• part twenty four •

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21 de Abril.
Quarta, 10:05 am.
York University, Toronto.

Eu andava pelos corredores da faculdade olhando para todos os lados. Caminhava apressadamente em direção à sala da diretora. Quando cheguei ao lado da porta em que eu iria entrar, respirei fundo e tentei não ficar nervosa.

- Olá, diretora Benson, posso entrar? - Falei depois que abri a porta lentamente colocando minha cabeça por ela.

- Harper? Entra. - Ela falou enquanto mexia em alguns papéis em sua mesa. - O que faz aqui? Você não está de suspensão?

- Sim e é exatamente sobre isso que vim falar aqui.

- Eu não posso fazer mais nada por você, Lunna, você levou a suspensão pelo que fez.

- Não é isso, Sra. Benson, eu descobri o que aconteceu.

- Prossiga. - Ela começou a prestar atenção em mim.

- Não fui eu quem tirou aquela foto. Uma aluna entrou na sala do professor na sexta de manhã e tirou a foto do gabarito, pelo seu celular Iphone 12 Pro, poucas pessoas têm esse celular, inclusive. Analisando as informações da foto no meu celular deu para concluir isso, a foto foi enviada a mim na sexta à noite, eram mais de 22:00. Eu estranhei porque nunca deixo ninguém mexer em meu celular, então lembrei que sexta de noite eu estava na casa da… de uma amiga e me distanciei do celular enquanto ia ao banheiro. Provavelmente ela pegou meu celular e enviou a foto do celular dela para o meu.

- E quem é essa sua amiga?

- Hã… então… e-ela é… é Mary. - Abaixei a cabeça.

- Você tem provas?

- Tenho sim. - Mostrei as informações que obtive da foto do gabarito e também da foto minha com Mary, para provar que estava com ela na sexta à noite.

- Bem que eu vi Mary sair daqui mais tarde do que o normal na sexta. - A diretora estava analisando a situação. - Isso é um caso sério, Lunna. Vou ter que tirar sua suspensão e devolver sua nota, e ter uma séria conversa com Mary, existem altas probabilidades dela perder sua nota e ser suspensa por um mês.

Não, diretora, por favor, não faça isso. Não tire a nota dela nem a suspense. Por favor, Mary me prejudicou muito com isso, mas eu não quero que nada de mal aconteça com ela, não quero prejudicá-la.

- Tudo bem, Lunna. Vou pensar no seu caso. Mas ela irá levar no mínimo uma advertência.

- Muito obrigada, senhora Benson. - Me levantei e fui até a porta, saindo e fechando a porta logo em seguida. Pronto, sensação de dever cumprido.

[...]

Cheguei em casa e fui fazer o almoço de hoje. Depois de terminar, dei uma arrumada na casa e me sentei para comer minha comida. Assim que terminei, lavei a louça e fui tomar um banho. Fiz uma oração agradecendo por ter dado tudo certo. Pensei que nem conseguiria falar nada pra diretora, que sairia de lá correndo de nervosa. Eu não podia deixar Mary ser suspensa por um mês, isso provavelmente pioraria ainda mais a situação dela. Espero ter feito a coisa certa.

Saí do banheiro já vestida com a roupa que iria trabalhar. Arrumei uns fios rebeldes, penteando meu cabelo. Verifiquei se estava tudo dentro da minha bolsa e saí do apartamento.

[...]

Agora, havia finalmente chegado a hora do intervalo, na metade do expediente. Eu estava sentada em um canto escondido da biblioteca, lendo um livro e comendo uma pera. Vez ou outra eu ria com alguma situação engraçada, ou morria de fofura por alguma cena romântica do livro que estava lendo. Ainda bem que ninguém estava me vendo, se não pensaria que eu era doida.

Quando acabou meu tempo de descanso, levantei, guardei o livro e me alonguei para voltar a trabalhar. Ainda restava o resto da tarde etiquetando, organizando e limpando.

[...]

Voltei para meu apartamento, também chamado de meu mundo, e me joguei no sofá. Fiquei ali vegetando por uns 30 minutos, apenas pensando em coisas aleatórias. Assim que voltei pra Terra, me levantei e troquei de roupa. Comi algo e sentei no sofá de novo para assistir um pouco de televisão.

Passei, passei e passei todos os canais, e não encontrei nada de interessante para ocupar minha mente. Peguei meu celular e saí de casa, de roupão e pantufa, subi as escadas indo até o terraço. Já eram 19:00, então o céu já estava escurecendo. Encostei no muro e fiquei olhando a paisagem.

Tirei o celular que eu havia guardado no bolso do roupão e fui até os contatos. Parei no nome do meu pai e cliquei em seu contato, logo aparecendo a foto dele com sua nova mulher. Respirei fundo. Ele parecia feliz. Muito feliz. E a mulher também. Senti saudades de minha mãe. Ela fazia tanta falta. Uma lágrima saiu de meus olhos, mas logo a limpei. Eu queria ligar para meu pai, saber como ele está, fazer as pazes com ele de novo. Mas ele não atende minhas ligações. Eu ainda estou chateada por ele nunca ter me falado estar com outra pessoa antes de se casar. E ele provavelmente estava brabo comigo por não ter ido em seu casamento. Cliquei em seu número e começou a chamar. Ninguém atendeu. Suspirei. Meu pai continua não querendo falar comigo e isso me deixa triste. Liguei novamente. Mais uma vez, chamou várias vezes e nada. Outra lágrima escorreu por minhas bochechas. Fiz uma terceira tentativa. Continuei apenas ouvindo o som da chamada.

De repente eu sinto alguém se aproximar. Virei para ver quem era e me deparei com Finn, ele veio até mim e parou ao meu lado.

- O que te faz chorar?

- Eu não estava chorando. - Falei passando a costa da mão no rosto.

- Imagina se estivesse. - Eu dei uma risada anasalada.

- É meu pai. Ele não quer falar comigo.

Porque você não foi no casamento dele, né? - Eu assenti. - Foi por minha causa.

- Claro que não, Finn… quer dizer… você precisava de mim, eu não podia te deixar. - Finn suspirou. - Meu pai precisa entender que eu simplesmente não pude ir.

- Às vezes algumas coisas não têm explicações, elas não precisam ser faladas, apenas entendidas, sentidas. Eu sei muito bem o que é isso, vocês culpam um ao outro pelo o que aconteceu com sua mãe. E eu não te culpo por isso, eu também sou assim e não consigo mudar. A diferença é que foi você quem me falou para parar de me culpar e você está fazendo isso agora consigo mesma. - Ele virou para o horizonte. - Quando não dá para resolver o problema, você apenas aprende a conviver com ele.

- Não deveria ser assim. - Olhei para onde Finn estava olhando. - Eu não queria que isso tivesse acontecido. Eu só queria que ele me atendesse… - Outra lágrima escorreu por meu rosto.

Finn percebeu que minha expressão não era das melhores, ele se aproximou de mim e me abraçou de lado. Eu limpei minhas lágrimas e recostei minha cabeça em seu ombro. E ficamos assim por um bom tempo, ambos admirando a bela paisagem que havia em nossa frente. E eu sou muito grata a Deus por ter conhecido Finn e por poder ajudar ele. Parece que ele me retribui isso, pois me faz um bem enorme. É estranho pensar em como uma pessoa pode fazer a diferença em sua vida, assim como Finn fez comigo. Obrigada Jesus, por cuidar de cada detalhe.

Continua...

I still need youOnde histórias criam vida. Descubra agora