- 𝘛𝘸𝘦𝘯𝘵𝘺 𝘴𝘪𝘹

92 13 2
                                    

Graham : Nunca esperei por ela. Às vezes, as pessoas entram na sua vida e, de repente, você não sabe como foi capaz de viver sem elas antes.
(O Acordo)

Aidan

Eu teria preferido que alguém atirasse na minha cabeça mil vezes
seguidas com uma pistola de pregos a ter que ver os dois abraçadinhos no sofá a noite toda. Depois que eles saíram para jantar, entrei no carro e dirigi até Boston. No caminho, pensei em não voltar mais para Cousins. Dane-se tudo. Seria mais fácil assim.

A meio caminho de casa, estava convencido de que seria melhor
assim. A uma hora de casa, decidi que os dois que se explodissem, eu tinha tanto direito de estar na casa de Cousins quanto eles.

Ainda precisava limpar as calhas, e tinha quase certeza de ter visto
um ninho de vespas no cano de esgoto. Tinha um monte de coisa que eu precisava fazer lá. Não poderia simplesmente não voltar.

Por volta da meia-noite, eu estava sentado diante da mesa da cozinha, de cueca boxer, comendo cereal, quando meu pai entrou, ainda usando o terno do trabalho. Eu nem sabia que ele estava em casa.

Ele não pareceu surpreso ao me ver.

— Aidan, posso falar com você um instante? — perguntou.

— Claro.

Ele se sentou à minha frente com um copo de conhaque. Sob a luz fraca da cozinha, pareceu tão velho. Os cabelos estavam rareando no topo, e ele havia perdido peso demais. Quando tinha
ficado tão velho? Na minha mente, papai sempre tinha trinta e sete
anos.

Ele pigarreou.

— O que você acha que devo fazer sobre essa história do Noah? Quer dizer, ele está mesmo determinado a casar?

— Sim, acho que está.

— Laurel está arrasada. Ela já tentou de tudo, mas os meninos não estão ouvindo. S/n saiu de casa, e as duas não estão nem se falando. Você sabe como a Laurel é.

Aquilo tudo era novidade para mim. Não sabia que as duas não estavam se falando.

Meu pai deu um gole na bebida.

— Você acha que há alguma coisa que eu possa fazer? Pra resolver isso?

Ao menos daquela vez, eu realmente concordava com meu pai.

Mesmo sem levar em conta meus sentimentos por S/n, eu achava
que se casar aos dezenove era burrice. Para quê? O que eles estavam tentando provar?

— Você poderia parar de dar dinheiro pro Noah— falei, mas mesenti um babaca por sugerir aquilo. Então acrescentei: — Mas, mesmo se fizer isso, ele ainda tem o dinheiro que a mamãe deixou.

— Só que a maior parte está aplicada em um fundo de investimento.

— Noah está determinado. Vai se casar de qualquer maneira. — Hesitei, então acrescentei: — Além do mais, se você fizesse alguma coisa assim, ele nunca perdoaria.

Meu pai se levantou e se serviu de mais conhaque. Ele tomou um gole antes de dizer:

— Não quero perdê-lo como perdi você.
Eu não sabia o que dizer. Ficamos sentados ali, em silêncio, e bem no momento em que eu finalmente abri a boca para dizer “Você não me perdeu”, ele se levantou.

Meu pai deixou escapar um suspiro pesado e esvaziou o copo.

— Boa noite, filho.

— Boa noite, pai

Observei-o subir a escada lentamente, cada passo mais pesado do que o anterior — como Atlas carregando o mundo nos ombros.

Meu pai nunca teve que lidar com esse tipo de problema. Nunca teve que ser esse tipo de pai. Minha mãe estava sempre a postos para cuidar das coisas mais complicadas. Sem mamãe, ele era tudo que nos restara. E não era o bastante.

✰✰✰

Eu sempre fui o favorito. Era o Jacó de nosso pai, e Noah era Esaú. E eu nunca questionei isso, sempre imaginei que era assim por eu ser o mais velho.

Simplesmente aceitava o fato, assim como Noah. Mas, conforme fomos ficando mais velhos, percebi que não
era esse o motivo. A verdade era que ele se via em mim. Para nosso pai, eu era apenas um reflexo dele, de tão parecidos. Noah era como nossa mãe; eu, como nosso pai. E, por isso, era eu quem recebia toda a pressão. Era em mim que ele depositava toda a sua
energia e todas as suas esperanças.

Futebol, escola, tudo isso. Eu me esforçava muito para estar à altura de todas essas expectativas, para ser exatamente como ele.

A primeira vez em que percebi que meu pai não era perfeito foi quando ele esqueceu o aniversário da minha mãe. Papai passara o dia jogando golfe com os amigos e tinha chegado tarde em casa.

Noah e eu havíamos feito um bolo e comprado flores e um cartão.
Tínhamos arrumado tudo na mesa da sala de jantar. Meu pai havia tomado algumas cervejas — senti no seu hálito quando ele me abraçou.

— Merda, esqueci! — disse ele. — Meninos, podem colocar meu nome no cartão?

Eu estava no primeiro ano do ensino médio. Tarde para descobrir que seu pai não é um herói, eu sei. Essa foi só a primeira vez que me lembro de ter ficado decepcionado com alguma coisa que ele fez. Depois, descobri mais e mais razões para me decepcionar.

Todo o amor e todo o orgulho que eu sentia por ele se transformaram em ódio. Então comecei a me odiar, porque eu era um reflexo dele. Porque eu via a mesma coisa que ele, via como
éramos parecidos. Isso me apavorou. Eu não queria ser o tipo de homem que traía a esposa. Não queria ser o tipo de homem que colocava o trabalho à frente da família, que não dava gorjetas em restaurantes, que nunca se importava em saber o nome da faxineira.

Daí em diante, fiquei determinado a destruir a imagem de mim que ele tinha na cabeça. Não aparecia mais para nossas corridas matinais, antes de ele sair para o trabalho. Não ia mais às pescarias, nem ao golfe — de que eu nunca tinha gostado, mesmo.

E parei de jogar futebol, que eu adorava. Meu pai ia a todos os
meus jogos e sempre filmava, para assistirmos enquanto ele apontava todos os meus erros. Sempre que saía uma matéria sobre mim no jornal, ele emoldurava e pendurava no escritório de casa.

Larguei tudo para atingi-lo. Abandonei qualquer coisa que o fizesse ter orgulho de mim. Levei tanto tempo para entender.... Eu é que colocara meu pai em um pedestal. Eu tinha feito isso, não ele. E depois o desprezei por
não ser perfeito. Por ser humano.

✰✰✰

Voltei para Cousins na segunda-feira de manhã.

Mil desculpas por demorar a atualizar , bia linda está em semana de prova e tá meio complicado

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Mil desculpas por demorar a atualizar , bia linda está em semana de prova e tá meio complicado

Lembrem de clicar na estrelinha

Beijos!

We will always have our year • Aidan GallagherOnde histórias criam vida. Descubra agora