Um momento comigo mesma

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Eu me virei em direção a janela, e fiquei olhando para uma árvore que tinha a minha frente. Eu fiquei pensando em tanta coisa, e elas variavam de quando eu era mais nova até agora.

Eu fiquei tão distraída, que não estava me importando com absolutamente nada ao redor, até que alguém bateu na porta, com uma delicadeza de um coice de mula.

Eu me virei, e vi que era James. Ele estava mais calmo e com uma cara de preocupação.

- Posso entrar? - eu assenti, ele entrou e foi em direção a cama - Eu vou me deitar com você, posso?

Eu continuei calada, mas dessa vez eu assenti já olhando para a janela novamente.

Ele se deitou, e me aconchegou no corpo dele e ficou fazendo carinho na minha cabeça com a mão verdadeira, e com a de vibranium, ele ficou fazendo movimentos de sobe e desce no meu braço.

- Eu não vou perguntar nada, não quero te aborrecer novamente. Mas saiba que eu estou aqui com você, para qualquer coisa. - ele deu uma bufada, parecia que tinha se lembrado de algo - Sam também está, se eu não falar dele, ele vai ter um xilique.

Eu admito, isso me fez rir um pouco, então eu me virei para olhar nos olhos dele.

- Bucky, minha mãe tentou, tentou e acabou que o que ela mais temia aconteceu. De um jeito torto, mas aconteceu.

- Amor, a culpa não é sua.

- Será? E o pior de tudo, eu acabei me chamando de aberração... Mas depois me toquei, que eu não sou um super soldado, pelo menos eu acho que não. Mas mesmo assim, eu sou praticamente igual a você, Steve e até mesmo minha mãe...

- Se isso te deixa mais tranquila, todos nós já nos chamamos de aberração algum momento. Olha pra mim, eu tenho um braço de vibranium.

Ele usou o mesmo braço que acabou de zombar, para fazer um carinho no meu rosto, me fazendo fechar os olhos e as lágrimas escorrerem.

- Eu não sei de mais nada... Nat ficaria bastante chateada.

- Na verdade, acho que ela já teria matado Barkov. Me perdoa por não ter feito isso antes, mas ele não estava no laboratório quando fomos te buscar.

- Tudo bem... Você se importaria de me deixar sozinha? Eu realmente quero ficar só comigo mesma.

- Claro. Vou avisar os outros

Eu dei um beijo na bochecha dele, e ele saiu do quarto, fechando a porta.

Eu voltei para minha posição inicial, admirar a janela.
Eu pensei no dia que minha mãe morreu, na biológica.

Era uma tarde chuvosa, eu tinha seis para sete anos. Jacob sempre deixou claro que não gostava de mim, e que por ele eu não teria nascido. Por minha causa, o casamento deles havia sido estremecido, algo assim.

Minha mãe, Mila, ela era bastante fofa, e sempre me deixava uma flor ou um doce na cômoda do meu quarto. Exatos 5 dias antes de morrer, ela começou a tossir, e sua tosse era estranha. Lembro que encontrei um lenço dela sujo de sangue.

Jacob gritava comigo por qualquer coisa, e então ele ficou calado, e eu ouvi ele chorar, foi a primeira vez que eu o vi chorar.
Quando eu espiei na fresta da porta, Mila estava deitada no chão, e ele chorando em cima dela, então eu percebi que ela estava morta.

Eu fui pro meu quarto, e comecei a chorar e eu peguei um livro que eu tinha guardado uma das flores que ela sempre me dava. Ele chegou igual um furacão no quarto, e começou a gritar vários xingamentos e eu fiquei quieta, com a cabeça encostada no joelho, enquanto eu abraçava minha pernas.

Ele ficou mais revoltado por eu não olhar pra ele, que ele meu puxou pelo braço, deixando um roxo grande e feio de tanta força que apertou. Eu não chorei com aquilo, eu fiquei calada.

Desde então, ele vivia falando que iria se livrar de mim, mas nunca passou pela minha cabeça que seria daquela forma que o Fury falou. Por mim, ele só iria me jogar em qualquer esquina ou até mesmo deixar que algum dos amigos bêbados dele atirasse em mim.

Eu acabei pegando no sono depois de pensar nisso tudo, e de como aquela situação me mudou, e me deixou com traumas.

- Mãe!?

- Oi minha bebê?

- Você voltou?

Corri até ela e me aconcheguei no colo dela.

- Alejandra, você está bem?

- Nat, me perdoa, eu não consegui ser nem um porcento do que você foi.

- Você foi melhor minha bebê, mas o mundo sempre foi cruel com pessoas como a gente. Não foi sua culpa, não se preocupa. Eu estou orgulhosa de você.

- Eu queria que você estivesse aqui, eu sinto a sua falta.

- E eu sinto a sua, mas acho que era esse o destino.

- Não, não era... Provavelmente tinha outro jeito.

- Talvez, mas eu tô tranquila. E sei que você vai achar uma saída desse luto.

- Mãe, eu te amo

"...Acorda Ale..."

- Mãe?

"...Acorda Ale..."

Eu despertei assustada com Sam me balançando e Bruce na porta.

- Mas que porra é essa cara?

- Bruce chegou para fazer os exames. E nem vem, tem um tempão que a gente tá te chamando.

Eu esfreguei os olhos e me ajeitei na cama para terminar de acordar. Disse que em 10 minutos estava pronta, e eles saíram para a sala.
Eu nunca tinha tido um sonho com a Nat, muito menos tão real daquele jeito.

Eu então, fui no banheiro e lavei o rosto. Fiquei olhando para o meu rosto que estava com umas olheiras que eu nunca tive e então olhei para minha mão, ela estava com a cicatriz da agulha do cateter e roxa. Eu balancei a cabeça, em negação. Segui até a sala, então avistei: Sam e Bruce conversando, Hill e Fury discutindo sobre algo e Bucky sentando, e parecia que ele estava bastante apreensivo.

- Pronto, podemos fazer os exames Bruce.

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