eu falhava miseravelmente.
Nos primeiros meses eu tinha usado de toda minha paciência para explicar a Ricardo que não o amava mais, e com as palavras certas ele sabia como me fazer mudar de ideia e levar a relação insatisfeita. Nos últimos meses, porém, a paciência foi substituída pela raiva e angústia, as palavras certas que ele antes selecionava agora saiam impensadas e frias.
Quando eu perguntava a ele porque não queria terminar, recebia apenas desculpas de não querer magoar os filhos, não querer jogar fora o tempo que passamos juntos e até mesmo o amor. Mas, se ele me amava mesmo, porque nem mesmo a lingerie mais sexy da loja o fazia tocar em mim?
Emily e Randy, no passado, selaram a verdadeira aliança entre mim e Ricardo, mas hoje, tudo que eu queria, era ter de volta o reconhecimento como mulher que eu não tinha há tempos. Queria ter um homem que me tocasse reconhecendo a bela mulher que sou, queria ter a liberdade de sair dançar tendo confiança no corpo que balança, mas com um homem fraco como Ricardo, tudo na vida se tornava monótono.
Eu não lembrava como as brigas haviam começado, mas, se não me falha a memória, começou quando eu disse que, infelizmente, eu precisava de um tempo.
- Um tempo? – reclamou Ricardo. – Você quer dar um tempo? Somos casados, Victorian. Não é uma possibilidade.
Vou dizer uma verdade sobre relacionamentos: eles funcionam bem nos primeiros anos, e até podem funcionar alguns anos após o casamento. Mas quando se casa tão jovem e o tempo passa, seu marido esfria, adquire uma barriga que não devia e seu sexo é tão ou mais lento que de um jabuti, e você se descobre mulher, inteira, plena, é aí que você chuta o balde e percebe que ou se contenta com pouco, ou aproveita a vida que resta.
E eu escolhi a segunda opção.
RANDY SOBE O ÚLTIMO lance de escadas e o sigo com o olhar. Termino meu café e subo para o meu quarto. Tomo uma ducha. Randy... por que anda tão diferente? Adolescência, talvez?
Seja o que for, ele vai superar.
Chacoalho a cabeça. Não entendo absolutamente nada sobre ser mãe.
Visto-me com as roupas do trabalho, pego minha bolsa, um casaco, as luvas e as chaves do carro. Saio de casa e em poucos minutos chego ao escritório.
Aquele lugar era meu santuário desde que a briga em casa se tornara um hábito. Apesar dos processos dolorosos e da constante dor de cabeça que eles me traziam, ali era como se eu percebesse que outras pessoas têm problemas piores e eu não estou só.
Entro no prédio. O escritório ficava em um prédio simples e pouco chamativo de poucos doze andares, corpulento e com poucas janelas.
Arrasto-me pelos corredores cheios de portas, como se fosse um labirinto de paredes cinza.
Entro na minha sala e me ajusto na cadeira de couro macio. Agora eu me afogaria em papéis e casos de assassinato.
Sinto-me mais confortável aqui do que dentro da minha própria relação.
RETORNO DO ALMOÇO E fecho a porta. Antes que pudesse dizer alguma coisa, Carlos, meu assistente bonito de olhos negros, entra na sala, abrindo uma fresta da porta.
- Desculpe, Dra. Alencar. Seu cliente está aqui. – Ele olhou para trás.
- Quem? – Apoio o braço na mesa.
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Não olhe para trás
Mystery / ThrillerEmily Alencar passa por um grande trauma: sua melhor amiga, Jeniffer, fora estuprada e cruelmente assassinada logo após uma briga entre as duas. Os assassinos fugiram sem deixar rastros, mas parece que esse golpe deteriorou não só à Emily, mas toda...