- 𝘍𝘰𝘶𝘳

152 23 7
                                    

Quando fechava os olhos, eu via os dois juntos, se beijando em uma banheira de hidromassagem. Na praia. Em alguma boate. Lacie Barone provavelmente fazia coisas que jamais passariam pela minha cabeça. Mas é claro. Eu ainda era virgem.

Nunca tinha transado, nem com Noah, nem com ninguém. Quando eu era mais nova, costumava imaginar minha primeira vez com Aidan. Não que eu ainda estivesse esperando por ele, só
estava esperando a hora perfeita.

Queria que fosse especial, que
fosse o momento certo. Eu nos imaginava finalmente transando na casa de Emma, com as luzes apagadas e velas por toda parte, para que eu não ficasse muito envergonhada. Imaginei como Noah seria gentil e fofo. Nos
últimos tempos, eu vinha me sentindo cada vez mais preparada.

Havia pensado que, nesse verão, com nós dois novamente em Cousins... Achei que aconteceria. Era humilhante pensar nisso agora, em como eu tinha sido ingênua. Achei que ele esperaria o tempo necessário para eu estar pronta. Acreditei mesmo nisso.

Mas como poderíamos ficar juntos agora? Quando pensava em Noah com ela, com Lacie, que era mais velha, mais sexy e muito mais experiente que eu, ao menos na minha mente... eu sentia uma dor tão grande que era difícil até respirar. O fato de ela conhecer Noah de um modo que eu ainda não conhecia, de ter experimentado algo com ele que eu ainda não experimentara —
isso, para mim, era a maior traição de todas.

Um mês antes, por volta do aniversário da morte de Emma, estávamos deitados na cama de casal de Noah. Ele rolou para cima de mim e me encarou. E seus olhos eram tão parecidos com
os da mãe que estendi a mão para cobri-los.

— Às vezes dói olhar pra você — falei.

Eu amava saber que podia dizer aquilo e que ele saberia exatamente do que eu estava falando.

— Feche os olhos — pediu Noah

Eu fiz isso, e ele se aproximou até ficar cara a cara comigo, e eu senti seu hálito de pasta de dentes no meu rosto. Passamos as pernas ao redor um do outro. Eu me senti dominada por uma súbita necessidade de mantê-lo perto de mim para sempre.

— Você acha que as coisas vão ser sempre assim? — perguntei.

— De que outro modo seriam? — retrucou Noah.
Adormecemos daquele jeito, mesmo. Como crianças. Totalmente inocentes.

Não poderíamos voltar àquilo. Como conseguiríamos? Estava tudo destruído. Tudo, de março até ali, estava acabado.

                              ✩✩✩

Quando acordei, na manhã seguinte, meus olhos estavam tão inchados que praticamente não abriam. Lavei o rosto com água fria, mas não ajudou muito. Escovei os dentes e voltei para a cama. Eu acordava, ouvia as pessoas saindo dos dormitórios, então voltava a
adormecer. Deveria estar arrumando as malas, mas só queria dormir. E assim passei o dia todo; acordei quando já estava escuro e não acendi as luzes, só fiquei deitada na cama até pegar no sono de novo.
  
                               ✩✩✩

Já era fim da tarde do dia seguinte quando finalmente me levantei.
Quando digo “me levantei”, na verdade estou querendo dizer “me sentei”. Finalmente me sentei na cama. Estava com sede, me sentia desidratada de tanto chorar. Isso me animou a realmente sair da cama e andar o metro e meio que me separava do frigobar e pegar uma das garrafas de água que Jillian deixara.

Olhei para o outro lado do quarto, para a cama e as paredes vazias, e fiquei ainda mais deprimida. Na noite anterior eu só queria ficar sozinha, mas, naquele momento, achei que enlouqueceria se não conversasse com outra pessoa.Fui até o quarto de Anika, no final do corredor. A primeira coisa que ela disse quando me viu foi:

— O que aconteceu?

Eu me sentei na cama e abracei o travesseiro dela. Tinha procurado Anika porque queria conversar, queria sair, mas de repente ficou difícil colocar tudo aquilo para fora. Eu estava com
vergonha. Dele e por ele. Todos os meus amigos adoravam Noah , achavam que ele era praticamente perfeito. Eu sabia que, assim que contasse a Anika, essa imagem que tinham dele desapareceria. E se tornaria real. Por alguma razão, eu ainda queria
protegê-lo.

— S/a, o que houve?

Eu realmente achava que já havia chorado tudo que era possível
chorar, mas ainda havia lágrimas para descer. Decidi contar logo:

— Noah me traiu.

Anika afundou na cama.

— Está de sacanagem — sussurrou. — Quando? Com quem?

— Lacie Barone, aquela garota da irmandade dele. No recesso de
primavera. Quando a gente tinha terminado.

Ela assentiu, assimilado a informação.

— Estou com tanta raiva dele. Por ficar com outra garota e não me contar durante esse tempo todo. Não contar é o mesmo que mentir. Estou me sentindo tão idiota.

Anika me estendeu a caixa de lenços de papel que estava em cima da escrivaninha.

— Amiga, sente tudo que você acha que tem que sentir. Se permita — aconselhou.

Assoei o nariz.

— Eu sinto... como se não o conhecesse de verdade. Sinto que nunca mais vou conseguir confiar nele de novo.

— Acho que guardar um segredo desses da pessoa que se ama é a pior parte — concordou Anika.

— Você não acha que a traição em si é a pior parte?

— Não. Quer dizer, sim, é horrível. Mas ele deveria ter simplesmente contado. Foi o segredo que tornou tudo pior.

Fiquei em silêncio. Eu também tinha um segredo. Que não havia contado a ninguém, nem mesmo para Anika ou Taylor. Eu dizia a mim mesma que era porque não era importante, então tirava aquilo da cabeça.

Nos últimos anos, eu às vezes resgatava alguma lembrança de Aidan e pensava bastante nela, admirava cada detalhe, assim como fazia com minha antiga coleção de conchas — me dava
prazer só tocar cada concha, os sulcos, a suavidade fria.

Mesmo depois que Noah e eu começamos a namorar, de vez em
quando, sentada na sala de aula, esperando o ônibus, ou quando
estava tentando dormir, eu resgatava alguma antiga lembrança. Da primeira vez em que o vencera em uma competição de natação. De quando ele me ensinara a dançar. Do jeito como ele molhava o cabelo toda manhã.

Mas havia uma lembrança em particular que eu me obrigava a
deixar no passado. Não era permitido resgatá-la.

Vou criar vergonha na cara e amanhã sai dois capítulos de seven minutes in paradise

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Vou criar vergonha na cara e amanhã sai dois capítulos de seven minutes in paradise

We will always have our year • Aidan GallagherOnde histórias criam vida. Descubra agora