EMILY

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É sexta-feira. Passaram-se três dias desde que meu pai saíra de casa e já começo a me acostumar com sua ausência e hoje já não sinto mais tanta raiva pelo seu passado com Jeniffer. De repente, é como se tivéssemos que lidar com a mesma rotina dos últimos meses, mas sem as brigas e a carona para a escola. Toda noite, ainda, ele nos manda mensagem perguntando se precisa de algo e desejando boa noite. Às vezes não respondo, especialmente quando abro o diário e vejo o que Jeniffer dizia sobre ele.

Minha mãe está ausente. Ocupada em um salão de festas caro do Centro organizando o seu leilão de vinhos. Já é o segundo evento desse ano, regado à dinheiro, gente velha e bebidas caras. Não faço questão de participar, mas não escondo gostar de ver a briga entre dois homens torrando seus dinheiros em uma garrafa qualquer para provarem quem tem mais grana faltando.

Quanto desperdício.

Randy está em seu quarto se arrumando, provavelmente. Fora difícil convencê-lo a ir, considerando o episódio do jantar na noite passada, mas ele sabe que a resistência não seria o ideal para a relação entre ele e minha mãe, então aceitou ir.

E eu estou tomando banho.

Jorge está na porta me observando.

Estou olhando para ele com o canto dos olhos, e sinto vergonha. Quero esconder meu corpo, mas não posso, tenho medo que ele faça alguma coisa.

Meu coração está disparado. Seus olhos verdes esmeralda engolindo cada centímetro da minha pele, sedento como um animal sobre meu corpo.

Engulo seco antes mesmo de terminar de me lavar e tiro a toalha do pequeno gancho preso à parede. Enrolo-me nela e como se não tivesse o visto, fecho a porta. Tenho vontade de fazer um escândalo, mas sinto medo por mim e por meu irmão. Não conheço esse cara, ele pode ser perigoso.

Encosto-me na porta e respiro profundamente.

Eu não sabia o que faria.

Mas pensei.

Eu contaria tudo à minha mãe, e Jorge nunca mais colocaria os pés nessa casa.

Não olhe para trásOnde histórias criam vida. Descubra agora