• part twenty three •

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20 de Abril.
Terça, 12:07 pm.

Não sentia vontade de comer nem de fazer o almoço, de tão preocupada que eu estava. Mandei mensagem para os Srs. Smith, pedindo para tirar o dia de hoje de folga e eles permitiram. Então, eu decidi resolver esse problema, precisava pensar em tudo o que havia acontecido nos últimos dias.

Peguei meu celular e fui novamente olhar a foto do gabarito, agora com atenção. Arrastei para cima e apareceram todas as informações sobre a foto, inclusive o horário. Espera, essa foto não foi tirada da minha câmera, foi enviada para meu celular de algum jeito. Olhei melhor e vi que tinha vindo de um Iphone 12 Pro, a única pessoa que eu conheço que tem esse celular é… sem querer, acabei passando para o lado e apareceu a foto que eu e Mary havíamos tirado na casa dela quando fui dormir lá na sexta à noite. E assim eu liguei os pontos.

Vi o horário em que a foto foi passada para meu celular. Sexta à noite, às 22:43. Foi logo depois do filme terminar na casa da Mary. Eu deixei meu celular na cama dela perto do puff, e fui ao banheiro colocar a máscara, quando voltei ele estava em um lugar diferente. Foi o único momento que eu não estava perto do celular. É claro! Só podia ser isso. Foi Mary. Ela deve ter ido sexta depois da aula na sala do professor e tirado foto do gabarito. Mary pegou meu celular à noite, passou a foto do celular dela para o meu, para me acusar de ter colado na prova. Mas por quê?

Saí de casa decidida a ir falar com Mary. Ela me devia explicações. Desci as escadas rapidamente e peguei um táxi até a casa dela. Cheguei lá quando ela havia acabado de chegar da faculdade, a mesma estava saindo de seu carro quando a interceptei.

- Ah, oi, Lunna. O que faz aqui? - Ela fechou a porta do carro e eu fui até ela tentando não me irritar com sua falsidade. - Fiquei sabendo o que aconteceu. Quem poderia ter feito uma coisa dessas?

- Não se faça de inocente, Mary, eu sei que foi você.

- O quê? Eu? - Ela apontou para si mesma. - Como pode me acusar disso? Eu sou sua amiga, nunca faria isso.

- Ah, não? Então por que tem uma foto do gabarito da prova no meu celular enviado do seu?

- Alguém deve ter enviado para você e você nem notou.

- Para de mentir! A única pessoa que teve acesso ao meu celular foi você, naquela hora em que eu fui ao banheiro, você aproveitou para mandar a foto pro meu celular.

- Eu não estou mentindo, e além do mais, você não tem provas.

- Eu nunca pensei que você fosse falsa a esse ponto. Por que você fez isso? O que tem contra mim?

- O que eu tenho contra você, Lunna? - Ela deu uma risada falsa. - Você quer mesmo saber? Tudo! Você é sempre perfeitinha, os professores te amam, você acerta tudo, tira sempre a nota máxima, é a nerd da sala, todos gostam de você porque você ajuda eles. Eu sempre me esforcei para ser a mais inteligente, mas você sempre passou na minha frente, por isso eu tive que ficar com a ser a mais popular. - Ela respirou fundo. Eu estava chocada. - Você sempre se achou superior e por isso eu tenho raiva de você. Não aguento você sendo melhor que eu. Ok, sim, eu fiz aquilo, eu fiz você ser suspensa. Pronto, falei. Satisfeita?

- O quê? Mary, eu… eu não sou superior a você. Eu não sou melhor do que você e nem que ninguém. Eu não acredito que você acha isso de mim. Eu sempre achei que você tinha a vida perfeita, sempre tinha tudo o que queria, sempre tinha todos ao seu redor. Eu não sabia que você se sentia assim. Por que não me falou? Nós poderíamos nos ajudar.

- Lunna, não venha com o seu discursinho bobo de quem nunca faz nada errado. Eu não quero sua ajuda. Você queria que eu confessasse. Pronto, já falei que fui eu. O que você quer mais? - Sua expressão era de raiva. - E também, tudo isso por causa de uma nota? De uma prova? Você pode muito bem recuperar isso depois, porque afinal, você é a nerd perfeitinha.

- Mary, me desculpa se em algum momento eu te magoei ou fiz você se sentir mal. Eu só queria saber… - Fiz uma pausa. - ...por que você se rebaixou a esse ponto? Por que você se martiriza tanto? Você não precisava ter feito isso. Você não tem que fingir ser outra pessoa. Não precisa prejudicar os outros para atingir seus objetivos.

- Sim, eu precisava. Eu precisava. Me sinto muito melhor depois disso. Agora, por favor, para de falar, estou sem paciência para você.

- Infelizmente vou ter que contar o que descobri para a diretora.

- Vai, Lunna! Conta! Acaba mais ainda com a minha vida, faz o que você quiser! - Mary gritou com raiva e saiu pisando forte até entrar em sua casa.

Eu saí dali, andando por alguns quarteirões, pensando em tudo o que Mary tinha me falado. Eu ainda estava em choque com tudo aquilo.

Decidi voltar a pé para casa. Era longe e demoraria para chegar, mas eu precisava pensar.  Eu só queria poder ajudar Mary, mas ela não aceita de jeito nenhum. Jesus, por favor, fala com ela, faz ela perceber que tem valor, que ela não precisa fazer nada para ser melhor que os outros. Ela precisa saber que ela é ótima do seu próprio jeito e não do que os outros impõem. Tira a inveja do coração dela, Senhor. Eu sei que Mary é uma pessoa boa, ela só precisa perceber isso, ela precisa de pessoas que vão a ajudar. Eu a perdoo pelo que ela fez, mas por favor, ajuda Mary.

E assim eu cheguei em casa depois de quase duas horas andando, passei o caminho inteiro conversando com meu Deus, o que me fez me sentir muito melhor. Tomei um banho quente e comi uma fruta. Sentei no sofá e liguei a televisão para assistir algo, mas a minha mente só pensava no que eu ia falar amanhã para a diretora. Eu me sentia mal pela Mary, mas falar a verdade é o certo a se fazer.

Continua...

I still need youOnde histórias criam vida. Descubra agora