- 𝘌𝘭𝘦𝘷𝘦𝘯

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Acordei cedo no dia seguinte. Tomei banho, joguei fora os chinelos
de banho e me arrumei pela última vez no meu quarto no alojamento. Não coloquei meu anel, só para garantir; guardei-o em um compartimento na bolsa. Meu pai não era o cara mais
observador do mundo no que se referia a acessórios, por isso não era provável que percebesse, mas preferi não arriscar.

Meu pai chegou ao alojamento às dez para pegar minhas coisas. Noah ajudou. Nem precisei ligar para acordá-lo, como tinha planejado — ele apareceu às nove e meia, com café e donuts.

Parei nos quartos de algumas garotas, dei abraços de despedida e desejei um bom verão.

— Vejo você em agosto! — lembrou Lorrie.

— Temos que nos encontrar mais no ano que vem! — exclamou Jules.

Deixei para me despedir de Anika por último e chorei um pouquinho. Ela me abraçou, dizendo:

— Relaxa. A gente se vê no casamento.
Avisa a Taylor que vou mandar um e-mail para combinarmos nossos vestidos.

Ri com vontade. Taylor ia adorar aquilo... só que não.

Depois que terminamos de colocar as coisas no carro, meu pai
nos levou para almoçar em uma churrascaria. Não era superelegante, mas era legal, um restaurante frequentado por famílias, com estofados de couro e picles na mesa.

— Peçam o que quiserem, crianças — disse meu pai, acomodando-se.

Noah e eu nos sentamos de frente para ele. Examinei o cardápio e escolhi um bife simples, porque era mais barato. Meu pai não era pobre, mas definitivamente não era rico.

Quando a garçonete veio anotar nossos pedidos, meu pai pediu salmão, eu, bife, e Noah disse :

— Vou querer o filé de costela maturado a seco, ao ponto pra malpassado.

Era o prato mais caro do cardápio.

Custava trinta e oito dólares. Olhei para Noah, pensando: Ele provavelmente nem olhou o preço. Nunca precisava olhar, já que todas as contas eram pagas pelo Sr. Gallagher. As coisas seriam diferentes quando estivéssemos casados, isso era certo. Chega de gastar dinheiro com coisas bobas tipo tênis Air Jordan vintage ou filé de costela.

— Então, o que você vai fazer neste verão, Noah? — perguntou meu pai.

Noah olhou para mim, então de volta para meu pai e de novo para
mim. Balancei a cabeça bem de leve. Na mesma hora eu o imaginei
pedindo a bênção do meu pai, e nada poderia ser mais errado. Ele não poderia saber antes da minha mãe.

— Vou estagiar na empresa do meu pai de novo.

— Bom pra você. Vai se manter ocupado.

— Com certeza.

— E você, S/a ? Vai trabalhar como garçonete outra vez?

Suguei o refrigerante do fundo do copo.

— Sim. Vou conversar com meu antigo chefe na semana que vem. Eles sempre precisam de ajuda no verão, então não deve ter problema.

Com o casamento dali a poucos meses, eu teria que trabalhar o dobro... o triplo.

Quando a conta chegou, vi meu pai estreitar os olhos e olhar mais
de perto. Torci para que Noah não reparasse, mas, quando vi
que ele realmente não tinha reparado, desejei que tivesse.

                              ✩✩✩

Sempre me sentia mais próxima do meu pai quando estava no banco do carona da minivan dele, observando seu perfil, ouvindo o CD do Bill Evans. Os passeios de carro com ele eram nossos momentos mais tranquilos, em que nos sentíamos confortáveis para falar de nada ou de tudo.

Até o momento, aquela tinha sido uma viagem silenciosa.

Meu pai estava cantarolando junto com a música quando chamei:

— Pai?

— Oi?

Queria muito contar a ele. Queria compartilhar com ele minha
novidade naquele instante perfeito, quando eu ainda era sua
garotinha, no banco do carona, e ele ainda era o motorista. Seria um
momento só nosso. Eu tinha parado de chamá-lo de papai no ensino fundamental, mas, ali no carro, meu coração dizia: Papai, vou me casar.

— Nada não — falei, depois de algum tempo.

Não poderia fazer uma coisa daquelas. Não poderia contar a ele antes de contar para minha mãe. Não seria certo. Ele voltou a cantarolar.
Espere só mais um pouquinho, pai.

We will always have our year • Aidan GallagherOnde histórias criam vida. Descubra agora