• part thirteen •

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03 de Fevereiro.                                                  Terça, 10:02 am.                                                  York University, Toronto.

O sinal para o intervalo havia acabado de tocar e eu estava em meu armário guardando os livros das aulas passadas e pegando os das próximas aulas. Peguei o último livro e fechei a porta do armário, que liberou minha visão do corredor fazendo eu acabar vendo Mary beijando seu namorado e se despedir dele. Dei meia volta e segui pelo caminho oposto, mas Mary havia me visto e estava vindo atrás de mim.

- Oi, Lunna! Tudo bem? Você estava estranha ontem na aula que tivemos juntas e hoje também na primeira aula, o que aconteceu?

- Você se importa?

- Claro que me importo, o que deu em você? - Era nítido que ela estava sendo falsa.

- Eu me pergunto o mesmo sobre você, o que foi aquilo quarta passada?

- Aquilo o que? - Olhei para Mary incrédula.

- Me poupe, Mary, por favor. - Bufei. - Você tá estranha, sei lá.... diferente.

- Diferente, por quê? - Continuei andando.

- Você e as meninas praticamente me humilharam.

- Olha, Lunna, não foi nossa intenção.

- Tá bom, Mary, já entendi. - Entrei na sala da minha próxima aula, me afastando de Mary, mas mesmo já estando um pouco longe, consegui escutar:

- Não é nossa culpa que você é uma estranha nerd que não tem namorado. - Ela achou que eu não havia escutado isso e saiu da minha vista, mas eu havia escutado muito bem.

Então era isso que ela achava de mim? Uma estranha nerd? E daí que eu não tenho namorado? Tem algum problema nisso? Tentei parecer que eu não me importava com o que Mary falou de mim, mas a verdade é que aquilo me atingiu de uma forma que eu não esperava. Logo vindo da Mary, a única "amiga" que eu tinha na faculdade, com certeza eu não esperava isso dela. Decidi ficar na sala até a aula começar pois ainda era intervalo, não estava com vontade de encarar aquela multidão lá fora.

[...]

Cheguei em casa com dor de cabeça. Eu estava com um aperto no coração também. Sabe quando o dia está meio bad, e você fica triste sem motivo algum? Era exatamente assim que eu estava, desanimada e com uma preguiça de fazer tudo. Jesus, o que eu faço? - pensei. Percebi que uma lágrima saiu dos meus olhos involuntariamente. Fui até a cozinha para comer alguma coisa, mesmo não tendo vontade para nada.

Meu almoço de hoje foi a comida requentada de ontem. Depois de almoçar, fui tomar um banho pois já estava quase na hora de sair para trabalhar. Durante o banho eu comecei a orar e conversar com Jesus, contei para ele tudo o que estava acontecendo. Contei sobre como minha cabeça estava uma bagunça por causa da questão do meu pai, da Mary, e Finn também. Terminei o banho, me sequei e coloquei a primeira roupa que vi no armário.

Eu amava conversar com Jesus como se ele estivesse andando comigo do meu lado no caminho para o trabalho, e era isso que eu estava fazendo agora. Era como se Ele fosse meu melhor amigo - o que é verdade - e entendesse tudo e sempre me ajudasse, seja Ele próprio ou colocando alguém para fazer isso - o que é verdade também.

- Cheguei na biblioteca e cumprimentei os Srs. Smith, os quais perceberam minha expressão triste e desanimada.

- Você está bem, Lunna? - Sra Smith questionou.

- Estou sim.

- Tem certeza?

- Sim, Sra. Smith, não precisa se preocupar. - Sorri sem mostrar os dentes e comecei meu trabalho. Fui para o meio dos livros e iniciei a missão de organizá-los cada um em seu lugar.

[...]

Terminei meu expediente e fui para casa. Eu estava muito cansada pelo tanto de trabalho que tive hoje somado ao tanto de coisa que tinha na minha cabeça. Entrei em meu apartamento e passei um café quentinho. Depois de tomar duas xícaras de café, decidi ir até o terraço. Acho que lá era meu lugar preferido do prédio.

Subi as escadas até lá e como já eram por volta das 18:00, já estava escurecendo e ficando frio. Mas isso não me impediu de permanecer lá observando a cidade e admirando aquela vista linda. Uma das coisas que eu mais gosto de fazer é subir aqui e sentir a brisa em meu rosto, observar a movimentação das ruas, as árvores se mexendo, as luzes da cidade. Muitas vezes eu venho aqui para ver o pôr do sol, eu acho a coisa mais linda! Deus é o melhor pintor do mundo mesmo. Mas infelizmente hoje não foi um dia ensolarado, então o céu estava apenas cinza, como meu humor.

E lá estava eu, pensando na vida, ou às vezes nem pensando em nada. Apenas perdida em pensamentos, concentrada em olhar para algum ponto.

- Pensando na vida, é? - Finn me tira do transe.

- Sim. - Respondi baixo e Finn parou ao meu lado.

- Gosto de vir aqui também, me ajuda a pensar se estou vivendo ou apenas existindo, na maioria das vezes eu chego a conclusão que estou só existindo mesmo. - Ele fala me fazendo rir.

- Eu gosto de vir aqui apenas para pensar em nada, já tem muitas coisas na minha cabeça. - Falei.

- Aconteceu alguma coisa? Parece que você está meio... triste. Logo você... a senhorita feliz. - Soltei uma risada anasalada.

- Aconteceram muitas coisas.... - O silêncio tomou conta. Hesitei em contar o que exatamente havia acontecido. - É meu pai... e-ele vai se casar de novo. E eu meio que não reagi muito bem a isso. E tem também a Mary, ela me decepcionou muito.

- Te entendo... problemas com os pais e amigos que na verdade não são amigos... já passei por isso. Mas usando as palavras que você me disse esses dias, tudo acontece por algum motivo, não é mesmo? Só tenta não surtar e respira, vai ficar tudo bem... - Finn falou se aproximando de mim. Ele riu pensando no que havia acabado de falar. - Olha quem está falando, logo a pessoa mais problemática da história. - Eu ri também.

- Ok, vou tentar não surtar.

- Bom mesmo, porque já tem gente surtada de mais aqui. - Finn apontou para si mesmo.

Agora estávamos os dois ali em silêncio, olhando para o horizonte. Ninguém sabia o que se passava na cabeça um do outro, mas nos entendemos mesmo assim. Era como se só o silêncio bastasse. Estar na companhia um do outro, ouvindo apenas as nossas respirações e o barulho da cidade, já nos ajudava, nos fazia bem. 

Continua...

I still need youOnde histórias criam vida. Descubra agora