EMILY

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Finalmente saio da escola. Só no último minuto eu havia recebido cinco abraços, três convites para carona e dois para grupo de estudo. Sem contar as centenas de olhares caridosos que dizem o quanto sentem pela minha perda. Gosto de me sentir cuidada, gosto de saber que as pessoas estão se esforçando para serem boas e ajudarem quem precisa, mas o excesso de pena sobre mim me sufoca, me faz parecer frágil e pequena.

Preferindo estar sozinha e ir caminhando, escuto passos apressados atrás de mim, seguido de uma voz afável e ofegante.

- Ei – Eu me viro. É um garoto loiro, alto, de olhos claros e com uma pinta no canto do buço. Eu paro e ele se aproxima respirando ofegante, ajeitando sua mochila no ombro direito.

- Oi – respondo, prendendo uma mecha do meu cabelo atrás da orelha e dando um sorriso envergonhado.

- Eu sou Johnatan – se apresenta, com um sorriso, tão... bonito – A gente ainda não se conhece, mas a minha prima vai dar uma festa na casa dela hoje. Estava pensando em te chamar pra ir.

Eu vejo um brilho radical em seus olhos. Uma barba nascia em seu rosto. Fico em silêncio.

- E aí, não vai falar nada? – ele pergunta, rindo nervosamente.

- Você disse que estava pensando em me chamar. Já pensou?

Ele ri, e eu não escondo o sorriso que brota em meus lábios. O primeiro sorriso desde... Não que fosse do meu feitio derreter assim para qualquer um que aparecesse para mim me chamando para uma festa, mas esse garoto, a forma como se aproximou sem recuar, a forma como me olhava sem expressar pena, aquilo me deixava confortável. Ele não me via como coitada, e atualmente isso valia muito.

- E então, Emily, será que quer ir numa festa comigo essa noite? – ele pergunta, e mesmo que eu tenha acabado de conhecê-lo, seria uma festa da escola, só haveria pessoas que eu já conhecia, e eu precisava de distração.

E álcool.

- Você está em que ano? – pergunto, antes de ir embora. – Você parece velho demais para estar na escola. – Mais um sorriso. Sinto-me uma idiota. Droga... Eu nunca fiquei assim.

- Não, eu não estou estudando. Saí do ensino médio faz um tempo. Dou curso de informática aqui – ele empurra meus ombros de leve com a parte de trás dos dedos, como se já fossemos íntimos – E tá me chamando de velho? Eu só tenho vinte e dois anos!

- Não... Só não parece um adolescente de ensino médio – esclareço – E por que tá me chamando pra ir a essa festa? – pergunto, afinal, nunca nem o tinha visto.

- Lá você vai saber. – de novo aquele sorriso – Me passa seu número que te mando o endereço. – Com o coração aos saltos trocamos os números.

- Te vejo lá, então – digo, pressionando os lábios.

- Te espero lá, então – ele diz, pressionando os olhos.

Ele se afasta andando de costas, não tirando os olhos de mim. Só quando chega à esquina ele se vira para frente, voltando para o lugar de onde veio.

Sigo meu caminho e sorrio.

Não me senti tão frágil vista pelo olhar dele.

EM CASA, TUDO É silêncio, exceto no quarto dos meus pais. Ali sei que o assunto é sério, porque, se não fosse, estariam ambos gritando pela casa.

Meia hora mais tarde recebo uma mensagem de Johnatan com o endereço da festa. Tomo banho e solto os cabelos. Coloco um vestido preto e pinto a boca de vermelho.

Não olhe para trásOnde histórias criam vida. Descubra agora