- 𝘍𝘪𝘷𝘦

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Foi no dia depois do Natal. Minha mãe tinha ido passar uma semana na Turquia, uma viagem que ela já adiara duas vezes — uma quando o câncer de Emma voltou e de novo quando Emma
morreu. Meu pai estava com a família da namorada, Linda, em Washington.

Louis tinha viajado com uns amigos da faculdade para esquiar. Noah e Sr.Gallagher estavam visitando parentes em Nova York.

E eu? Eu estava em casa, assistindo a Uma história de Natal pela terceira vez. Tinha vestido meu pijama de Natal, que Emma me dera uns anos antes; era de flanela vermelha, com uma estampa alegre de pinheiro, comprido demais nas pernas. Parte da diversão de usar aquele pijama era enrolar as mangas da blusa e as pernas da calça.

Eu tinha acabado de jantar uma pizza congelada de pepperoni e o resto dos biscoitos que minha mãe ganhara de um aluno.

Estava começando a me sentir como Kevin, o personagem principal de Esqueceram de mim. Oito horas da noite de um sábado, e eu dançando pela sala ao som de “Rockin’ Around the Christmas Tree”, sentindo pena de mim mesma. Minhas notas do semestre
anterior tinham sido ruins. Minha família toda viajara.

Eu estava comendo pizza congelada sozinha. E, quando Louis me viu,quando voltei para casa, a primeira coisa que disse foi: “Uau, os famosos dez quilos dos calouros, hein?” Soquei o braço dele, que disse que estava brincando, mas não estava: eu havia engordado cinco quilos em quatro meses. Ao que parecia, comer asinhas de frango apimentadas, miojo e pizza da Domino’s às quatro da manhã
com os meninos fazia isso com uma garota. Mas e daí? Os famosos
dez quilos a mais dos calouros eram um rito de passagem

Fui até o banheiro do térreo e bati nas bochechas, como Kevin faz no filme.

— E daí? — gritei.

Não deixaria aquilo me abater. De repente, tive uma ideia. Subi a
escada correndo e comecei a jogar coisas dentro da mochila — o
romance que minha mãe me dera de presente no Natal, leggings, meias grossas... Por que deveria ficar sozinha em casa quando poderia estar no meu lugar favorito do mundo todo?

Quinze minutos depois, já havia lavado os pratos do jantar,apagado todas as luzes e estava no carro de Louis. O carro dele era mais legal que o meu, e o que os olhos não veem, o coração
não sente. Ninguém mandou ele fazer comentários sobre meu peso.

Eu estava indo para Cousins, ouvindo “Please Come Home for Christmas” (a versão de Bon Jovi, é claro) e beliscando pretzels com cobertura de chocolate e granulado verde e vermelho (outro presente da minha mãe). Eu sabia que havia tomado a decisão certa. Chegaria à casa de praia rapidinho.

Acenderia a lareira, prepararia chocolate quente para combinar com os pretzels, acordaria de manhã e veria a praia no inverno. É claro que eu
gostava muito mais dela no verão, mas, para mim, no inverno a praia tinha um charme especial. Decidi que não diria a ninguém que tinha ido para lá. Quando todos voltassem de suas viagens, aquele
seria meu segredinho.

* * *
Realmente cheguei a Cousins rápido. A estrada estava bem deserta, e cheguei em um piscar de olhos. Quando entrei na garagem, deixei escapar um grito de comemoração. Era bom estar
de volta. Aquela era minha primeira vez na casa em mais de um
ano

Encontrei o conjunto de chaves extra onde sempre ficava — embaixo de uma tábua solta na varanda. Eu estava muito animada quando entrei e acendi as luzes.

A casa estava um gelo, e acender a lareira foi muito mais difícil do
que imaginei. Logo desisti e preparei um chocolate quente enquanto
esperava o aquecedor começar a funcionar. Peguei uma porção de
mantas no roupeiro e fiquei toda aconchegada embaixo delas no
sofá, com meus pretzels e minha caneca de chocolate quente.

We will always have our year • Aidan GallagherOnde histórias criam vida. Descubra agora