Toronto, Canadá.
17 de Janeiro.
Sábado, 15:12 pm.O dia estava nublado e eu estava no meu quarto morrendo de frio por ser inverno e estar nevando lá fora. Toronto é conhecida por seus invernos rigorosos. Fiz um chocolate quente e coloquei uma luva e uma touca para ir na minha sacada ficar olhando a neve cair. Sim, eu gosto de ficar observando as pessoas passarem pela rua que nem uma idosa.
Eu estava na sacada do meu apartamento tomando minha deliciosa bebida de chocolate quando vejo um homem passando pela calçada do meu prédio. Ele estava todo encapuzado e andava rapidamente de cabeça baixa. Eu estava um pouco longe mas dava para perceber que a expressão em seu rosto não era das melhores. Eu já havia visto aquele homem, ele é meu vizinho, porém o vejo poucas vezes pois o mesmo não sai muito de casa. Eu achava ele estranho e antipático, nunca dava bom dia e nem olhava na minha cara. Parecia ser uma pessoa bem reservada. Mas tudo bem né, cada um tem o seu jeito de ser.
Terminei meu chocolate quente e entrei passando pela porta da sacada e fechando a mesma para não entrar frio em casa. Coloquei minha xícara na pia decidida a lavar depois, pois hoje era sábado e eu precisava aproveitar meu final de semana.
Me sentei na cama colocando minha Bíblia no colo. Dei play na minha playlist de "Worship Pads" e escolhi um capítulo para ler. Eu amava ficar no quentinho lendo a Palavra e conversando com Deus, era o melhor momento do dia. Um momento de reflexão. Um momento para esquecer dos problemas e do mundo à nossa volta e apenas sentir o abraço aconchegante de Jesus.
Terminando meu devocional, fui na minha prateleira e escolhi um livro para ler. Decidi ler um romance por dois motivos: primeiro porque eu amava e segundo porque o livro que eu havia lido antes fora de aventura. Então agora era vez de um bom romance.
Depois de um bom tempo lendo, eu decidi fazer um café. Fui até a cozinha, abri o armário e me deparei com ele vazio. Meu Deus, eu preciso fazer compras urgentemente! - pensei. Coloquei um casaco bem quentinho, peluciado por dentro e com pelinhos na touca, era meu casaco preferido. Coloquei minha bota também peluciada por dentro e sai do apartamento.
No caminho até o mercado, cumprimentei um casal de velhinhos que moram numa casa não muito longe do meu prédio e eu sempre passava por eles no caminho pra faculdade. Logo cheguei no mercado e comprei todas as coisas que estava precisando em casa, precisava abastecer a geladeira. Comprei de tudo, frutas, verduras, legumes, biscoitos, arroz, feijão, macarrão, leite vegetal e obviamente não poderia esquecer do café que era o mais importante. E não, eu não comprei carne porque sou vegetariana.
[...]
Chegando no meu prédio, passei pela portaria e subi as escadas com minhas sacolas biodegradáveis nas mãos, que, inclusive, estavam muito pesadas, porém consegui chegar até o segundo andar, só faltavam mais dois já que eu morava no quarto andar. Comecei a subir a terceira parte da escadaria quando vejo alguém descendo com pressa, ele passou tão rápido batendo em mim e fazendo eu derrubar minhas sacolas.
— Ei! — falei e olhei para a pessoa.
Quando olhei nos olhos do sujeito vi que era meu vizinho. Ele estava com o rosto vermelho parecia ter chorado e seu olhar era de tristeza. Ele olhou para mim como se pedisse desculpas e rapidamente voltou a descer as escadas. Que cara estranho, o que será que aconteceu com ele? - pensei. Juntei as coisas que haviam caído no chão e voltei a subir as escadas.
Cheguei no meu apartamento e guardei as compras. Fiz um café e enchi uma xícara com o mesmo. Sentei no sofá e liguei a televisão para ver se estava passando algo de bom. Comecei a passar pelos canais e parei em um que passava um programa sobre animais e a natureza. Fiquei assistindo até meus olhos pesarem e eu dormir no sofá mesmo.
[...]
Acordei com dores nas costas por ter dormido toda torta no sofá. Fui até a cozinha e tomei o café da manhã enquanto fazia minha oração matinal. Ainda estava frio, porém o sol estava brilhando lá fora, então decidi dar uma volta de bicicleta. Lavei a louça e coloquei uma roupa apropriada para me mexer. Saí do apartamento com minha bicicleta e fechei a porta. Quando me virei para descer as escadas, percebi que a porta do apartamento da frente onde morava meu vizinho estranho estava entreaberta. Deixei minha bicicleta encostada na parede e fui até lá.
— Oi? Alguém aí? — falei batendo fraco na porta. Ninguém respondeu. — Tudo bem? — Tentei novamente. Nenhum sinal de vida.
Decidi abrir um pouco a porta para ver o que estava acontecendo. Quando percebi já estava dentro do apartamento. Continuei chamando pelo homem, mas nada dele.
— O que você está fazendo aqui? — de repente uma voz apareceu atrás de mim e eu dei um pulo de susto.
— Oh, me desculpe, eu vi a porta entreaberta e fiquei preocupada.
— Ok, agora já pode ir. Eu só fui lá embaixo buscar uma coisa e já voltei.
— Ok, tudo bem. — falei saindo do apartamento. — A propósito, qual o seu nome?
— Finn. — falou enquanto segurava a porta para fechá-la.
— Lunna, prazer em te conhecer. — sorri.
Ele deu um sorriso seco e fechou a porta me deixando do lado de fora. Cara estranho - pensei.
Peguei minha bicicleta e desci as escadas. Enquanto pedalava não saia dos meus pensamentos o que teria acontecido com meu vizinho. Ele parecia uma pessoa solitária e triste. Na outra vez que o encontrei ele parecia estar chorando. Eu precisava descobrir, quem sabe ele estivesse precisando de ajuda.
Pedalei por algumas ruas sentindo o vento gelado batendo em meu rosto. O sol estava deixando ainda mais lindas as paisagens de Toronto. Parei em uma beirada de rio e encostei minha bike numa árvore. Fui até o deck e me apoiei no murinho de madeira que havia ali.
Observar aquela paisagem me trazia a lembrança da minha mãe, nós costumávamos vir aqui todo domingo, andando de bicicleta e fazendo piqueniques. Bons tempos - pensei. Esse lugar me traz boas lembranças como também me faz ter saudades da minha mãe, nós éramos muito próximas, mas infelizmente ela morreu há dois anos num acidente de carro, eu sofri muito naquela época, fiquei totalmente devastada. Desde então eu tenho vindo aqui quando sinto falta dela. Ela amava este lugar, ela amava estar entre a natureza, e eu meio que herdei isso dela.
Depois que ela se foi ficou apenas eu e meu pai, mas o mesmo não era muito presente na minha vida. Nossa relação não era das melhores. Inclusive, faz algum tempo que não o vejo, como sempre muito ocupado no trabalho para ter tempo para mim.
Há um ano eu decidi sair da casa do meu pai e morar sozinha, já que não fazia mais sentido ficar lá naquela casa.
Depois de alguns minutos agradecendo a Deus por aquele lugar incrível existir, peguei minha bicicleta e voltei pelo mesmo caminho que eu havia ido, até meu prédio.
Continua...
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I still need you
SpiritualLunna Harper sonha em ser psicóloga e ajudar as pessoas com isso. Há dois anos ela perdeu sua mãe e a relação com seu pai não é das melhores. Ela encontrou conforto em Jesus, que a ajudou a passar por tudo isso. Finn Lewis, o vizinho do apartamento...